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Silenciar, em nome de uma moral religiosa, diante de feminicídios como o de Mayara Amaral é ser cúmplice da violência

Gisele Pereira*

Mais uma foi tirada de nós… Seu nome era Mayara Amaral, jovem musicista brutalmente assassinada em 26 de julho em Campo Grande (MS) por três homens. O patriarcado matou Mayara.

Poderia ser eu, você, sua irmã, amiga, filha, mãe ou qualquer outra mulher. Não é difícil conhecer histórias de quem tenha sofrido ou que sofra violência em um país que assassinou 4.757 mulheres somente no ano de 2014, segundo dados do Atlas da Violência 2016.

Por trás desses números assustadores estão mulheres reais, histórias únicas no conglomerado humano. É importante que falemos seus nomes, que façamos memória de suas dores.

Foram meninas e mulheres, em sua maioria periféricas e negras, que tiveram sua existência marcada ou interrompida brutalmente por força da violência misógina. Meninas e mulheres como nós, que têm seu cotidiano atravessado pelo medo de sofrer algum tipo de violência simplesmente por causa do seu gênero.

O patriarcado está por trás da mais silenciosa à mais gritante violência, seja ela física, sexual ou psicológica. Muitos cristãos têm cultuado ideias sobre a suposta inferioridade da mulher, seja por ingenuidade (?) ou por interesse deliberado de manter seus privilégios.

O sistema patriarcal é uma estrutura de poder que permeia os espaços públicos e privados, as ruas, as famílias, as empresas e as igrejas. Seus apoiadores não medem esforços para exercer controle sobre a vida, os corpos, os destinos e sonhos das mulheres. E silenciar frente a feminicídios em nome de moral religiosa é ser cúmplice das diversas formas de violência a que elas estão cotidianamente expostas.

Setores fundamentalistas do cristianismo, para dizer de nossa tradição religiosa, prestam culto ao patriarcado quando se colocam como empecilho para o País enfrentar as desigualdades de gênero, quando condenam e impedem que crianças e jovens tenham acesso a uma educação voltada para a igualdade. Cultuam o patriarcado ao agir de forma a conservar estas estruturas e tornam-se cúmplices ocultos das violências cotidianas sofridas por mulheres.

O desmantelamento de políticas públicas voltadas às mulheres, no âmbito federal e municipal, como acontece em São Paulo, é também prova declarada de pacto com o patriarcado. Uma forma de cultuá-lo mostrando que nossa saúde, bem-estar e vidas não importam, nos deixando ainda mais desprotegidas frente às violências.

É curioso que o mesmo prefeito que convocou a população paulistana para a “Marcha de Jesus” meses atrás, é o que agora corta três milhões de reais das políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres no momento em que a Lei Maria da Penha completa 11 anos.

Incoerência muito comum que presenciamos em políticos, no Legislativo ou Executivo, e até mesmo em líderes religiosos: aqueles que bradam palavras de ordem em nome de “Deus”, da família e da moralidade são os mesmos que justificam e legitimam a violência contra mulheres, que impedem a efetivação de políticas públicas para combatê-la, quando não a praticam diretamente.

Por fim, ressaltamos que condenar a violência depois de ela ser consumada é cinismo, quando não se está disposto verdadeiramente a enfrentar suas causas. Estas residem na estrutura de poder, nas relações desiguais sustentadas pelos interesses do capital, do racismo e do patriarcado.

O que violenta e mata mulheres não pode ser cultuado.

*Integrante da equipe de coordenação de Católicas pelo Direito de Decidir

Fonte: Carta Capital

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