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Comunidade se mobilizou para arrecadar doações e diminuir prejuízo dos moradores. Situação já ocorreu em 2018 quando jovem morreu arrastado pelas águas.

Por: Ira Romão e Jéssica Moreira
Via: Agêcia Mural

A forte chuva com granizo que atingiu a zona norte de São Paulo na tarde desta quarta-feira (10) destelhou casas, arrastou carros, provocou quedas de árvores, enchentes e alagamentos por todo o distrito de Perus.

Nesta quinta-feira (11), os moradores contabilizaram os prejuízos e deram início a busca por doações para ajudar as famílias desabrigadas.

No Jardim do Russo, que fica em uma parte mais alta do bairro, telhados foram arrancados pela ventania. A dona de casa Sandrelma Teotônio de Souza, 49, conta que o filho correu para avisá-la do que estava acontecendo.

“No momento que eu ia subir para ver, os pedaços de telhas começaram a voar e alguns a cair perto dele. Pelo impacto vários pedacinhos se espalharam. Ao todo foram 12 telhas quebradas. Graças a Deus, conosco não aconteceu nada”.

Com o temporal, o Córrego Laranjeiras transbordou e alagou as casas localizadas na Vila Inácio, região que tem histórico de enchentes. A última havia ocorrido em dezembro de 2018 e foi marcada pela morte de Jefferson José Gonçalves da Silva, 27, que foi arrastado pelas águas do córrego.

Córrego Laranjeiras transbordou com as chuvas – Ira Romão/Agência Mural

A morte do jovem levou a moradora Índia Mariano, 49, a criar o “Espaço Comunitário Jefferson Gonçalves”, com atividades como o incentivo à leitura para as crianças. Nesta semana, as famílias reviveram momentos de tensão e muito medo.

“A chuva começou e foi muito mais rápida, intensa e violenta que 2018, porque teve granizo. Naquele ano, deu para pensar em erguer ou pegar alguma coisa, embora não tivesse onde colocar”, contou Índia. “Desta vez não deu pra tentar. Foi muito rápido.”

Para a moradora, o que aconteceu é resultado de um “conjunto de coisas erradas”, como falta de zeladoria da prefeitura e moradores que jogam entulho no rio. “Parece que é uma coisa meio cultural, porque não têm educação ambiental, então com esse conjunto todo, sucedeu essa destruição total”.

Morador limpa casa depois de chuvas da quarta-feira (10)Ira Romão/Agência Mural

Índia lamentou ainda que boa parte dos moradores terão ainda mais dificuldade para superar os prejuízos.

“O pobre, assalariado, compra algo, no mínimo parcelado em 12 vezes. Então, ele mal termina de pagar isso e já tem que comprar de novo. Numa época de pandemia, de final de auxílio emergencial e sem trabalho. Tudo ficou muito mais difícil”.

Depois das chuvas, moradores de Perus têm ido ao Espaço Comunitário Jefferson Gonçalves oferecer ajuda. O projetista Danilo Martins, 41, tem apoiado na distribuição de cestas básicas, colchões e cobertas que a prefeitura e outros voluntários levaram nesta quinta-feira até o local.

“Quando chegamos aqui era quase meia-noite e o que vi foi uma cena de guerra, carro tombado, crianças com medo, as famílias tentando limpar e salvar alguma coisa”, disse Martins.

Carro tombado em Perus, após as chuvasIra Romão/Agência Mural

Morando com a esposa e as duas filhas no sobrado que era da mãe, o operador de guindaste Pedro Rodrigues de Melo, 39, viu a casa alagar. “Desta vez parecia que estava suave, no modo de dizer. Se não fossem os carros [que foram arrastados] acho que não tinha alagado”, comenta.

A casa dele, que fica em frente ao córrego, foi bastante atingida. A marca nas paredes chega a um metro e meio.

“Tentamos salvar o máximo de coisas que a gente pode. Geladeira, fogão e televisão. As crianças estavam lá em cima e fomos subindo as coisas pouco a pouco. Mas foi rápido demais”. lembra. “Só quem passou sabe porque é feio o negócio. Mas estamos vivos.”

