São Paulo – Mais de 40 mil pessoas, segundo a Frente Povo Sem Medo, organizadora do ato, participaram do protesto de hoje (31) contra o golpe e pela restauração da democracia. A manifestação foi em defesa da presidenta afastada Dilma Rousseff, na capital paulista. Os manifestantes começaram a se reunir às 14h no Largo da Batata, zona oeste da cidade. Por volta das 16h15, saíram em caminhada, em direção às proximidades da casa do presidente interino, Michel Temer, no bairro Alto de Pinheiros.
O tema do ato é “Fora Temer! O povo deve decidir! Defender nossos direitos, radicalizar a democracia!” Liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e um dos coordenadores da Frente Povo Sem Medo, Guilherme Boulos disse que o primeiro eixo do protesto é o Fora Temer, “porque esse governo é ilegítimo”. O segundo é a defesa dos direitos que estão ameaçados com o programa do golpe – “não precisou nem dois meses para que as máscaras caíssem e as razões do golpe fossem expostas em praça pública”. E por fim, que povo seja convocado a decidir que fim quer para a crise política.
“O Congresso não tem autoridade, não tem credibilidade para definir os rumos do país, para definir a saída política para essa crise, então entendemos que o povo deve ser chamado”, disse Boulos, para quem um plebiscito seria uma alternativa, não apenas para a questão do impeachment, mas para impulsionar a reforma política.
Os deputados federais Luiza Erundina e Ivan Valente, do Psol-SP, compareceram ao ato. “Eu lutei como muitos que aqui estão contra a ditadura militar. Fomos expulsas do Nordeste porque defendíamos a reforma agrária e a democracia”, discursou Erundina do alto do carro de som. Ela chamou a população a ir às ruas defender a democracia e pedir a saída de Temer.
O ex-senador Eduardo Suplicy defendeu a presidenta afastada Dilma Rousseff, dizendo que ela não cometeu crime de responsabilidade. Ele acrescentou que, se estivesse no Senado atualmente, votaria contra o impeachment e aconselhou os atuais senadores a votar contra o afastamento definitivo da presidenta.
No ato, havia bandeiras de diversas entidades, como Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, CTB, CUT, União da Juventude Socialista, União Nacional dos Estudantes, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) participou do ato em São Paulo e lembrou o papel da mídia no golpe. “A Rede Globo demorou 50 anos para pedir desculpas pelo golpe de 1964. E agora, quando tempo vai levar para se desculpar pelo golpe que está promovendo agora?”
Ódio e intolerância
Manifestantes pedindo a efetivação do impeachment de Dilma também saíram às ruas hoje, em atos esvaziados na comparação com outros protestos. Exceto em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde se registraram algumas centenas de pessoas ao longo dia, nas demais cidades pode-se se chamar de dezenas o público. Mesmo assim, alguns episódios de intolerância e hostilidade foram descritos nas redes sociais.
Na Avenida Paulista, algumas mulheres desdenhavam do fato de o governo interino de Michel Temer ser formado quase que exclusivamente por homens. Equipe do coletivo Jornalistas Livres chegou a ouvir da jornalista Joice Hasselmann, ex-blogueira da revista Veja: “Tem que parar com isso! Corrupção não tem sexo. Só porque Dilma é mulher pode fazer lambança no nosso país? Esse negócio de sexismo acho uma babaquice!”, disse Joice, ignorando o fato de que não há crime nenhum de que a presidenta possa ser acusada.
No Rio de Janeiro, um grupo de pessoas vestidas de verde e amarelo partiu para cima de uma comerciante que tinha em seu quiosque uma bandeira do Brasil com algumas faixas vermelhas. Segundo relato do Mídia Ninja, todos os clientes que estavam no quiosque saíram sem pagar, uma trabalhadora sofreu ameaças e foi agredida fisicamente e verbalmente por um homem que vestia uma blusa do Brasil rasgada, uma faca no pescoço, óculos de vespa verde e cartaz com os dizeres: morte aos vermes dos três podres poderes.
Em Curitiba, a atriz Letícia Sabatella foi xingada, ameaçada e de teve de receber escolta policial para sair do local. A artista passava pelo local quando a reconheceram e começaram a vir os xingamentos, que iam desde “comunista” até “puta”. Imagens foram postadas por Letícia em seu instagram e reproduzidas pela rede social do Brasil de Fato. Ela disse que não foi provocar ninguém. “Apenas passava pela praça antes de começar a manifestação e parei pra conversar com uma senhora. Meu erro. Preocupa esta falta de democracia no nosso Brasil. Eles não sabem o que fazem.”