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O programa oferece metodologia para inserir o tema nas escolas do campo. Objetivo é a construção de um novo paradigma no relacionamento com a natureza e na produção de alimentos saudáveis para todos

Por Cida de Oliveira, da Rede Brasil Atual

Nesta semana, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) inaugurou seu primeiro curso de especialização em Agroecologia e Educação do Campo. Ministrado na Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto (EPAAEB), em Prado, extremo sul do estado, o programa é fruto de uma parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, vinculada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Um dos mais importantes órgãos de pesquisa e educação em ciência e saúde, está subordinada ao Ministério da Saúde.

É provável que a abertura de mais um programa de educação pelo MST, com chancela de instituição de prestígio como a EPSJV/Fiocruz, tenha incomodado o secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura Luiz Antônio Nabhan Garcia. O curso teve início na segunda-feira (14). Na quarta-feira (16), em entrevista, Nabhan aproveitou a repercussão do decreto de liberação da posse de armas para tentar intimidar o movimento. Entre outras coisas, disse que não dorme sem armas e que vai trabalhar para fechar as escolas do MST, que ele chama de “fabriquinhas de ditadores”.

O curso de pós-graduação lato sensu visa aprimorar a formação de educadores que atuam em escolas rurais, por meio da oferta de metodologia para a inserção do tema no currículo. Ao discutir agroecologia com os alunos, desde o ensino infantil, é possível multiplicar conhecimento para a construção de um novo paradigma no relacionamento com a natureza, a produção de alimentos, o trabalho e o direito à saúde.

E não são apenas os professores e alunos filhos de camponeses os beneficiados com essa transformação. Ganha a sociedade como um todo, já que a produção de alimentos saudáveis para todos, livres de transgênicos e agrotóxicos, é um dos pilares da agroecologia. E a transição do atual modelo agrícola, baseada na concentração de terras, na monocultura de commodities e no uso de tecnologias e agroquímicos para o modelo agroecológico é considerada a melhor alternativa para a redução sistemática do uso desses produtos até o seu completo banimento.

A especialização surgiu da necessidade dos educadores das escolas do campo do sul da Bahia de incorporar a prática agroecológica nos projetos pedagógicos. “É uma demanda antiga. A EPAAEB realizava oficinas, seminários e outros encontros para tratar a temática, porém era insuficiente. Então criamos o curso em parceria com a EPSJV, que já realizou outras experiências pedagógicas com o MST”, disse a coordenadora pedagógica Eliana Oliveira.

A primeira turma do curso é composta por 46 professores de 16 escolas localizadas em municípios das regiões do baixo e extremo sul baiano, que lecionam para turmas do ensino infantil ao médio.

Como os alunos da especialização são filhos de agricultores que por sua vez lecionam para camponeses, a temática é totalmente voltada para questões ligadas à terra. A carga horária é de 460 horas, distribuídas ao longo do ano, na modalidade alternância. Ou seja, o aluno tem aulas na escola (tempo escola) em quatro  intercalados com três etapas no tempo cumprido em atividades com a sua comunidade. Esse tipo de organização articula teoria e prática, com períodos de práticas pedagógicas e de pesquisa.

“Aperfeiçoar a formação dos professores em campos do conhecimento para além da Língua Portuguesa e Matemática é uma preocupação antiga aqui na Escola Popular de Agroecologia. A educação no campo necessita trazer para a sala de aula a discussão com os alunos de questões como soberania alimentar, a questão do acesso à terra e à água e da realidade marcada por conflitos e até confrontos no campo. Então esses aspectos todos estão contemplados na organização curricular”, disse Eliane.

Seguindo a concepção pedagógica popular do MST, que considera a educação como terreno de lutas para a transformação social e o fim das desigualdades, as disciplinas são abordadas na perspectiva do reconhecimento do território em que a escola rural está inserida, inclusive com debates sobre os impactos da atividade econômica local sobre a vida das comunidades. É o caso da contaminação das águas pela pulverização de agrotóxicos sobre as diferentes monoculturas, trazendo doenças.

Cursos semelhantes são oferecidos apenas em universidades, como Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), campus Santa Cruz do Sul, Universidade Federal do Pará (UFPA), campus Marabá, Universidade Estadual da Bahia, campus Juazeiro e Universidade Federal do Ceará (UFC), campus de Pici, entre outras. Mas nenhum deles tem o objetivo de levar a agroecologia para dentro das escolas, das famílias e, por tabela, da sociedade como um todo.

(Foto: Coletivo Comunicação MST Bahia)

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