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Dezessete jovens de oito diferentes etnias integram a iniciativa e lançam o boletim de áudio Wayuri, que será distribuído via radiofonia,internet, whatsapp e rádios AM e FM

Um grupo de jovens indígenas na Amazônia lançou esta semana o Wayuri, boletim informativo dos povos do Rio Negro. Para produzir o programa, correspondentes indígenas das calhas dos rios Uaupés, Içana e Jurubaxi gravam notícias em áudio e enviam por whatsapp e radiofonia para os editores do boletim Lucas Tairano e Claudia Wanano, que vivem em São Gabriel da Cachoeira. Aproveitando a internet pública via satélite das escolas nas Terras Indígenas, o sistema de radiofonia e compartilhando arquivos de seus celulares através do ShareIT (app de transferência de arquivos ultra veloz), os índios driblam a falta de infraestrutura de comunicação para dar maior alcance às suas vozes. Vale até enviar pendrive com o áudio gravado pelo parente que está indo da aldeia para a sede do município de São Gabriel da Cachoeira, onde será editado o boletim Wayuri.

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Símbolo da Rede feito por Feliciano Lana, artista da etnia Desano

O informativo inaugural foi produzido como exercício prático durante a I Oficina de Formação da Rede de Comunicadores Indígenas do Rio Negro, entre 30 de outubro e 3 de novembro, na sede do Instituto Socioambiental (ISA), em São Gabriel da Cachoeira. Ouça
aqui no Soundcloud
 e siga a Rede.

O boletim também pode ser ouvido nos canais de comunicação da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) nas redes sociais, pelo sistema de radiofonia (com 180 estações nas TIs do Rio Negro), pelas rádios FM e AM de São Gabriel da Cachoeira e pelo Whatsapp. Quem quiser receber o Wayuri pelo celular, basta enviar uma mensagem para (97) 9841-55746.

“Nosso objetivo é expandir a comunicação com as comunidades e levar mais notícias que interessam aos povos indígenas por meio de um boletim feito pelos próprios parentes”, diz Ray Baniwa, coordenador de comunicação da Foirn, realizadora e animadora dessa Rede.

Diversidade e inovação
A inovação começa pela situação geográfica da Rede, que se expande por três municípios amazonenses do Baixo ao Alto Rio Negro: Barcelos (segundo maior município em extensão territorial do Brasil, atrás apenas de Altamira), Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira (terceiro maior município do país e importante fronteira geopolítica brasileira, com Venezuela e Colômbia). A escolha dos locais dos comunicadores foi feita pela Foirn, seguindo o critério de principais núcleos populacionais nas Terras Indígenas, como Iauaretê, no Rio Uaupés, que são locais estratégicos onde existe internet pública e calhas importantes como a dos rios Içana, Tiquié e Jurubaxi.

A diversidade cultural dos integrantes da Rede também chama a atenção. Os povos Baniwa, Tukano, Tariano, Desano, Wanano, Yanomami, Baré e Tuyuka estão representados pelos comunicadores, muitos deles falando na própria língua e traduzindo na sequência para o Português, como no caso dos colaboradores Yanomami e Tuyuka, do Alto Tiquié. Cláudia Ferraz, do povo Wanano, também locutora e apresentadora do Wayuri, destaca a importância de levar informação para as aldeias. “A gente sabe da dificuldade que as pessoas têm de receber informação nessa área tão grande e com pouco acesso a serviços de comunicação. Por isso, acreditamos que o boletim de áudio pode ser o meio mais ágil e barato de levar notícias que interessam aos povos indígenas”, enfatiza.

Trabalho coletivo

O nome do informativo de áudio é uma homenagem ao boletim impresso Wayuri publicado pela Foirn desde a década de 1990, no tempo das demarcações das Terras Indígenas do Rio Negro. O impresso com tiragem de 2 mil exemplares é distribuído trimestralmente nas comunidades indígenas e também para parceiros da Federação. Wayuri é uma palavra em Nheengatu (Língua Geral), uma das três línguas indígenas co-oficiais em São Gabriel da Cachoeira, que significa “trabalho coletivo”.

