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Para Masra Abreu, do Cfemea, mobilizações que deverão tomar as ruas do país neste sábado (29) podem decidir eleições presidenciais e são oportunidade para discutir direitos das mulheres

Por Lorena Alves

Já é praticamente um consenso entre analistas que acompanham as eleições presidenciais no Brasil: as mulheres terão papel fundamental para decidir quem presidirá o país a partir de 2019. O sinal mais forte desse protagonismo feminino aparece no movimento #EleNão, que neste sábado (29) sairá das redes sociais, onde começou, e promete tomar as ruas de cidades em todo o país (e fora dele) em atos contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL), sua postura e declarações fascistas, machistas, racistas e homofóbicas.

“As mobilizações estão super fortes e têm pautado a mídia, as redes e vão pautar as eleições. Pode ser decisiva a movimentação das mulheres nas eleições presidenciais. O voto já seria decisivo e agora a movimentação pode decidir o destino eleitoral do país”, resume Masra Abreu, assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), em entrevista ao Observatório.

Para ela, o impacto pode se estender para além do processo eleitoral. “Essa movimentação dá força pra gente resistir às perdas que estão elencadas e declaradas que vão acontecer. É um momento de fortalecimento do movimento feminista como um todo e das mulheres. O movimento do #EleNão tem muitas mulheres que não se identificam como feministas, mas têm um entendimento do que é autonomia”, analisa.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

 

Como o movimento feminista enxerga a mobilização do #EleNão, tendo em vista tamanha repercussão para além do movimento de mulheres?

O movimento feminista constrói essa mobilização. Não surge de uma hashtag. O movimento feminista constrói análises, pelo menos o CFEMEA, há mais de uma década discute sobre o que significa esse conservadorismo fundamentalista, que se representa bem na figura do Bolsonaro. Quando surge um levante desse das mulheres dizendo “Não, não aceitamos esse tipo de fala, esse tipo de candidato” é o reflexo das elaborações, análises e empoderamento que conseguimos nesses últimos anos. É claramente uma força das mulheres entendendo que, mesmo que o sistema político diga “não” à participação feminina na política e nos espaços de poder, a população feminina brasileira sabe que vai decidir essa eleição. Não é pensando em favorecer um candidato, mas esse levante significa dizer “não” à uma proposta de sociedade que nos exclua e nos coloque numa situação de “re-domestificação” de nossa própria vida. O #EleNão tem essa potência de dizer que sabemos que tem muita coisa ruim, mas esse cara, com essas propostas e com essa visão de sociedade, não vamos aceitar.

Como essa mobilização (nas redes e nas ruas) pode influenciar na eleição? E depois da eleição?

As mobilizações estão super fortes e têm pautado a mídia, as redes e vão pautar as eleições. Pode ser decisiva a movimentação das mulheres nas eleições presidenciais. O voto já seria decisivo e  agora a movimentação pode decidir o destino eleitoral do país. Depois das eleições é super importante o que significou esse movimento. Vamos dizer que o “Coiso”, que não falamos o nome, não ganhe, isso não significa que está tudo bem. Perdemos a secretaria política das mulheres, não temos mais um plano de enfrentamento à violência contra a mulher. Sucessivamente temos perdido acesso a direitos conquistados. E os direitos que temos estão em iminente risco de retrocederem. Então, essa movimentação dá força pra gente resistir às perdas que estão elencadas e declaradas que vão acontecer. É um momento de fortalecimento do movimento como um todo e das mulheres. O movimento do #EleNão tem muitas mulheres que não se identificam como feministas, mas tem um entendimento do que é autonomia. Elas não se declaram feministas, mas também não aceitam essas coisas. É um bojo, uma situação bacana, para discutirmos o que são direitos das mulheres e propostas de igualdade.

Como o repúdio ao Bolsonaro ajuda a fortalecer a pauta feminista?

Desde a Primavera Feminista o movimento feminista está pautando a sociedade sobre o aborto, reforma da previdência, acesso à terra, a partir da ótica feminista. E nessas eleições temos, por exemplo na campanha que lançamos, explicações de como o olhar do que significa uma política feminista é transformador para um projeto de sociedade mais justa e igualitária. Essa conceituação da política feminista, que é pela diferente visão do que significa o poder, favorecimento de propostas progressistas e de criação de políticas para igualdade, é o que temos defendido dentro do processo eleitoral.

Ultimamente é comum ter manifestações contra alguém, como Bolsonaro, Feliciano, Eduardo Cunha… Mas poucas são a favor de algum candidato ou político. Na avaliação de vocês, onde está o problema da falta de representação ao ponto de não ter atos em apoio a candidatos progressistas?

O CFEMEA é um movimento autônomo, apartidário, e por mais que eu Masra tenha uma indicação de votar num candidato x e y, a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) nunca tira uma indicação desse tipo, porque nos mantemos em uma crítica forte ao sistema político. Nossa luta é um pouco mais à frente, porque acreditamos que só vai haver alguma transformação sobre a participação política feminina quando houver uma reforma profunda e radical do sistema político e que se inclua a pauta feminista dentro desse processo. Se não for assim, sabemos que os processos são muito paliativos e excludentes. Temos a lei de cotas que não funciona, temos o recurso público para os partidos que sabemos que não estão incentivando as candidaturas femininas. Então, a nossa pauta é por uma transformação radical do sistema político e não para apoiar candidatos X ou Y.

Qual faixa etária de mulheres está aderindo mais ao #EleNão? O que a alta rejeição ao candidato Bolsonaro entre as mulheres mais pobres significa?

Esse movimento surgiu muito nas redes sociais, então, tem uma faixa etária de 20, 30 anos, mas isso já foi superado. Hoje sentimos e vemos mulheres de diferentes faixas etárias engrossando o coro e resgatando a história. É muito importante conversar com as mulheres que já lutaram em uma ditadura e em outros períodos de retrocesso no país. Vamos todos juntos no sábado (29)! Todas as idades, condições… Iremos marchar contra o Coiso. Sabemos que existe uma dificuldade no acesso às redes sociais por uma faixa etária um pouco mais elevada, contudo já chegou nelas… Se eu pego um exemplo da minha mãe, que não tem muita habilidade nas redes sociais, já chegou nela e não foi por mim, chegou por uma amiga dela. Então, eu acho que está bem difundida a questão etária nesse processo contra o retrocesso.

Essa entrevista faz parte das ações da Cardume – Comunicação em Defesa de Direitos, uma rede de organizações da sociedade civil (OSCs) articulada a partir de seus/suas comunicadores/as

 

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