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Apesar de a população negra na capital ser mais jovem, na média, do que a de brancos, ela sofre com piores condições de moradia, deslocamento e acesso à saúde

 

Taxa de mortalidade padronizada de homens negros chega a 250 mortes a cada 100 mil habitantes

 

São Paulo – A covid-19 é mais letal entre negros em São Paulo. A taxa de mortalidade padronizada da doença para a população negra é de 172 mortes para cada 100 mil habitantes na cidade. Esse número é 60% maior do que a taxa de mortalidade padronizada da população branca da cidade, que ficou em 115 mortes para cada 100 mil habitantes.

A pesquisa do Instituto Pólis abrange o período entre 1º de março e 31 de julho deste ano. Sem a taxa padronizada, a letalidade da doença é maior entre a população branca.

A diferença da covid-19 entre negros se deve à composição etária entre os dois grupos. Em média mais jovem, a população negra seria mais resistente, se o recorte etário fosse considerado isoladamente. As mortes registradas ao redor do mundo apontam que a doença é mais letal para pessoas acima de 60 anos.

Mas esses números se invertem, quando consideradas as condições de vida da população. O Instituto Pólis buscou, então, cruzar o número de mortes com indicadores de desenvolvimento social, para identificar como as diferenças de renda, escolaridade, local e condição de moradia, trabalho e acesso à saúde são determinantes no índice de letalidade de covid-19 entre negros.

O levantamento cruzou dados da Secretaria Municipal de Saúde, do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade, da Fundação Seade, do Índice Paulista de Vulnerabilidade Social, da pesquisa Origem-Destino do Metrô de São Paulo, da Rede Nossa SP, do DataSUS e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

“Existe uma distância social muito grande. É isso que a taxa padronizada de mortalidade consegue revelar. Estamos muito aquém do que poderia se feito para conter a pandemia”, criticou o arquiteto e urbanista, pesquisador do Instituto Pólis, Vitor Nisida, em entrevista à Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (28).

Óbitos esperados

A pesquisa também estabeleceu um número de óbitos esperados para toda a cidade, desconsiderando as diferenças entre os dois grupos, que foi de 11.110. Os óbitos efetivamente registrados ficaram 13,4% abaixo, com 9.616 mortes. Para a população negra, contudo, seria esperado o total de 4.091 mortes entre essa população na cidade. No entanto, foram registradas 5.312 29,85% de vítimas a mais do que o esperado. Para a população branca, seriam esperados 11.110 mortes até 31 de julho, quando foram registradas 9.616 mortes de pessoas brancas, ou seja, 13,4%.

Raça e gênero

A taxa de mortalidade padronizada de homens negros chega a 250 mortes a cada 100 mil habitantes, enquanto a taxa para brancos é de 157 mortes a cada 100 mil. Entre as mulheres brancas, a taxa foi de 85 mil óbitos/100 mil habitantes. Para mulheres negras, o indicador subiu para 140 mortes/100 mil.

“Entre mulheres negras e homens brancos, a distância é muito menor. Quer dizer, a raça parece importar tanto que aproxima as mulheres negras mais da taxa de homens brancos do que das mulheres brancas”, destacou Nisida

Segundo o pesquisador, a curva de mortes também é mais acentuada entre homens negros, com a distância em relação aos demais grupos se acentuando com o passar do tempo.

Espaço

A pesquisa também determinou a taxa de mortalidade padronizada para os 96 distritos da capital paulista. Em 64 deles, morreram mais pessoas negras do que o previsto. E, dos 23 distritos que tiveram menos mortes de pessoas negras do que o esperado, 15 estão localizados no quadrante sudoeste da capital, com melhores níveis de renda e escolaridade. Por outro lado, para a população branca, em 65 distritos morreram menos pessoas do que o previsto.

Nisida destacou o distrito de Vila Andrade, onde se localiza a favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, como uma das regiões que conseguiu contar a mortalidade entre a população negra. No entanto, o feito se deveu às ação coordenada de contenção da pandemia desenvolvidas pela própria comunidade. A associação de moradores mapeia a ocorrência de casos rua a rua, e disponibiliza locais para as famílias sem condições de cumprir o isolamento.

“É uma condição exemplar, mas a gente sabe que é excepcional. Essas condições de mobilização não são iguais para todas as favelas da cidade. Não é justo esperar que esse mesmo nível de organização e mobilização se realize em outros lugares. Mas é algo que foi feito porque o poder público não fez a sua parte, para garantir o isolamento ou condições mais adequadas e seguras para quem precisa sair de casa para trabalhar”, afirmou o pesquisador.

 

Assista à entrevista:

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