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Conheça as histórias de mulheres que vivem na reserva que leva o nome do líder ambientalista, agora ameaçada pela decisão do governo de submeter a gestão florestal ao Ministério da Agricultura

Por Luisa Toller, da Az Mina

“Os seringueiros, os índios, os ribeirinhos há mais de 100 anos ocupam a floresta. Nunca a ameaçaram. Quem a ameaça são os projetos agropecuários, os grandes madeireiros e as hidrelétricas com suas inundações criminosas.” A frase é do líder ambientalista e seringueiro Chico Mendes, morto há 30 anos lutando pela proteção dos seringais, da Floresta Amazônica e das populações que vivem nela.

Logo após a sua morte, em 1988, o governo brasileiro criou as primeiras Reservas Extrativistas (Resex), áreas utilizadas por populações tradicionais, cuja sobrevivência baseada no extrativismo, na agricultura de subsistência e na criação de animais tem como objetivo assegurar o uso sustentável dos recursos naturais dessas unidades. A reserva que carrega o nome de Chico Mendes foi criada em 1990.

Esse legado, porém, pode estar ameaçado. Um dos primeiros atos de governo do presidente Jair Bolsonaro foi transferir para o Ministério da Agricultura a gestão do Serviço Florestal Brasileiro, além da responsabilidade sobre a demarcação de terras indígenas e quilombolas. Assim, transferiu o poder de decisão sobre reforma agrária, regularização fundiária de áreas rurais, Amazônia Legal, terras indígenas e quilombolas para a pasta.

“A definição do Ministério da Agricultura como órgão responsável pelo reconhecimento de territórios dos povos indígenas e comunidades quilombolas representa inaceitável e inconstitucional conflito de interesses, mediante a subordinação de direitos fundamentais dessas minorias aos interesses imediatos de parcelas privilegiadas do agronegócio”, avaliou o Instituto Socioambiental em nota.

“São comunidades de luta, de pessoas com histórias de vida difíceis, que trabalham longas horas no seringal e vivem em sintonia com a terra”, diz a fotógrafa Bruna Scorsatto, que visitou a reserva em 2018. Ao observar que as mulheres são figuras centrais na organização social dessas comunidades, Bruna fez um ensaio fotográfico para contar um pouco de suas histórias e do seu dia a dia.

A Resex Chico Mendes corta sete cidades no Estado do Acre e abriga cerca de 25 mil pessoas. Ela é pioneira no Brasil em conceito de preservação (dentro do limite de 7% de desmatamento) e extração de bens como castanha, borracha e açaí.

Por meio da lente de Bruna, vamos conhecer e reconhecer histórias a quilômetros de nós que têm papel importante para a sustentabilidade e preservação do futuro do país.

Dona Alexandrina. Foto: Bruna Scorsatto

Dona Alexandrina é uma das lideranças da Resex. Chegou à região ainda criança e dedica sua vida à reserva, tendo feito parte dos empates nos tempos de Chico Mendes. Aprendeu a cortar seringa com o irmão mais velho e depois de casada passou a dividir a tarefa com o marido. Hoje em dia, não entra mais na mata. Uma das poucas pessoas da comunidade com diploma universitário, ela estudou Biologia na UFAC, em Rio Branco, capital do Estado. Atualmente trabalha com a Educação de Jovens e Adultos (EJA). É também monitora da igreja e procura usar sua influência para incentivar a comunidade a se integrar. Acredita que esse é o jeito de manter a reserva: “se souber morar aqui, é pra sempre”.

Dona Matilde. Foto: Bruna Scorsatto

Dona Matilde, de 78 anos, nasceu e foi criada na Resex Chico Mendes. Aprendeu ainda criança a lidar com a mata e trabalhou a vida toda cortando seringa e cuidando da roça: arroz, feijão, milho, mandioca, banana. Todo o sustento da família vem da terra cultivada. É também uma das únicas parteiras da comunidade e ajudou no nascimento dos filhos de grande parte das famílias do local. Sua família também é grande: com 10 filhos, perdeu a conta de quantos netos tem e já é bisavó de uma criança.

Vanete. Foto: Bruna Scorsatto

Vanete, de 28 anos, anos aprendeu com os pais a cortar seringa, cuidar da plantação na roça e a caçar. Hoje em dia, faz todas essas atividades junto com o marido. Além disso, trabalha como professora, indo até a casa de crianças em idade pré-escolar para fazer a alfabetização e ajudar na socialização antes de elas iniciarem a educação formal.

Vanda. Foto: Bruna Scorsatto

Vanda entra na mata desde os 12 anos de idade. O pai passou pra ela conhecimentos de como abrir estrada de seringa, extrair castanha, bater feijão. Tem 7 filhos e também ensina para eles tudo o que sabe sobre a mata, começando a levá-los junto a partir dos 10 anos de idade. Estudou só até a quarta série e se arrepende de ter parado os estudos quando os filhos nasceram, por isso faz questão que eles continuem na escola. Viu a reserva mudar muito nesses anos, para melhor na opinião dela. A escola antes era muito precária e a estrada de terra que vai até Xapuri facilitou muitas coisas. A eletricidade ainda não chegou até a sua casa, mas acha bom que tenha luz próximo a onde mora.

Chaga. Foto: Bruna Scorsatto

Os pais não tiveram condições de mandar Chaga e seus 13 irmãos para escola, por isso tudo o que ela aprendeu foi com eles. Apaixonou-se pela mata, para onde vai todos os dias não só para trabalhar mas também para caminhar e passar o tempo. A farinha de mandioca que faz é conhecida por ser a melhor da comunidade. A partir do exemplo da mãe, aprendeu a ser forte e a sempre pensar nos filhos: se orgulha em dizer que os seus cinco filhos terminaram o ensino médio.

Ivonete. Foto: Bruna Scorsatto

Ivoneide é um exemplo de força dentro da comunidade. Além de cuidar de sua propriedade, da plantação e entrar na mata, ainda pesca e caça de espingarda. A única coisa de que tem medo é de onça pintada. Aprendeu tudo praticamente sozinha, pois perdeu os pais aos 4 anos de idade. Hoje sua família ainda é pequena: divide a casa apenas com o marido e o neto de 11 anos. O menino veio morar com ela depois que ele perdeu a mãe – filha de Ivoneide – em um feminicídio.

(Foto: Bruna Scorsatto)

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