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Pautas como a do Kit Gay e ideologia de gênero foram exploradas em fake news e programas de TV e rádio, usadas de forma criminosa pelos adeptos de Bolsonaro, tudo aos olhos de uma sociedade mergulhada num processo de ódio nunca visto

Por Célio Golin, no Sul21

Nunca a pauta LGBTTs foi explorada de forma tão contundente como na última eleição. A direita, extrema direita, fascistas e sem dúvida, nazistas estiveram juntos e foram até as últimas consequências para angariar votos de forma perversa e com o aval de muitas instituições brasileiras.

A pauta LGBTT teve avanços significativos e ocupa um posto de destaque no cenário político. Estas conquistas são fruto de muita luta, de gente com coragem de romper com o armário e invadir os mais variados espaços públicos, institucionais e privados.

Tudo parecia caminhar para a consolidação de uma cidadania reconhecida de um patamar civilizatório de respeito à diversidade.

Desde o golpe de 2016, o cenário mudou vertiginosamente, onde num primeiro momento grupos fundamentalistas nos combatiam com fervor. No pós-golpe, a base conservadora se ampliou e entendeu que as pautas contrárias ao público LGBTT eram caminho para angariar apoios.

Inclusive políticos de partidos que se dizem liberais como do Partido Progressista, MDB, DEM entraram de sola no combate aos LGBTT. Merece registro o Movimento Brasil Livre MBL – que se dizia apolítico (e agora elegeu integrantes), começou a nos atacar de forma incondicional, disseminando ódio nas redes sociais com fake news e manipulando o senso comum.

Bode expiatório da direita

É claro que este tema integra um pacote bem maior. A forma como o tema foi colocado para debate público foi de uma perversidade nunca vista em um processo eleitoral. Junto a isto, depoimentos de políticos e religiosos, apoiadores do candidato da extrema direita extrapolaram e foram para as ruas, empoderando setores fascistas que se sentiram avalizados a expressar seu ódio contra os LGBTTs em vários casos.

Um dos exemplos foi a torcida do Palmeiras pregar a morte aos LGBTs no metrô, associando a palavra de ordem ao candidato Bolsonaro. Cena, entre tantas, inimaginável há um ano.

Pautas como a do Kit Gay e ideologia de gênero foram exploradas em fake news e programas de TV e rádio, usadas de forma criminosa pelos adeptos de Bolsonaro, tudo aos olhos de uma sociedade mergulhada num processo de ódio nunca visto.

É difícil saber a dimensão desta escalada criminosa contra a população LGBTT brasileira, mas as perdas e retrocessos já estão colocados no novo cenário político.

Se há alguns anos debater projetos e ações desta natureza em espaços educacionais era possível, hoje isto é sentido como uma infâmia, vide episódios como o do colégio Rosário, em Porto Alegre.

Projetos que querem nos colocar novamente à margem associando a questões patológicas estão sendo fomentados por estes setores reacionários, cínicos e hipócritas que defendem o discurso da família tradicional, que eles mesmos nunca praticaram.

Pela primeira vez o Brasil terá um Estado teocrático, onde a religião pautará as ações de governo, inclusive pelo próprio slogan “Deus acima de tudo” que o candidato vencedor que destilou ódio durante toda a campanha, corrobora com essa premissa, na contramão do que prega o evangelho jogado no lixo justamente por eles.

O que chama atenção nesta campanha foi o silêncio das instituições, como o próprio STF, que se omitiu frente a manifestações com viés racista e LGBTTfóbico, que vão muito além da liberdade de expressão e atingiram negros, mulheres, quilombolas e LGBTs.

Não sejamos ingênuos: os temas morais foram usados como produto de barganha e de forma inescrupulosa para ganhar as eleições, visando esconder o projeto político e econômico que tentará ser implementado e que terá consequências drásticas para a maioria da população.

O velho discurso de que o Brasil tem um povo de paz, ordeiro e que os protestos das mulheres, negros, indígenas e LGBTTs são mimimi e vitimismo foi retomado pelos eleitores conservadores e a elite com a camiseta da CBF.

Esse discurso nefasto quer esconder a todo o custo a luta de classes e, ainda pior, se utiliza de uma pseudo democracia racial que nunca existiu. Pelo contrário: essa mesma elite com seus preconceitos tenta esconder do debate público as intensas desigualdades sociais e políticas do país.

A resistência já começou

Perdemos muito com esse processo eleitoral. Não só nós LGBTTs, mas toda a sociedade, pois regredimos anos, onde as trevas voltam a habitar o imaginário social e a vida de milhares.

Como a história nos ensina, é nas ruas que os LGBTTs travarão esta disputa. Nossa consciência ultrapassou os muros do medo e da vergonha e, com as bandeiras com as cores do arco íris, vamos continuar colorindo as cidades e denunciando atos de discriminação e o extermínio da população de mulheres travestis e transexuais.

Um bom exemplo da resistência foi a dos estudantes LGBTTs de escolas privadas de ensino médio que, de forma autônoma, estão protestando contra o resultado eleitoral, com consciência política invejável, despertando a ira dos moralistas, que agora mais do que nunca, estão de plantão querendo calar nossa voz com o discurso esfarrapado de Escola Sem Partido.

Nesta frente de resistência, convidamos todos os e as democratas para integrar a 22ª Parada Livre, que promoveremos em 18 de novembro na Redenção. Essa atividade ganha contornos ainda mais significativos no atual cenário. Queremos que esta Parada seja um marco na luta contra a barbárie, o fascismo e todos os retrocessos em curso. Nossa bandeira é da democracia e da liberdade, e não daremos nem um passo atrás.

(*) Coordenado do Nuances – grupo pela livre expressão sexual

(Foto: Guilherme Santos/Sul21)

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