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Catadores de materiais recicláveis discutem desafios da categoria, como a valorização da profissão

"A reciclagem não foi inventada por nós, mas para ganhar dinheiro” (Foto: Marco Aurelio Prates)
“A reciclagem não foi inventada por nós, mas para ganhar dinheiro” (Foto: Marco Aurelio Prates)

Os catadores comemoram. Em 2016 completa-se 15 anos do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), que organiza cerca de 90 mil catadores de todos os estados do país e “é um dos movimentos mais expressivos da luta urbana”, afirma Alex Cardoso, da equipe de articulação no MNCR.

Para marcar o aniversário, o movimento realizou a 7ª Expo Catadores entre os dias 28 e 30 de novembro, em Belo Horizonte. Além de nomes internacionais para discutir de uma política de resíduos para a Améria Latina, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareceu à abertura do evento. Outro destaque foi o lançamento do documentário “Catador@s de História”, dirigido por Tânia Quaresma.

Brasil de Fato: Qual o balanço dos 15 anos do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis?

Alex Cardoso: Antes a gente era tudo, menos catadores, não nos reconhecíamos como profissionais. A valorização da profissão é a primeira conquista que o movimento tem. A luta principal é que a gente faça o nosso povo ser incluído. Em 2013 teve o reconhecimento legal da profissão e se iniciou um processo de articulação nacional que culminou na criação de várias leis, na construção de estruturas para os catadores se organizarem em cooperativas. Criamos então um cordão de apoiadores pelo Brasil, reunindo setores do campo acadêmico, movimentos populares e parte da sociedade. “Estamos aqui e sempre estivemos, mas queremos continuar de uma maneira diferente”, dizemos à sociedade e as pessoas entenderam. A importância dos catadores na sociedade já foi aceita, agora o debate é sobre a sua valorização. Porque reconhecidos nós já conseguimos estar.

Vocês têm uma proposta que é a reciclagem popular. Pode falar sobre ela?

A reciclagem não foi inventada por nós, mas sim para ganhar dinheiro. Hoje, 89% do trabalho está em fazer a coleta, levar o material até a cooperativa, separar, armazenar, comercializar. Mas a indústria vem, coloca esse material em seus caminhões e fica com 90% do lucro. Ou seja, quem lucra é quem menos trabalha. A reciclagem popular é uma proposta para reverter isso, uma reciclagem inclusiva com a participação dos catadores, dos governos, das empresas produtoras de resíduos e da população. Usar os resíduos para gerar trabalho e economia.

As empresas utilizam hoje o que vocês chamam de “logística reversa”. O que é isso?

Elas pensam a partir da produção e do lucro, e não se preocupam em como o planeta vai absorver os resíduos. Uma garrafa pet, por exemplo, é feita de três tipos de plástico, um para o corpo da garrafa, outro para a tampa, outro para o rótulo. E isso dificulta muito. É preciso se preocupar com esse produto no final da cadeia, com uma maior facilidade para a reciclagem.

Quais são as dificuldades de melhorar o processo de reciclagem no Brasil?

A matéria reciclada no Brasil é uma das mais caras do mundo. Nós somos um país rico em natureza, então é muito mais fácil produzir o plástico através do petróleo do que trabalhar a parte da resina, dos flakes e dos materiais gerados. O material reciclado é tributado novamente e, por causa da exploração dos catadores, fica ainda mais caro.

As normas da Política Nacional de Resíduos Sólidos (2010) não mudaram essa realidade?

A política trouxe boas regras como acabar com o lixão e organizar o processo de reciclagem a partir dos catadores, mas as decisões ficaram nas mão de ninguém. Empresas ganham dinheiro para coletar resíduos e levar ao lixão, os prefeitos pagam, as empresas devolvem esse dinheiro em campanha política. Ficou todo mundo certo e só a gente, os catadores, excluídos do processo. O Ministério Público não tem força de fazer essa política ser aplicada e como tem muito lucro envolvido, a lei acaba não se efetivando. Mas muita coisa avançou. Catadores se organizaram, cooperativas se estruturaram, recursos foram mobilizados para isso. Mas quando eu olho para o montante de um milhão de catadores e vejo que apenas 20% estão estruturados, vejo que essa política tem que avançar muito para ser satisfatória. Nós comemoramos muito quando se conquista algo, principalmente uma lei, achando que aí está a salvação. Só que esse é só mais um passo. A gente venceu só mais esse degrau, mas para efetivar vão ser muitos outros inimigos.

Fonte: Brasil de Fato

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