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O projeto pretende resgatar, organizar e disponibilizar documentos e imagens históricas que contam os 30 anos de luta do MST.

Os historiadores Camilo Alvarez e Julyana Souza, responsáveis pela recuperação e documentação do acervo.

O arquivo e a memória são responsáveis por manter uma relação indissociável em toda história da humanidade. Por ser um elemento que compõe a identidade de um povo, a memória acaba tendo um papel imprescindível na construção de qualquer processo histórico.

Neste sentido, o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] compreendeu neste último período a necessidade de analisar, entender e transmitir as mais diversas documentações e informações de todo material histórico do Movimento ao longo destas três décadas de vida, mostrando e compreendendo o seu real significado.

A partir disso, foi lançado em 2014 o projeto de resgate, organização e disponibilização de documentos e imagens históricas que contam os 30 anos de luta do Movimento.

Para a historiadora e educadora Julyana de Souza, que faz parte da equipe de Arquivo e Memória do MST, a organização desse acervo tem como objetivo servir de ponto de partida para a realização de pesquisas e para a produção de conhecimento que, somados, criam novas formas socioeconômicas, políticas e culturais de atuação.

“O trabalho que estamos desenvolvendo no Movimento tem como base a organização de toda produção intelectual do MST, desde a sua fundação até os dias de hoje”, acredita.

O projeto, que também conta com a assessoria do sociólogo e bibliotecário especialista em Arquivologia da Fundação Perseu Abramo, Carlos Henrique Menegozzo, “surgiu com o intuito de fazer com que as pessoas saibam como o Movimento se construiu ao longo deste tempo, bem como sua relevância política no Brasil”, analisa a historiadora.

Quanto ao resgate político e histórico dessa documentação, ela acredita que isso pode se converter em umas das muitas ferramentas de luta do Movimento.

“Nós temos aqui o processo original de Eldorado dos Carajás (massacre que matou 21 Sem Terra no Pará, em 1996), temos registros de falas de militantes históricos que tombaram na luta, documentos dos encontros nacionais, cartas trocadas entre dirigentes. É um trabalho contínuo, que não se extingue”, conta Juliana.

“Avançamos muito, conseguimos recuperar boa parte dos documentos de instância política, por exemplo. Agora vamos focar na criação de um banco de imagens com fotos históricas do MST”, afirma.

Para a historiadora, a história que predomina em qualquer sociedade é a história dos vencidos, a perspectiva de uma classe sobre as demais.

Por isso, “quando falamos em movimentos sociais, falamos sobre memórias que são produzidas pelas classes dominantes. Nesse sentido, resgatar a memória do MST, é criar uma trincheira de disputa ideológica para conseguir dialogar com a população, mostrando a importância política e histórica de nossas ações”, pontua.

Digitalização do acervo 

Um dos objetivos desse projeto é a digitalização de todo o acervo que está sendo resgatado. Esse processo é crucial, visto que a memória no papel é corroída e desfeita com o tempo.

Com isso, a ideia do Movimento é disponibilizar as imagens e documentos para todos os militantes, estudantes, curiosos e, assim, universalizar o conhecimento, criando subsídios para que todos tenham acesso a esse material e seja produtor de seus próprios sentidos, construindo por conta própria e sem deturpações a história da organização.

Com o apoio do professor Bernardo Manzano Fernandes e do Centro de Educação e Memória (Cedem), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), parte dessa etapa já está sendo realizada e disponibilizada para o público, na página da Unesp (clique aqui para ver).

Para o historiador Camilo Alvarez, filho de militantes Sem Terra e formado em história na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) – e também integrante da equipe de arquivo e memória -, a história do Movimento é contada nessas fotos e documentos. Para ele, isso faz parte do passado, presente e traça o futuro do MST.

“As experiências obtidas até aqui são base para tudo o que está sendo feito hoje dentro do Movimento. Enquanto militante, penso que isso nos dá mais subsídio. Por meio desse acervo histórico, nos conhecemos melhor e, assim, conseguimos olhar para o que fizemos e saber o que podemos fazer”, destaca Alvarez.

“Além disso, uma das coisas que aprendi dentro desse Movimento é que o MST preza muito a sua mística. A recuperação dessa documentação nada mais é do que a recuperação de nossa história de luta. Se pensarmos além, ter acesso a esse trabalho é reviver a mística histórica do MST”, conclui.

A construção do arquivo é permanente. Nesses 30 anos de história, muita coisa se perdeu. Por isso, o MST pede para que todos aqueles que tenham documentos ou fotos e que queiram colaborar no acervo, entre em contato pelo mst.memoria@gmail.com.

Via Adital

Publicado originalmente por MST

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