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Mídia dedica 95% de seu espaço ao agronegócio e 5% a técnicas sustentáveis, dadas como “alternativas” ou “exóticas”. Em congresso de agroecologia, pesquisadora destaca reportagens da RBA

Brasília – Alternativa mais viável para produzir alimentos livres de agrotóxicos e transgênicos para todos dentro de uma perspectiva de proteção ao meio ambiente e criação de emprego e renda para pequenos agricultores, a ciência agroecológica é ignorada pelos meios de comunicação. O agronegócio, baseado na monocultura em grandes extensões de terra, com uso intensivo de insumos químicos e biotecnológicos, tem 95% do espaço nos meios de comunicação. Já a agroecologia fica com apenas 5%.

Os dados são da pesquisa A Agroecologia e a Mídia, realizada na pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Depois de ter constatado que o tema é abordado principalmente em sites de organizações dedicadas ao estudo da agroecologia, a pesquisadora Raquel Lucena de Paiva analisou oito sites jornalísticos de maior representatividade ou audiência e outros com perfil que ela considera “contra-hegemônico”. O recorte teve como objetivo analisar os veículos que não segmentados por tema, para observar a representação da agroecologia junto ao público não especializado ou envolvido com o assunto.

Raquel pesquisou sites do Brasil de FatoCarta Maior, Rede Brasil Atual (RBA), Século DiárioFolha de S.PauloO GloboGazeta Online e Estado de Minas.

“Ao comparar a frequência com que as palavras ‘agroecologia’ e ‘agronegócio’ foram citadas nos sites pesquisados, verifiquei que, do total aferido, 95% das matérias foram relativas ao agronegócio e apenas 5% à agroecologia”, disse.

De acordo com ela, que tem graduação em Jornalismo, o chamado jornalismo hegemônico dá voz aos agentes institucionais ligados aos governos, empresas e universidades, enquanto as fontes populares se fazem presentes em ações dispersas, dissociadas de movimentos sociais.

“As disputas relacionadas à ocupação do território agrícola ocorrem em diversas arenas, entre elas, as disputas discursivas observadas na mídia. A análise da representação da agroecologia pela mídia tem revelado que, ao lado da relativa invisibilidade, o tema ainda é tratado como alternativo e até exótico. A gente percebe também a subordinação do conceito à dimensão econômica”, disse Raquel.

Os veículos que mais produzem conteúdo sobre o tema, por ordem, são Brasil de FatoCarta Maior, Rede Brasil Atual (RBA) e Século Diário, do Espírito Santo. Nos dois primeiros, predominam artigos assinados por estudiosos e militantes no tema. No quesito reportagens, o destaque ficou para a RBA.

Para a pesquisadora, a ação em rede entre os produtores de conteúdo positivo para o movimento agroecológico e o jornalismo contra-hegemônico, como o exercido pela RBA, têm contribuído para a propagação de conceitos “fora da bolha” de informações compostas por adeptos da agroecologia.

Raquel, que vai continuar a pesquisa, apresentou seu trabalho nesta terça-feira (12), numa agenda de múltiplos eventos em sua área, que reúne em Brasília, de hoje a sexta-feira, o 6º Congresso Latino-americano de Agroecologia, o 10º Congresso Brasileiro de Agroecologia e o 5º Seminário de Agroecologia do Distrito Federal e Entorno.

Na solenidade de abertura, pela manhã, a agroecologia foi destacada como alternativa para produção de alimentos limpos para todos em uma perspectiva ambiental e de promoção da cidadania, mas também como espaço de resistência ao avanço de políticas que retiram os direitos dos trabalhadores e de populações tradicionais. O desafio é chegar ao grande público consumidor alcançado pelas mídias comerciais.

Fonte: Rede Brasil Atual

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