Pesquisa revela que o surgimento de ONGs durante os anos 90, em contraponto a afirmação de alguns estudiosos, contribuiu para a diversificação e modernização da sociedade civil no Brasil.
O contrário do que afirmam certas correntes das ciências sociais, o surgimento das Organizações Não governamentais (ONGs) nos anos 1990 não prejudicou a politização e mobilização da população promovida pelos movimentos sociais surgidos no combate à ditadura. Está é uma das conclusões de um estudo conduzido pelo cientista político Adrian Gurza Lavalle, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM).
O estudo refuta a tese defendida por alguns pesquisadores segundo a qual um processo de “onguização” dos movimentos sociais nos anos 90 teria despolitizado a sociedade civil. Segundo Gurza, as ONGs conquistaram protagonismo mantendo-se ao lado de movimentos sociais e contribuindo para tornar as “ecologias organizacionais” mais complexas, sem substituição de um ator pelo outro. “Nossas pesquisas contrariam diagnósticos céticos que mostram uma sociedade civil de organizações orientadas principalmente para a prestação de serviços e a trabalhar com assuntos públicos de modo desenraizado ou pouco voltado para a população de baixa renda”, diz Gurza Lavalle.
O estudo reafirma o importante papel das organizações não-governamentais no estabelecimento de uma sociedade civil ativa e politizada. A pesquisa aponta também para a falta de uma regulação que favoreça a atuação desses atores e que contribua para o entendimento da heterogeneidade das organizações.
“Há implicações claras para a regulação sobre o terceiro setor, no sentido de que ela se torne menos uma camisa de força e mais um marco que ofereça segurança jurídica aos diferentes tipos de organizações da sociedade civil que recebem recursos públicos ou exercem funções públicas”, diz o pesquisador.
Acesse matéria da revista Pesquisa Fapesp a respeito da pesquisa.