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Movimento de mulheres representa “vanguarda democrática” em resposta a discurso fascista dos seguidores de candidato do PSL. “Eles têm medo da nossa força”, diz socióloga da Unifesp

Tiago Pereira, da Rede Brasil Atual

As manifestações #EleNão contra Jair Bolsonaro (PSL) lideradas por mulheres que mobilizaram diversas cidades do país e do mundo representam uma resposta ao discurso machista e autoritário propagado pelo candidato e seus apoiadores. O movimento deve aumentar a rejeição ao presidenciável e também pode reforçar a resistência democrática na reta final do primeiro turno das eleições 2018. É como avalia a socióloga e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Esther Solano.

“Não foi só contra Bolsonaro. Foi também um ato de proteção da democracia. É uma vanguarda democrática que está se formando. Um ato de cidadania como não se via há muito tempo. Foi uma resposta aos autoritarismos”, diz a professora, também autora do livro O Ódio como Política (Editora Boitempo), que estuda a ascensão do discurso fascista no Brasil. “Temos um fascista, mas também temos a mobilização democrática. Isso é uma questão pedagógica muito forte para toda a sociedade”, afirma Esther, que diz que o último sábado (29) registrou “a maior mobilização de mulheres que o Brasil já viu”.

Segundo ela, a dimensão das mobilizações das mulheres só pode ser comparada às manifestações pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016. “A diferença é que o nosso ato foi positivo, por uma política inclusiva, pela vida, por uma política onde todo mundo caiba. E os atos deles (dos grupos pró-impeachment e pró-Bolsonaro) são por políticas excludentes, uma política de negação sempre.”

Diferença na cobertura
Principais jornais não deram manchete para mobilizações das mulheres

Outra diferença é que, enquanto os atos pró-impeachment recebiam cobertura favorável e extensa por parte dos principais jornais e veículos de comunicação, a postura em relação às mulheres foi mais comedida. No domingo, os principais jornais do país até trouxeram os atos das mulheres com destaque em primeira página, mas com manchetes que nada tinham a ver com o evento, com o aparente intuito de causar alguma confusão.

Antifeminismo

Esther também diz que as manifestações pró-Bolsonaro ocorridas no domingo (30), em resposta ao movimento #EleNão, “foram muito menores”. E mais uma vez, as feministas foram vítimas de ataques, quando o filho do candidato afirmou que as mulheres de direita são “mais bonitas e higiênicas”. Segundo a professora, não é por acaso que os apoiadores do militar reformado escolheram a bandeira do antifeminismo.

“Eles se sentem ameaçados pela nossa potência. São homens que sentem medo das mulheres, por isso é que são tão violentos. Se a gente não fosse ameaça, ignorariam totalmente. São tão violentos e brutais porque sabem que a gente tem essa capacidade mobilizadora. Eles sabem muito bem que o voto feminino pode decidir contra o Bolsonaro. Eles claramente têm medo da nossa força”, afirma.

Na comparação com os Estados Unidos, em que as mobilizações de mulheres, nas redes e nas ruas, não foram capazes de impedir a eleição de Donald Trump, ela avalia que no Brasil o voto feminino deve ser ainda mais decisivo. “A rejeição dele entre nós, mulheres, está subindo. No segundo turno, em que esse fator da rejeição ganha ainda mais importância, pode haver, sim, um impacto. O voto feminino pode decidir essa eleição”, diz Esther.

A professora da Unifesp também discorda da avaliação de que o movimento teria ficado restrito a universitárias e mulheres de classe média. Ela cita a presença de mães com crianças e idosas e da reação das mulheres nos ônibus que passavam pela manifestação em São Paulo, por exemplo.

“O movimento feminista sempre tem a capacidade para ir além da classe média, justamente porque o tema da mulher sensibiliza muito. Toda mulher sofre o preconceito e o machismo na pele. Passei o tempo todo na manifestação, com um cartaz escrito “Mulheres contra Bolsonaro, pelas nossas vidas”. Quando passava pelos ônibus – e lá dentro não estava a classe média, mas a classe trabalhadora – a receptividade das mulheres dentro dos coletivos pareceu muito interessante. Acenavam, sorriam. A rejeição a ele é também de mulheres pobres, negras, nordestinas.”

(Foto: Mídia Ninja)

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