Casa afetada pelas enchentes em PerusIra Romão/Agência Mural

O operador que conseguiu uma liberação no trabalho para tentar organizar as coisas com a família nesta quinta-feira (11), também diz que falta um pouco de conscientização dos próprios moradores.

“Ontem eu estava dentro do rio desentupindo cano e o vizinho jogando lixo quase pegando em mim que estava lá dentro. Poxa, fica difícil”, reclama.

Apesar de tudo, Pedro tenta olhar o lado positivo. “Agora o jeito é correr atrás de novo. Bens materiais a gente conquista de novo, vida não”.

Nesta quinta-feira (11) uma nova chuva forte atingiu a região e preocupou os moradores. Solange Souza, 52, é babá autônoma há 14 anos e também teve a casa alagada. Ela ainda limpava a casa e tentava recuperar o prejuízo.

“Estou desde às 5h30 da manhã limpando a casa. Ainda estou com a máquina cheia de roupas lavando o que dá para não jogar fora, as que não pegaram tanto barro. E é isso. Se não é Deus guardar o povo, a gente sofre mesmo”, conta.

Ela conta que na hora da enchente, colocou as crianças, que estavam chorando, na casa da vizinha da frente.

Morador carrega colchão. Comunidade realizou ações solidárias junto à PrefeituraIra Romão/Agência Mural

A babá também sofreu com a enchente de 2018 na Vila Inácio. “Ainda estou pagando meus móveis que pegaram água novamente. E agora perdi o colchão e algumas peças de roupas. Tive que lavar o guarda-roupa e as cômodas. O piso está soltando e a parede caiu o reboco”.

SOLIDARIEDADE

Outro morador que teve prejuízo material foi o Ian Lucas Aparecido Ferreira, 21, estoquista. O carro dele foi arrastado pela correnteza por cerca de 300 metros, acabou dentro do Córrego e deu perda total.

“Tinha comprado meu carro em outubro. Paguei três parcelas. A quarta vou pagar agora no final do mês. Vou continuar pagando mais 4 anos por um carro que não vou poder mais usar. Não sei nem o que vou fazer com o que restou”, desabafa o jovem. Alguns amigos de Ian criaram uma campanha virtual para ajudá-lo.

Moradores contabilizam prejuízosIra Romão/Agência Mural

Quem também iniciou uma campanha foi o estilista Willian André, 25, morador do Recanto dos Humildes, também em Perus. Ele teve a casa praticamente destruída pelos fortes ventos da última quarta-feira (10).

Além de ter ficado completamente alagada, a casa também foi destelhada e a parte elétrica comprometida. Amigos e vizinhos criaram uma campanha online para ajudá-lo a reconstruir o espaço. É possível doar também pelo PIX 43435240865.

“Moro em uma região muito alta e o vento entrou aqui e levou embora tudo. Meu quarto está destruído. É muito terrível ver isso. A força da natureza, sabe? E o pior de tudo é que também prejudicou os meus vizinhos. Foi arrastando as outras telhas da vizinhança. Foi terrível.”

Além da casa, a chuva também causou danos à loja AfroPerifa, símbolo da moda preta e periférica em Perus e na cidade de São Paulo. Com a chuva, William também perdeu o notebook, em que estavam armazenados os  dados e a história da AfroPerifa.

Na Vila Hungareza, as torrentes também derrubaram várias árvores e a população local ficou sem energia por pelo menos 16h (das 17h de quarta até 9h de quinta).

As árvores caíram pela raiz e uma delas atingiu uma casa na Rua Antônio Dias. Ninguém ficou ferido, porém, a prefeitura interditou o local, pois toda a casa está perdida.

No bairro, alguns moradores têm organizado doações de alimentos, materiais de limpeza, colchões, roupas na rua Mogeiro, 941 – Perus, São Paulo.

Contatos para doações:
– Diego (19)99892-7579
– Lucila (11)97742-5755
– Elia (11)99782-1384

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