A filantropia de justiça social, que apoia com recursos financeiros organizações não governamentais (ONGs), grupos formais e informais que trabalham na área de direitos humanos, igualdade e justiça social, e que promovem a inclusão social vem ganhando força no Brasil. Os recursos são doados por pessoas físicas e jurídicas.
Para dar maior visibilidade a esse novo trabalho, a Rede de Fundos Independentes para a Justiça Social, promove até amanhã (10), no Rio de Janeiro, um encontro internacional com a participação de representantes de fundos e fundações nacionais e estrangeiros. O objetivo é aumentar o número de indivíduos praticantes desse tipo de filantropia no país.
Segundo a coordenadora da rede, Cindy Lessa, o Fundo Brasil de Direitos Humanos, um dos membros da rede, já doou R$ 11,7 milhões a 277 organizações não governamentais, em cerca de 13 editais anuais e específicos, lançados desde sua implantação, em 2006.
Uma das doações foi para o projeto Violência institucional em comunidades ocupadas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), criado pelo Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos do Rio de Janeiro, no aniversário de 10 anos da chacina do Borel.
No episódio, quatro jovens do morro da Tijuca morreram durante uma operação realizada pelo 6º Batalhão de Polícia Militar. O evento tornou o local referência no combate à violência estatal contra as comunidades pobres, no estado do Rio de Janeiro e no país. O projeto trabalhou no monitoramento da atuação judicial, a partir de casos de violência institucional, em áreas de UPPs e promoveu um curso de formação popular em direitos humanos.
“É um novo tipo de fazer filantropia no Brasil. Queremos que as pessoas, ao investir seus recursos, o façam com o olhar de justiça social”, afirmou Cindy Lessa. Segundo ela, o diferencial é que os membros da organização trabalham com direitos humanos, seja da mulher, de socioambientais, ou equidade racial. “Trabalham com ethos de justiça social”. A palavra gregaethos significa caráter moral. Em sociologia, tem relação com a identidade social de um povo”, explicou.
Países nórdicos, além dos Estados Unidos e do Canadá, têm culturas filantrópicas mais avançadas do que as do Brasil, na medida em que é “corriqueiro” as pessoas doarem para suas causas”, disse Cindy. A rede global Filantropia Social de Justiça e Paz (‘Philanthropy for Social Justice and Peace’) trabalha para aumentar o impacto das doações para a justiça social e a paz. “No Brasil, estamos aderindo a esse movimento que se espalha em diversos lugares.”
Cindy lembra que, ao mesmo tempo, a expansão da cultura filantrópica constitui um desafio no Brasil, e isso também significa oportunidade. “Quando se traz uma novidade, é sempre um desafio. Mas os desafios também são oportunidades.” Segundo Cindy, existem ambientes bem sensíveis a isso no país, filantropos que estão preocupados com justiça social e fazem investimento, mesmo mantendo um certo sigilo a respeito. “Não é um caminho fácil, mas tem que ser trilhado. Procuramos a oportunidade de acelerar esse processo.”
Os dez fundos e fundações que participam da rede são nacionais, foram criados a partir de 2000 e dão apoio a cerca de 11 mil projetos no Brasil e na América Latina. Em toda a América Latina, 115 organizações são doadoras no âmbito da filantropia para a justiça social. No total, já foram doados US$ 133 milhões no continente, o que equivale a 7% do montante global. Entre as 20 organizações que apoiaram mais projetos, aparecem os brasileiros Fundo Casa e Fundo Brasil de Direitos Humanos, na décima primeira e décima terceira posição, respectivamente.
Fonte: Agência Brasil