Para participantes, ato é fundamental para mostrar que há resistência ao golpe
O que mantém o acampamento é a solidariedade e o compromisso de pessoas como Valéria Borges, educadora e fotógrafa da comunidade Pedreira Prado Lopes e militante do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD). Ela doou 10 cobertores e algumas roupas para as pessoas que passam a noite no local. “Venho ao acampamento todos os dias e aqui tem gente do interior que veio a pé de Ouro Preto. Eu pensei: como esse pessoal faz para lavar, passar, dormir, se manter no lugar? Daí, resolvi contribuir com o que tinha”, relata.
Valéria doou cobertores e roupas para os acampados | Foto: Arquivo Pessoal |
Ela está impressionada com a organização e a solidariedade dos movimentos: “Eu não imaginava que pudéssemos ter uma organização dessas, com pessoas que não se preocupam com si mesmas, mas com o coletivo. Quando a gente só pensa na gente, fica em casa esperando as coisas acontecerem. Eu estava muito tensa com a situação, mas, depois do ato de domingo (1º), fiquei mais feliz e tranquila, por saber que não estou sozinha. A gente mostra para o Estado que a gente não está desmobilizado, que a gente não é inocente e não tem medo. Eles vão ter que pensar duas vezes para fazerem qualquer coisa, porque vai ter resistência”, comenta.
Como Valéria, dezenas de outras pessoas têm comparecido ao local para dar sua contribuição. A advogada Egídia Maria de Almeida, do bairro Silveira, acredita que a mobilização é fundamental para mostrar a resistência ao golpe. “É importante que outras pessoas vejam que não há unanimidade no processo movido contra a presidenta e que nós estamos muito envolvidos e preocupados com o que está acontecendo. Não vamos ficar parados, porque queremos fazer um país diferente”, diz. Ela compartilhou alimentos, uma barraca e um colchão inflável.
Para a psicóloga Mariana Tavares, que mora no bairro Funcionários, próximo à praça, trata-se de um momento especial na história política do país. “Eu tenho muita admiração por esses jovens acampados. Umas pessoas me perguntavam sobre onde tomar banho e ir ao banheiro. Isso me sensibilizou, além da própria causa do acampamento. Ontem, frequentei uma atividade dos atingidos pelo crime da Samarco. Quando cheguei, pensei em como essas pessoas têm uma coisa que minha geração não teve: lutar pela democracia na rua, em uma ocupação. A gente chega a sentir inveja dessa perspectiva tão livre, tão disponível e inovadora”, comenta. Ela ajudou com biscoitos, macarrão, absorventes e sabonetes.
Maria Goretti, que trabalha como assistente administrativa na saúde pública, trouxe calçados que ela comprou em um bazar. “Estou muito chateada e até um pouco doente de ver o meu país assim tão ameaçado. Eu não sei de quem será a vitória, mas não vou parar de lutar, inclusive, depois do dia 11”, afirma.
Fonte: Brasil de Fato