Recentemente, 10 eurodeputados da Esquerda Unitária Europeia e dos Verdes Europeus concederam no Parlamento europeu uma conferência intitulada “A Economia social e solidária na Europa: situação atual, desafios e perspectivas”.
Reuniu em um painel 20 especialistas procedentes da Espanha, França, Alemanha, Grécia, Itália, Portugal e Bélgica. O objetivo da conferência foi impulsionar no seio da instituição o conhecimento da enorme contribuição e do potencial que representa para a economia europeia e dos Estados membros um setor que contribui, atualmente, para gerar mais de 15% do PIB e do emprego na UE. Do mesmo modo, pretendeu-se compartilhar e criar redes entre aquelas experiências mais transformadoras, solidárias e sustentáveis que florescem na Europa e vão mais além do mercado e do Estado. Frente ao modelo econômico imperante baseado em oligopólios, crescimento infinito e competitividade sem limites, é hora de construir uma verdadeira alternativa economicamente justa, ecológica e participativa.
Pablo Echenique, eurodeputado do Podemos inaugurou a conferência assegurando que temos podido comprovar “aonde nos leva a busca pela margem de benefício como único princípio diretor da economia. É hora de apostar em esquemas que não sejam de curto prazo, que não gerem crise após bolha, após crise, e que não esqueçam que do que se trata é de que as pessoas tenham vidas dignas, com seus direitos fundamentais garantidos. A Economia Social e Solidária há de ser uma peça central no novo esquema produtivo. A Economia Social e Solidária demonstra que põe as pessoas em primeiro lugar e, ademais, funciona.”
Segundo Florent Marcellesi, porta-voz da EQUO no Parlamento Europeu e moderador da primeira mesa de debate sobre o marco conceitual da economia solidária: “A economia social e solidária é central na transformação do nosso modelo produtivo rumo ao bem viver e ao respeito pelo planeta.Ademais de basear-se em valores fundamentais, como a igualdade, a cooperação ou a sustentabilidade, propõe outra gestão do bem comum, mais democrática e mais local. Graças à economia social e solidária, a cidadania tem em suas mãos o poder de mudar a economia e garantir pão para hoje e para pão para amanhã”.
Ernest Urtasun, eurodeputado do ICV, declarou que temos a oportunidade de comprovar que “a Economia Social demonstra uma grande resistência à crise, gerando postos de trabalho em nível comunitário e sendo uma alternativa sólida para cobrir as necessidades que nem o mercado nem, com frequência, os Estados, podem fazer frente. As entidades que, hoje, participam do evento nos demonstram que a partir da difusão na sociedade tem se gerado prosperidade, emprego e bem estar.”
Consegui entrevistar, diretamente, em Bruxelas, o europarlamentar Florent Marcellesi.
Florent Marcellesi (Angers, França, 1979) reside em Bilbao há 10 anos e, agora, é eurodeputado, representando a Espanha na Europa, porta-voz do Equo, foi eleito como número dois da lista da Primavera Europeia, uma ampla coalizão que engloba 10 partidos (Compromisso, Chunta, Partido Por Um Mundo Mais Justo e Democracia Participativa, entre outros).
Sua mensagem é clara: “Queremos reinventar a Europa a partir dos pilares de solidariedade, ecologia, democracia.
Há setores que vão decrescer porque não são sustentáveis e há setores que são o futuro, que são os setores verdes: reabilitação de edifícios, agricultura ecológica, energia renovável, mobilidade sustentável, economia social… Isto são milhões de empregos. Calculamos que, na UE, é possível criar 20 milhões de emprgeos, dois deles na Espanha, que, por sua vez, são dignos, decentes e respeitam a natureza. Se cruza com o número de pessoas paradas, 26 milhões, é possível resolver o problema do desemprego através da nova economia verde, sustentável e social”.
Estou muito contente pelos resultados das recentes eleições municipais e autonômicas na Espanha: “A política municipal determina, de forma direta, o nosso futuro em comum. E frente a uma maneira de fazer política nas ciudades, marcada pelo desperdício, a corrupção, o despotismo e o endividamento, existe uma política local distinta e concreta, na qual as necessidades das pessoas e do planeta estão em primeiro lugar. Trata-se, no nosso entendimento, do municipalismo verde.
Nas últimas décadas, os Verdes ganharam terreno nas administrações locais de povos e cidades europeias e ali onde se vincula a ecologia política, a cidade se transforma. São essas experiências de mudança que motivam muitas pessoas que vão no Equo, bem em listas próprias, bem em candidaturas cidadãs, para lutar pela transição verde a um modelo baseado em uma economia social e solidária, sustentável ambiental e socialmente, na qual a equidade não seja um slogan, mas uma prática cotidiana”.
