Durante seminário, mulheres apontam que esses dois pontos colocam em xeque as relações hierárquicas sociais e familiares.
Por Catiana de Medeiros de MST.
Feminismo e agroecologia foram temas do seminário da sétima e última etapa do curso Organização “Produtiva de Mulheres e Promoção de Autonomia por Meio do Estímulo à Prática Agroecológica”, que foi realizada nesta quarta-feira (9), na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em Erechim, na região Alto Uruguai do Rio Grande do Sul.
O projeto foi desenvolvido pelo MST, Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), em parceria com a UFFS e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Nesta etapa final, camponesas do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) também participaram.
As atividades iniciaram pela manhã com a palestra de Karol Herrera, doutoranda em Sociologia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ela falou sobre as relações existentes entre o feminismo e a agroecologia, e destacou o protagonismo das mulheres na construção de uma sociedade mais igualitária em direitos, além de situações de opressão e subordinação na quais muitas delas ainda vivem.
Segundo Karol, apesar de vários avanços que as mulheres camponesas obtiveram por meio de lutas históricas, ainda há muitos direitos para o gênero conquistar. E, para ela, a agroecologia tratá a renovação necessária na luta feminista e tornará a sociedade mais justa e saudável.
“Praticar a agroecologia é uma atitude política que entra na bandeira de mudança da sociedade, assim como o feminismo. Esses dois pontos, juntos, valorizam as mulheres e os seus trabalhos no campo, e colocam em xeque as relações hierárquicas sociais e familiares, pois quebra o mito de que os homens sempre estão à frente de tudo”, explicou Karol.
Ao representar as organizações que participaram do projeto, Lourdes Rossetto, do MMC, resgatou algumas lutas realizadas nos últimos anos por mulheres camponesas que resultaram em conquista de direitos, que vão desde aposentadoria e salário-maternidade, até incentivos para a produção de alimentos saudáveis e a permanência das famílias no campo.
Lourdes também abordou mobilizações históricas das camponesas por direito à terra, saúde e educação, ressaltando que “a luta em defesa da vida deve ser fortalecida todos os dias e deve ocorrer de forma conjunta e unitária, por todos os movimentos”.
Na parte da tarde, representantes dos movimentos relataram ações que estão sendo desenvolvidas em suas organizações para debater a questão de gênero e defender a produção agroecológica, tanto em instância interna quanto para diálogo com a sociedade. Elas também denunciaram o modelo do agronegócio e condenaram o uso de agrotóxicos.
Neste sentido, Arlete Bulcão, do setor de gênero do MST, socializou as lutas realizadas anualmente pelas mulheres do Movimento no Estado, especialmente nos dias 8 de março e 25 de novembro – respectivamente, Dia Internacional das Mulheres e Dia Internacional de Luta pelo Fim da Violência contra a Mulher –, em defesa de seus direitos e da produção de alimentos saudáveis.
Ela ainda reforçou a necessidade de união do gênero para avançar nestas pautas. “É nosso dever unir forças para esta batalha, que não é fácil, mas que, com certeza, trará um futuro melhor para os nossos filhos e as próximas gerações”, disse.
O curso iniciou no primeiro semestre deste ano no RS, envolvendo cerca de 120 mulheres, e também contemplou camponesas nos estados de Santa Catarina e Paraná. Dividido em seis módulos, o projeto envolveu atividades práticas e teóricas de formação, através de temáticas como gênero na organização da produção, plantas medicinais, aromáticas e alimentícias, cooperação, economia feminista, políticas públicas, entre outras.