Dirigente do movimento relata que Incra desistiu de assentar famílias em Goiás e pode provocar despejo em plena pandemia
O Brasil de Fato entrou em contato com o Incra para responder aos questionamentos do MST, mas não houve retorno até o fechamento desta matéria.
Incra “desistiu” de assentar famílias em Goiás
“Não temos nenhuma informação, de 2020 e 2021, de nenhuma área desapropriada ou adquirida pelo governo Bolsonaro aqui em Goiás”, ressalta Gilvan Rodrigues, coordenador do MST no estado. “O que ele está fazendo é aproveitar áreas que foram compradas 4 ou 5 anos atrás”.
“Tem sete fazendas que foram adquiridas pelo Incra entre 2014 e 2016. Depois disso, até os dias atuais, pelo que sabemos não há nenhuma fazenda adquirida pelo Incra para assentamentos de reforma agrária”, completa. “As famílias estão dentro dessas áreas, mas não estão cadastradas nem regularizadas pelo Incra. De forma que, neste governo atual, não existe nenhuma ação na perspectiva de assentar famílias”.
Rodrigues enfatiza que regularizar famílias que já estavam assentadas por governos anteriores não é “fazer reforma agrária”.
“Tem casos emblemáticos aqui no estado de fazendas, de 2015, em que o Incra havia feito contrato para assentar famílias. O Incra e os proprietários, a partir de comodatos, permitiram a entrada dessas famílias nas áreas, mas quando entrou o governo Bolsonaro, o Incra desistiu”, relata. “Agora, as famílias estão à mercê de ameaças de despejo, com a perspectiva de reintegração de posse desses acampamentos pela justiça local”.
O dirigente do MST se refere a 45 famílias que residem no acampamento Che Guevara, no município de Piranhas (GO), que receberam ordem de despejo no último dia 20. A comunidade produz alimentos saudáveis no território da fazenda Vale dos Buritis desde outubro de 2015, mas a Justiça ordenou o despejo mesmo durante a pandemia de covid-19.
O movimento está mobilizado para tentar suspender o despejo no Tribunal de Justiça. A decisão será do desembargador Fausto Moreira Diniz.
O descaso com a pauta da reforma agrária foi denunciado pelo MST junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), em reunião no final de 2020.
Edição: Rogério Jordão