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‘Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário’, afirma o deputado que representava a causa LGBTI+ na Câmara

Da Rede Brasil Atual

Eleito em 2018 para o seu terceiro mandato legislativo, o deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ) anunciou hoje (24) que decidiu abrir mão da vida pública e se exilar por conta das ameaças de morte que se intensificaram com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para a presidência. Fora do país, em férias, Wyllys deve agora se dedicar à carreira acadêmica e fazer doutorado em algum lugar que ele ainda não definiu.

O anúncio do autoexílio foi feito por meio de entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. Desde o assassinato de sua companheira de partido, a vereadora Marielle Franco, em março do ano passado, Wyllys vive sob escolta policial. Na entrevista, ele diz que as ligações da família Bolsonaro com as milícias, que somente esta semana vieram à tona, também pesaram em sua decisão.

“Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário”, afirma. “O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim”, defendeu.

O deputado do Psol foi um dos pioneiros no uso de redes sociais como ferramenta de informação do mandato e da disputa política. “A diferença é que eu usava a internet para dar transparência ao meu trabalho, para ampliar os canais de comunicação e de democracia direta com a população. Nunca usei a internet para difamar ninguém, para caluniar ninguém”, diz na entrevista, ao observar que as “novas estrelas”das redes sociais, do campo conservador, “usam as redes sociais para a divulgação de fake news“.

“Há uma bancada inteira eleita com base em mentiras, inclusive contra mim. Eu venci processos contra umas cinco pessoas que me caluniaram. Só que esses processos não reparam o dano que isso causou na minha vida e na vida da minha família”, lamenta.

“Eu acho que vou até dizer que vou para Cuba”, ironiza o deputado quando indagado sobre seu futuro. Ele diz que até mesmo o atentado contra o então candidato Jair Bolsonaro, em 6 de setembro, em Juiz de Fora (MG), foi motivo para que as manifestações de violência contra ele se acirrassem.  “Aí, durante a eleição aconteceu o atentado contra o presidente, esse atentado que está por ser explicado ainda, e isso atiçou ainda mais a violência contra mim nos espaços públicos.”

“A violência contra mim foi banalizada de tal maneira que Marilia Castro Neves, desembargadora do Rio de Janeiro, sugeriu a minha execução num grupo de magistrados no Facebook. Ela disse que era a favor de uma execução profilática, mas que eu não valeria a bala que me mataria e o pano que limparia a lambança”, lembrou ainda Wyllys, que teve como uma de suas principais conquistas, como deputado, o casamento civil igualitário. “Tenho muito orgulho do que fiz. Durante esses oito anos, enfrentei tudo isso com muita dignidade. Mas sou humano e cheguei ao meu limite”, afirmou, referindo-se aos dois mandatos cumpridos.

Em texto na rede social, a deputada estadual do Rio Grande Sul Manuela D’Ávila (PCdoB), vice na chapa de Fernando Haddad à Presidência, se solidarizou com o amigo: “Difícil explicar a eles porque não suportamos a pretensa segurança dos carros blindados, das escoltas. Eles não sabem como lutamos pela nossa liberdade! Não sabem como o menino Jean ‘apanhou’ pra brilhar e para não morrer de fome. Não sabem que, se tivermos que andar com o vidro fechado, sem tomar o vento na cara, já morremos um pouco. E não queremos morrer nada!!!”, escreveu.

O lugar de Jean Wyllys na futura bancada do Psol na Câmara será ocupado pelo jornalista e vereador carioca David Miranda. Negro, homossexual, de origem periférica. Miranda é casado com o também jornalista norte-americano Glenn Greenwald, criador do site The Intercept, com quem adotou dois filhos.

Confira a entrevista de Jean Wyllys

(Foto: Cleia Viana/Agência Câmara)

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