Florent Marcellesi, conte-nos como foi o debate no Parlamento Europeu?
Foi uma magnífica jornada no Parlamento Europeu sobre ECONOMIA SOCIAL E SOLIDÁRIA.
Da Espanha, Grécia, Itália, França, Alemanha, conhecemos grandes experiências, que já estão transformando a sociedade a partir de baixo, com valores e rumo a uma sociedade mais justa, sustentável e democrática. Que fique claro: a economia social e solidária não é uma tampão para a economia de cassino, é uma emenda à totalidade.
Por último, é um prazer co-organizar e compartilhar essas jornadas com meus amigos do Podemos, Europe Écologie-Les Verts, Primavera Europeia, Syriza, ICV, etc. A confluência se faz caminhando!
Você abre o debate com a pergunta: pode a economia social ser uma alternativa à crise de civilização?
Estamos em uma crise de valores e de civilização. Na Economia Social, importa tanto o resultado como o caminho, é o único modo de transformar o mundo. Como na nossa experiência da “Equo”, a forma é fundo. A Economía Social gera 14,5 milhões de empregos na Europa (6,5% dos trabalhadores).
Na Espanha, funcionam mais de 40.000 cooperativas, empresas e sociedades trabalhistas, que empregam mais de 2 milhões de pessoas em Economia Social.
Não existe a economia social de mercado. Existe uma parte do mercado e por outro lado a Economia Social, cada uma com seus valores e seu modelo.
Que opinião tem sobre os resultados das eleições municipais e autonômicas na Espanha?
Depois de uma noite cheia de EMOÇÃO (e de JUSTIÇA), os primeiros dados e lições dessas ELEIÇÕES locais e autonômicas:
– Eleições municipais: AS CONFLUÊNCIAS CIDADÃS SÃO O CAMINHO!! Em Barcelona, com Ada Colau, Madrid, com Manuela Carmena, La Coruña, con Xulio Ferreiro, etc, provam que a cooperação, a ilusão e a empatia são capazes de derrubar muros e arrebatar o poder para construir cidades mais justas, democráticas e sustentáveis.
O EQUO conseguiu uma centena de vereadores em todo o Estado e em 16 capitais de província (Madrid, Bilbao, Donostia, Vitoria, Valencia, Córdoba, Albacete, Salamanca, Valladolid, Coruña, Huesca, Las Palmas de Gran Canaria, Logroño, Ceuta, Palma de Mallorca, Ibiza). Graças ao trabalho incansável dxs ativistas do Equo, RESULTADO HISTÓRICO DA ECOLOGIA POLÍTICA na Espanha!
– Um especial abraço aos meus amigos verdes de Villena, que não só revalidam a sua prefeitura, mas que, ademais, o fazem com maioria absoluta.
– Eleições autonômas: parabéns aos companheiros do Podemos por seus avanços, mas a estratégia da hegemonia mostra claramente seus limites. Há muito que refletir de cara às gerais, hé uma janela de oportunidade histórica, que pede a somar forças a partir da “UNIDADE NA DIVERSIDADE”.
O EQUO conseguiu um deputado autônomo em Madrid (na lista do Podemos), dois no País Valenciano (na lista do Compromisso) e um em Mallorca (na lista do MES per Mallorca).
Um especial abraço aos nossos companheiros do Compromisso, cujo resultado é espectacular. Alegro-me de que a perseverança, o trabalho bem feito e um projeto de país bem definido tenha o êxito merecido. Será Mónica outra presidenta da Generalitat? Será Joan Ribo prefeito de Valencia? Isso espero…
O bipartidismo está cada vez mais ferido. Continua sem morrer, mas dependerá de nós dar-lhe a estocada final. A partir da GENEROSIDADE e construindo a política que queremos ver neste mundo.
Como interpreta a indignação política que se vive, hoje, na Espanha?
Desde as recentes eleições, a Europa se volta para a Espanha.
Ao transformar a indignação social em compromisso político, as candidaturas cidadãs de confluência do nosso país fizeram história.
Colocaram em relevo que a eficiência instrumental, a retórica guerreira e a estratégia hegemônica (e homogeneizadora) não são as únicas alternativas ao poder atual.
A alternativa social e política pode ter como bandeira a cooperação, a empatia, la heterogeneidade e a diversidade.
Para muita gente e movimentos na Europa, agora, as candidaturas cidadãs são um modelo a seguir. Assim que continuemos fazendo história na Espanha, no que fica do ano eleitoral.
Com mais confluências plurais, as do bem comum e da inteligência coletiva, porque somamos mais unidos e unidas na diversidade.
Fonte: Adital, por Cristiano Morsolin