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Sem ter voz na mídia tradicional, jovens da periferia das grandes cidades brasileiras usam a internet para produzir jornalismo cidadão, colaborativo e que retrata a realidade de suas comunidades

Por Marcela Reis, do Observatório

“A comunicação periférica é uma comunicação distinta, é diferente de outros estilos jornalísticos: o que vai contar muito é a sua vivência como morador que conhece e está inserido naquela realidade. Isso dá mais crédito ao conteúdo publicado, porque você simplesmente conta o que está presenciando”.

A fala do jornalista Danilo Cardoso, da Revista NNA, que foi criada em 2013 na zona sul de São Paulo, dá os contornos de um fenômeno que tem avançado nas periferias das grandes cidades brasileiras. Cansados de ver suas comunidades retratadas pela mídia tradicional de forma parcial e muitas vezes preconceituosa, jovens têm aproveitado as potencialidades das mídias digitais para produzir eles mesmos o jornalismo que representa  sua vida cotidiana.

“A mídia tradicional usa a comunidade como cenário de filme, onde a Polícia Militar entra para combater o tráfico e prender bandido e marginal. Nós tivemos a ideia de contrapor essa imagem negativa da periferia e mostrar que o que realmente acontece ali”, conta Enderson Araújo, criador do Mídia Periférica. O veículo nasceu em 2010, na Comunidade Sussuarana em Salvador (BA), e tem formalmente apenas três jornalistas ativos.

O contexto em que surgem estes novos veículos é de grande concentração na propriedade dos meios de comunicação do Brasil. Existem 34 redes de TV, com 1511 veículos ligados a elas e a seus respectivos grupos afiliados no país – os dados são do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação. A Globo, o SBT, a Band e a Record monopolizam 55% desses veículos, ou seja, apenas quatro redes detêm mais da metade dos canais de comunicação televisiva.

De acordo com o artigo 12 do decreto-lei 236/67, uma mesma entidade só pode deter no máximo de 10 concessões de radiodifusão de sons e imagens (TV aberta) em todo o território nacional. Na prática, não é o que acontece no Brasil: as grandes corporações tiram a chance da comunicação das comunidades ser transmitida em larga escala.

Sem espaço, a juventude encontrou na internet sua chance de fazer comunicação da periferia para a periferia. “O nosso papel é conscientizar o valor do jornalismo dentro da periferia através das narrativas de vivência. Sempre trabalhando valores culturais e ressaltando os problemas de gestão pública da área que cobrimos”, explica Cardoso.

Democratizar a produção da informação

“A comunicação é um direito humano, e a mídia da periferia deve formar, além de informar. A comunicação da juventude para a juventude é importante e é feita com uma linguagem que não é artesanal como o jornalismo tradicional, mas simples e direta”, afirma Araújo.

O jornalismo periférico é horizontal, colaborativo, democrático e de rua. “É uma chance de democratizar a informação a partir do momento em que qualquer pessoa tenha acesso à internet – mas não apenas como leitor ou espectador, também colaborando na produção do material publicado”, conta Cardoso.

Esse tipo de jornalismo pode ser resumido em uma palavra: cidadão. Pessoas comuns, sem terem necessariamente formação jornalística, participam do processo de apuração, reportagem, análise e veiculação. É a comunicação entre pessoas inseridas na realidade da periferia.

Araújo conta que os moradores da comunidade agora procuram o Mídia Periférica para apontar problemas e pedir ajuda. O veículo, além de informar, serve como ponte entre a população e governo, reivindicando melhores condições dos serviços públicos e mudanças efetivas.

A periferia ganhou uma chance de ser representada como verdadeiramente é e de mostrar sua cultura, suas demandas e quebrar os estigmas impostos. Para os entrevistados, a comunicação periférica é uma reinvenção do jornalismo tradicional e uma alternativa política mais democrática, justa e que respeita os direitos humanos.

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