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Políticas públicas facilitam permanência de jovens no campo

Nos últimos anos, agricultores familiares vêm conquistando pouco a pouco incentivos para continuar na área rural

“Nós não queremos que as pessoas fiquem na roça por obrigação, mas sim por opção, com estrutura e oportunidades”. A fala de Jasseir Alves, secretário Nacional de Meio Ambiente da CUT e ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iúna e Irupi, no Espírito Santo, traz à tona uma importante discussão: a permanência da juventude no campo.

Para ele, mesmo não sendo o todo necessário, hoje, a partir da criação de programas e ações pós 2003, há mais políticas públicas que favorecem a juventude e o País. Entre as pautas dos movimentos de trabalhadores rurais – inclusive para manter os jovens no campo – estão o Plano Nacional de Banda Larga no Ambiente Rural, a Educação no Campo, o fortalecimento do Plano Nacional da Habitação Rural e, claro, a Reforma Agrária. “Há muito tempo lutamos por políticas para jovens e para o campo. É preciso garantir infraestrutura para que retornem a seus lares de origem, colaborando, por opção, com a construção da sociedade que queremos”, afirma.

O bom filho a casa torna

Um exemplo é o advogado José Thiago da Rocha, assessor jurídico do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iuna, extensão de base do município de Irupi, no Espírito Santo.

Filho de trabalhadores rurais, Thiago trabalhava no cafezal com a família até se formar no ensino médio. Quando teve acesso ao Programa Universidade para Todos (ProUni), ingressou em Direito, foi morar em Petrópolis, Rio de Janeiro, e se tornou bacharel. Após ser aprovado no exame da OAB, o jovem advogado retornou à sua cidade de origem. “A qualidade de vida é melhor aqui”, lembra. “Quando a gente muda pra cidade grande, precisamos de oportunidades para voltar”.

Para o jovem, as iniciativas do poder público devem garantir condições de vivência na área rural. “Nós precisamos de políticas que digam que o jovem vai ter qualidade de vida e ascensão social, que eles não viverão na mesma situação em que os pais e os avós viveram”, afirma Thiago.

Jasseir lembra a importância que um profissional como Thiago tem para sua cidade de origem. Por ter sido criado em ambiente rural, o jovem tem maior compreensão da realidade local, da dinâmica de disputa e das atuações necessárias. Torna-se uma questão de classe. “O exemplo desse advogado vivendo na roça é sintomático. Ele tem o sentimento de pertença, sabe a quem defender, conhece o contexto. É mais do que um simples profissional”, afirma o secretário.

Merenda Escolar

Uma política elaborada pelo Governo Federal em 2009 também beneficia os assentados. Em Itapeva, município localizado a pouco menos de 400 km da capital paulista, as sete Agrovilas do Movimento dos Sem Terra (MST) ganharam o impulso do Programa Nacional de Alimentação Escolar. O projeto prevê o mínimo de 30% das merendas de escolas públicas serem compostas por produtos da agricultura familiar, o que garante a destinação de parte da produção.

As Agrovilas colhem, a cada safra, 120 toneladas de feijão, das quais 60% são vendidas para escolas públicas. Essa forma de comercialização livrou os assentados da dependência de atravessadores e foi possível porque, há 10 anos, puderam renegociar suas dívidas, livrar-se das restrições bancárias e, assim, criar uma cooperativa de comercialização.

Os cinco mil litros de leite produzidos diariamente pelas Agrovilas de Itapeva também são vendidos para a merenda escolar. Esses são fatores que contribuem para a geração de renda e, consequentemente, para a permanência dos jovens no campo.

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Leandro e o feijão “Raízes da Terra”, marca produzida pelo assentamento

Comunicação no Campo

A realidade dos jovens dos assentamentos de Itapeva e de outras regiões tem sido modificada, ainda, pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), criado em 1998 por pressão e proposta do MST. O programa oferece cursos superiores em áreas como Geografia, Estudos Latino-Americanos e Linguagens do Campo, ministrados por 38 universidades federais que formam, em média, 3.200 alunos a cada ciclo de três anos.

Magnólia Fagundes da Silva, moradora das Agrovilas, é formada em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará e hoje é uma das responsáveis pela Rádio 96,7 FM Mix Camponesa, emissora comunitária criada pelos assentados. No Estado de São Paulo, há outros três jornalistas que, como ela, nasceram e passaram a infância em ocupações no campo e hoje cuidam da comunicação do MST.

Ela diz que os programas de formação e a existência de escolas no campo têm ajudado os jovens a permanecer na terra, sem se deslocar para os grandes centros. “A maioria é muito apegada ao campo e quer ficar aqui”, diz Magnólia, 30 anos, mãe de Artur, quatro anos e Sofia, 2 anos.

Com ela trabalha Janaína Ramos, que cuida da programação da rádio no período entre 15h e 17h. Não fez curso superior de comunicação ainda, mas sua participação em oficinas de rádio, organizadas pelo MST, dá a ela a segurança necessária para cuidar da seleção musical e ainda transmitir as notícias de interesse dos assentamentos, com abrangência de 60 km. “Minha ideia é sempre viver aqui, cuidar dos meus filhos como meus pais fizeram comigo”, diz ela, 28 anos e mãe de duas filhas, de 13 e cinco anos.

Rádio Comunitária: 96,7 FM Mix Camponesa
Rádio Comunitária: 96,7 FM Mix Camponesa

Sonhador também é Leandro Monterrão Delemura, que cursa o quinto ano de Engenharia Agrônoma na Universidade Federal de São Carlos. Com um olhar de trabalhador, ajudou o assentamento a não mais se ver diante de dúvidas levantadas por agrônomos ligados ao agronegócio. Questões como produtividade e uso de agrotóxicos têm nova abordagem.

“Nossa luta é pelo alimento saudável, pelo respeito ao meio ambiente e pela difusão de um conhecimento novo, que ajude a comunidade a ter mais autonomia e uma relação diferente com os demais”,diz Leandro, que mostra, com orgulho, o feijão “Raízes da Terra”, marca produzida pelo assentamento.

Outra mudança importante, e que se revelou também um fator de permanência das famílias nos assentamentos, foi a construção de uma escola pelas mãos dos próprios assentados. A escola estadual de ensino fundamental Franco Montoro, hoje uma realidade, tem seu currículo preparado com a ajuda pedagógica do próprio MST.

Escrito por: Henri Chevalier e Isaias Dalle – CUT Nacional

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