via: o globo
A favela da Vila Itália, no interior de SP, foi escolhida para servir como modelo de um projeto pioneiro, com potencial de transformar para sempre a vida dos moradores.
Segundo o IBGE, o Brasil tem mais de 13 mil favelas. No interior de São Paulo, um projeto-piloto uniu ONGs, o setor público e empresários para enfrentar a miséria e a falta de estrutura numa dessas comunidades.
É no improviso, dentro de um barraco de madeira, que a dona Cirlei vai tocando a vida. Desde que ela e marido ficaram desempregados, se mudaram, com os quatro filhos, para a favela da Vila Itália, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo.
“A gente pagava R$ 850 de aluguel, então, desempregada, não tinha como pagar. Por isso, nós viemos parar aqui. Foi a única saída vir para cá”, contou Cirlei de Oliveira, dona de casa.
Duzentas e quarenta famílias vivem na comunidade. A maioria, em situação de extrema pobreza.
“Ninguém vem para uma ocupação dessa porque quer. Eles são forçados a isso. Eles vivem sem expectativa de um bom emprego, de uma boa educação ou, até mesmo, dos benefícios sociais que o governo oferece”, disse Benvindo Nery Pereira, líder comunitário.
A energia elétrica chega por meio de “gatos”, a água precisa ser armazenada em tambores, saneamento básico não existe e a maioria das moradias é de tábua ou de lona.
O fato de estarem numa área ocupada, também traz a insegurança de perderem o pouco que têm.
“A gente vive aqui com medo de uma hora falar assim: ‘vocês têm que sair’; e ter que colocar em algum lugar que você não sabe onde é”, afirmou Ozilmara Domingues Costa, dona de casa.
Segundo o IBGE, em 2019, o Brasil tinha 5,1 milhões de domicílios em favelas. Em 2010, eram 3,2 milhões.
A favela da Vila Itália foi escolhida para servir como modelo de um projeto pioneiro, com potencial de transformar para sempre a vida dos moradores.
“Aquela cena de uma favela que representa o Brasil atolado no século XIX vai dar lugar para uma comunidade totalmente desenvolvida, com espaços urbanos, mobiliário comunitário, infraestrutura, saneamento básico, entrega de água potável, energia elétrica, Wi-Fi, cooperativas de negócio, para o morador da favela poder gerar renda”, ressaltou Edu Lyra, fundador e CEO da Gerando Falcões.
O projeto Favela 3D – Digital, Digna e Desenvolvida é uma parceria entre iniciativa privada, poder público e terceiro setor.
A prefeitura de São José do Rio Preto se comprometeu a regularizar o terreno e a preparar a infraestrutura do local.
O governo de São Paulo vai pagar parte da construção de cada casa, facilitar as prestações com parcelas sociais e construir praças para esporte e lazer.
E a ONG Gerando Falcões também está arrecadando doações de pessoas e empresas para construção das moradias.
Desde o fim de 2020 o projeto vem ganhando apoiadores, entre eles a Fundação Lemann.
“Quatorze milhões de favelados no Brasil. Temos que dar um jeito nisso. Estou aí para apoiar também, ajudar da maneira que for possível. Vamos aprender. Daqui a alguns anos, sabemos como fazer e podemos expandir para o Brasil todo”, ressaltou Jorge Paulo Lemman, empresário e presidente da Fundação Lemman.
Mas o projeto vai além de regularizar a área, construir uma casa. Também faz parte do objetivo oferecer educação, emprego e renda. A ideia é que essas famílias sejam acompanhadas por um bom tempo, até que possam ter perspectivas de um futuro melhor.
“É um projeto que vai trabalhar a redução da pobreza, que vai gerar emprego, gerar renda, qualificar essas famílias profissionalmente e deixar essas crianças terem acesso à educação de qualidade. Então é um programa amplo. A última questão disso é a entrega da casa”, definiu Amanda Oliveira, fundadora e CEO do Instituto As Valquírias.
A expectativa é que ainda em 2021 as mudanças comecem a acontecer na comunidade da Vila Itália.
“A gente está transformando a favela da Vila Itália num laboratório de prototipagens e testagens de soluções em escala. O objetivo disso é ter ali tecnologia para construir um acordo envolvendo governos, iniciativa privada, as ONGs e a sociedade civil para desfavelizar o Brasil e entregar uma solução que possa interromper o ciclo de pobreza social”, afirmou Edu Lyra.
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