Colaborador do Atlas do Agronegócio desmistifica o modelo único da agricultura a base dos agrotóxicos nas plantações de transgênicos e alerta sobre o uso do glifosato
O atual modelo do agronegócio é insustentável, tanto para a saúde da população, quanto para a distribuição de terra. A afirmação é do agrônomo e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Gabriel Bianconi Fernandes, um dos autores do Atlas do Agronegócio, lançado na terça-feira (04/09), no Rio. O especialista também alertou para o uso do glifosato nas lavouras brasileiras.
Em entrevista à Rádio Brasil Atual na manhã desta quarta-feira (05/09), Gabriel diz que o agronegócio força uma ideia à população de que não há outro modelo de agricultura fora o deles. “O Atlas mostra que a propaganda do agronegócio não se sustenta. Eles se dizem necessários e dependentes deste modelo, que expulsa populações do campo e usa muito veneno. Diariamente. O nosso objetivo é mostrar que os problemas são piores do que eles mostram e há alternativa sim”, afirma.
O pesquisador também rebate que agrotóxico é o “pop do agro”. Ele acrescenta que a venda de insumos, adubos químicos, agrotóxicos e sementes são os principais financiadores do movimento agrícola. “Dentro disso, o glifosato é usado de forma desproporcional nas lavouras brasileiras. O Brasil é o país que usa mais agrotóxicos no mundo e mais da metade desse veneno aplicado é glifosato, classificado como cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, alerta.
O estudo do Atlas mostra que a aplicação de agrotóxicos nas lavouras brasileiras dobrou, enquanto a área cultivada aumentou apenas 20%. “É um dado impactante, pois contraria a propaganda da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), que justifica o aumento de agrotóxico, pelo aumento de produção. Portanto, o modelo agrícola é insustentável, na qual cada vez mais é preciso aplicar produtos químicos por área”, critica.
Outro dado que chama a atenção do especialista é sobre os transgênicos. De acordo com ele o argumento de que eles usariam menos agrotóxico é falso. “Nossa pesquisa mostra o contrário. Aliás, a própria legislação indica que o transgênico foi feito para usar mais agrotóxico. No Brasil, existe um limite de contaminação, mas a própria legislação teve de multiplicar o limite em 50 vezes após a liberação dos transgênicos”, diz.
Por fim, Gabriel lembra que há um lobby da indústria agrícola sobre a política nacional e alerta o eleitor. “Nas eleições, estamos atentos ao Legislativo, temos que colocar parlamentares comprometidos com o interesse da sociedade. Boa parte dos congressistas foram eleitos com apoio dessas empresas, isso só mostra a urgência de renovar o quadro político”, finaliza.
(Foto: Ebc)