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Ray Baniwa, da Foirn, e Anápuáka Tupinambá, da rádio Yandê, em exercício ao microfone

Agora, com a criação da Rede, o Wayuri ganha sua versão em áudio e conta com a participação de comunicadores correspondentes em Barcelos (comunidade de Cauboris), Santa Isabel do Rio Negro (sede do município e Acariquara), Assunção do Içana e Tunuí Cachoeira (Rio Içana), Taracuá, Pari-Cachoeira e Iauaretê (Rio Uaupés), São Pedro (Rio Tiquié), Maturacá (TI Yanomami) e Cucuí, no Alto Rio Negro, fronteira com a Venezuela e Colômbia. A Rede também conta com a participação de três jovens na cidade de São Gabriel e com representantes dos departamentos de mulheres e jovens da Foirn. “A gente quer ser comunicador para contar para as pessoas tudo o que acontece na nossa comunidade e também falar sobre o que é importante para a nossa cultura”, conclui o jovem Tuyuka de Iauaretê, Mário Galvão. Com uma população de 2,5 mil habitantes, Iauaretê é o maior núcleo populacional da TI Alto Rio Negro e fica a cerca de 400 quilômetros da sede do município de São Gabriel da Cachoeira.

Oficina de Formação

A primeira oficina promoveu o encontro pessoal dos participantes da Rede, que montaram o planejamento de suas atividades, realizaram práticas de reportagem e definiram os papeis de cada integrante. Editores e locutores ficam baseados na sede da Foirn, enquanto os correspondentes distribuídos pela Bacia do Rio Negro enviam seus áudios com informações vindas dos mais importantes afluentes, como os rios Uaupés e Içana.

Cleiciane Teixeira, da etnia Baré, moradora de Cucuí, na TI Marabitanas Cué-Cué, durante treino de práticas de reportagem com a jornalista do Programa Rio Negro, do ISA, Juliana Radler
Cleiciane Teixeira, da etnia Baré, moradora de Cucuí, na TI Marabitanas Cué-Cué, durante treino de práticas de reportagem com a jornalista do Programa Rio Negro, do ISA, Juliana Radler

Mensalmente, os editores receberão esse material e farão a edição do boletim, em conjunto com os locutores do programa, Claudia Ferraz e Lucas Matos, coordenador do Departamento de Jovens da Foirn. “Estamos felizes com a ampliação da nossa comunicação e pela possibilidade da gente estar mais próximo da juventude indígena, com uma linguagem moderna e rápida”, diz Lucas, que é Tariano. Os cinco dias de formação contaram ainda com a participação especial de dois fundadores da rádio Yandê, a primeira rádio indígena na web no Brasil, e também da jornalista Letícia Leite, do Programa de Política e Direito Socioambiental (PPDS) do ISA, em Brasília, criadora e produtora do boletim de áudio, Copiô, Parente. Troca de experiências, rodas de conversas com lideranças indígenas históricas do Rio Negro, como Bráz França e André Baniwa, e muitos exercícios práticos fizeram parte da programação da oficina, que contou com a participação de todos os integrantes da Rede. O grupo também recebeu a visita do mais jovem presidente da Foirn, Marivelton Barroso Baré, e do coordenador regional da Funai, Domingos Barreto, do povo Tukano, grande entusiasta da comunicação via rádio.

O espírito de construção coletiva e colaborativa esteve presente durante todo o encontro, que foi encerrado com um sarau com a participação de grupo de dança e teatro de jovens indígenas de São Gabriel da Cachoeira. A próxima missão dos jovens comunicadores é produzir o segundo boletim Wayuri especial sobre os Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs), das Terras Indígenas do Médio e Alto Rio Negro, que estão em plena elaboração. Com a parceria do ISA e apoio da União Europeia, a Rede de Comunicadores contará com mais duas oficinas de formação, em 2018 e 2019.

Fonte: Instituto Socioambiental (ISA)

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