Se tivéssemos que escolher uma palavra que representasse a atuação política das mulheres negras, esta seria um verbo e este verbo seria inaugurar. Aqui empregado no sentido de pioneirismo, recomeço, reinvenção, criação de um novo mundo.
Como artesãs, inventoras cotidianamente construímos uma nova ordem social. Ser mulher negra exige a transformação das realidades. Para nós, a defesa de direitos está no campo da afirmação da humanidade negada pelo racismo e machismo desde o momento da colonização.
Nos recusamos historicamente a aceitar os lugares pré-determinados pela exclusão, o nosso repertório de organização política foi criado na diáspora, está presente nos mitos sagrados do candomblé e umbanda, vem das sociedades secretas como Geledé e Eleekó, na luta quilombola, na resistência à escravatura, na construção da identidade de um país como Brasil, forjado na bárbarie racista, mas também na luta pela existência.
Se quiser compreender como nos movimentamos, deve abandonar as perspectivas tradicionais, a força social das nossas mobilizações está inserida nas instituições, todas elas, mas também nas livres manifestações culturais e seu campo possível de experimentações, dos novos usos sociais da linguagem.
Hoje a Abong – Democracia, Direitos e Bens Comuns assume o ponto de vista das mulheres negras, nós que estamos falando neste manifesto. Fomos fundamentais para a redemocratização incipiente desta nação, somos imprescindíveis para o fortalecimento da atuação da sociedade civil e estamos presentes nas organizações sociais. Assim, exigimos respeito, valorização, equiparação salarial e melhores condições de trabalho. Queremos ser reconhecidas por nossa produção intelectual, como interlocutoras políticas, afinal, será impossível ser e existir sem as nossas contribuições, já não há mais tempo para o convencimento e formação da branquitude, ou compreendemos que relações raciais e de gênero devem estar no centro das nossas reflexões e orientar a nossa prática política, ou seguiremos ultrapassados, em tempos em que a reinvenção é pressuposto para as lutas sociais.
Quando é necessário criar uma nova linguagem e, portanto, um novo mundo capaz de dar conta do pleno exercício da cidadania de mulheres negras, o que ainda não está dado como possível na atualidade, muitas são as formas de engajamento e mobilização, todas únicas e pioneiras. Como você atua no sentido de construção deste novo mundo? Qual será o posicionamento da sua organização?
Conheça as ações da Abong para os Julho das Pretas e faça parte!
“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”
(Angela Davis)
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