Protagonismo da diplomacia brasileira e do conjunto das organizações internacionais não levou a mídia a incluir a visão de entidades ambientalistas nacionais na cobertura
A Conferência do Clima da ONU (COP-19) foi o principal destaque nas buscas pela cobertura da mídia brasileira sobre ONGs no período. A atuação do governo brasileiro ganhou destaque na imprensa, que trouxe boas matérias sobre os embates diplomáticos e divergências entre as nações. Outro destaque foi a decisão do conjunto das ONGs de abandonar a conferência em protesto contra o impasse nas discussões. No entanto, isso abriu pouco espaço para as ONGs e entidades ambientais brasileiras no debate sobre o tema.
A delegação brasileira apresentou proposta, apoiada pela maioria dos países emergentes, inclusive a China, de que os acordos sobre as emissões de gases poluentes devem levar em conta as responsabilidades históricas de cada nação. A proposta foi barrada pelas nações desenvolvidas, mas pautou senão os debates, a visão trazida do encontro para o público brasileiro.
Esta matéria do Estadão mostra bem a ação política dos países desenvolvidos contra a proposta brasileira. Segundo o texto, ONGs internacionais apoiaram a proposta brasileira, sendo citada especificamente a Climate Action Network (CAN), rede que inclui organizações brasileiras.
A atuação do conjunto das ONGs ganhou bastante destaque na cobertura desde o início, seja com críticas à realização da Cúpula Mundial do Carvão paralelamente ao evento ambiental ou com declaração conjunta alertando para a velocidade das mudanças climáticas.
O auge da ação foi a atitude inédita do conjunto das ONGs de deixar a COP-19 ganhou grande destaque e foi um dos fatos políticos mais citados pela imprensa (aqui e aqui), inclusive nas matérias de balanço após o fim do evento. O fato reforça a importância crescente da diplomacia não-governamental – uma das propostas desenvolvidas pelo Fórum Internacional das Plataformas Nacionais de ONGs (FIP), do qual a Abong faz parte.
As matérias, no entanto, referem-se ao conjunto das organizações, o que pode ter sido um fator contribuinte para a diminuição do espaço para as organizações brasileiras. Mesmo nos casos em que brasileiros(as) foram ouvidos(as), eram representantes de braços nacionais de organizações multinacionais, como o Greenpeace e o WWF.
Como exemplo da ausência, está matéria que trata de uma ação exclusiva do governo brasileiro, que aproveitou a conferência para anunciar uma ferramenta para monitorar emissão de gases no país. A chamada afirma que ONGs criticaram a falta de coordenação das políticas, mas o texto ouve apenas uma organização. É citado ainda um relatório de uma “rede de organizações ambientais”, sem identificar a rede ou as entidades – no caso, o Observatório do Clima.
Mídia retoma visão enviesada na cobertura de protestos populares
A cobertura sobre manifestações e protestos populares confirma a retomada de sua abordagem tradicional, que havia sido matizada após as Jornadas de Junho. Algumas matérias a respeito de uma manifestação de moradores de uma favela em São Paulo contra a reintegração de posse do terreno determinada pela Justiça a pedido da Prefeitura mostram esse comportamento.
Nesta matéria da Agência Folha Press, o destaque é claramente para a interrupção no trânsito da Marginal Tietê, como mostram a chamada e o início. Apenas no terceiro parágrafo o leitor descobre o motivo da manifestação. Esta nota do Uol ignora totalmente esse motivo e outras questões relacionadas aos moradores, dando apenas o boletim do trânsito. Os dois veículos do grupo Folha erraram ao apresentar uma visão parcial do fato, pautada pelo interesse momentâneo dos motoristas e deixando de discutir diferentes aspectos da questão: a questão da moradia e da reforma urbana, as políticas de habitação adotadas pela gestão municipal, o drama das famílias desabrigadas.
Nesta outra matéria, do Estadão Conteúdo, além da causa da manifestação não ser citada, a fala do representante do MTST foi resumida em um ambíguo “já causamos o que tínhamos de causar”. O texto comete os mesmo erros dos concorrentes ao trazer informações parciais, mas vai além: a frase fora de contexto do manifestante aliada à falta de informação faz parecer que o protesto pretendia apenas parar o trânsito, jogando os leitores contra o movimento.
Um exemplo de abordagem melhor vem dessa matéria da Agência Brasil (reproduzida pelo site da Exame). Já diz no título e linha-fina sabemos quem são os manifestantes e os motivos do protesto – sem que para isso o serviço sobre a situação do trânsito fosse deixado de lado.
ONG Brasil alcança repercussão baixa
A ONG Brasil, evento que reúnes ONGs de todo o país em São Paulo, teve uma repercussão moderada na imprensa. Além de algumas matérias anunciando o evento, a jornalista Fabíola Cidral, em seu programa na rádio CBN, entrevistou a presidente do Instituto Humanitare tendo como gancho a feira. Outro destaque vai para o jornal DCI, que reproduziu diversos releases e deu bom espaço à feira.
As buscas mostram também um grande número de releases da própria organizadora (aqui e aqui) – inclusive um sobre o lançamento da publicação Cenários, com citação à Abong – e também de organizações participantes (aqui e aqui).
Ato de lançamento da coalizão pela reforma política conseguiu espaço
O ato de lançamento da campanha de coleta de assinaturas para o projeto de lei de iniciativa popular da coalizão de movimentos sociais pela reforma política, em Brasília, alcançou repercussão relativa na mídia (aqui e aqui). As matérias dão maior centralidade à OAB, CNBB e ao MCCE, falando menos das demais organizações e não discutindo a coalizão.
O site da OAB reproduziu matéria da Carta Capital a respeito. A ordem destaca-se nas ações de assessoria de imprensa, com grande número de releases a respeito do tema.