Bispo foi sepultado onde queria, no local onde passou 52 de seus 92 anos, defendendo a causa dos indígenas e trabalhadores rurais
Por: Dagmar Talga
São Paulo – Dom Pedro Casaldáliga foi enterrado, no dia 12 de agosto, sob um pequizeiro, à margem do rio Araguaia, no cemitério dos Karajás e dos Peões. O bispo emérito de São Félix dos Araguaia (MT), que não gostava de ser chamado de “dom”, viveu nessa região durante 52 de seus 92 anos, defendendo a causa dos indígenas e trabalhadores rurais, que seguem enfrentando a violência, conforme se viu nesta semana em Campo do Meio (MG), onde o governo Romeu Zema (Novo) despejou com violência centenas de famílias.
Casaldáliga, que morreu no dia 8 de agosto, recebeu homenagens no Brasil e na Espanha. Houve manifestações diante da casa onde ele nasceu, na Catalunha, em 16 de fevereiro de 1928. No velório em São Félix, no Centro Comunitário Tia Irene, participaram pessoas como Antônio Canuto, um dos fundadores da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
O nome do local homenageia a irmã Irene Franceschini, que morreu em 2008. Uma fotografia de Tia Irene foi colocado perto do caixão. Havia outra da missionária Veva Genoveva, que também atuou com Casaldáliga e morreu em 2013.
Cerimônia e ritual
Além da cerimônia religiosa, índios Xavante realizaram ritual em memória do bispo. O cacique Damião lembrou da violência que os povos indígenas continuam sofrendo no país. Durante parte do cortejo, o caixão foi carregado por jovens Xavante. Toda a cerimônia foi documentada pela cineasta Dagmar Talga. Várias fotos foram postadas na página da CPT no Facebook.
A jornalista Ana Helena Tavares, que no ano passado lançou biografia de Casaldáliga, relacionou a atividade incessante do religioso à ação em Campo do Meio, um despejo violento durante uma pandemia. “Pedro estava lá. Com boné do MST”, escreveu em rede social.
A CPT em Minas protestou contra a ação do governo estadual. “Um estado com quase 3 mil mortes de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, que se anuncia em crise econômica deixando de pagar professores e servidores; que não tem assegurado renda emergencial e atenção, como deveria, às famílias de baixa renda por causa da pandemia, se apresenta para o povo pobre e trabalhador, com seu braço opressor, despejando e jogando na rua, derrubando e destruindo casas e escola de mais de 450 famílias camponesas que lutam por vida digna, usando recurso público para isso.”
No túmulo de Casaldáliga, sem cimento, uma cruz simples de madeira e placa com o trecho inicial do poema Cemitério do Sertão, publicado em antologia de 2006.