No ritmo da viola e das cirandas o I Encontro Nacional de Agricultura Urbana (ENAU) iniciou nesta tarde (21/10) suas atividades na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Com mais de 250 representantes de organizações e agricultores (as) de todas as regiões do país, o evento busca refletir sobre o tema, discutir políticas públicas no âmbito federal, fortalecer o coletivo e promover trocas de experiências. A atividade é realizada pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o Coletivo Nacional de Agricultura Urbana e o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN). Uma feira com produtos agroecológicos de todo o Brasil está exposta ao público.
Segundo Marcio Mendonça, da Comissão Organizadora do ENAU e coordenador do Programa de Agricultura Urbana da AS-PTA, o encontro é um sonho construído coletivamente há muito tempo através das práticas de organizações em todas as regiões do país. A agricultura urbana reacende seu debate com o governo a partir de 2013, em Porto Alegre, num encontro com uma carta de cobrança e afirmação da importância do tema. No ano seguinte a ANA promoveu um seminário de agricultura urbana dentro do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), na Bahia, onde foi construída uma rede de diálogo sobre políticas públicas e nasceu o ENAU, lembrou.
“O problema não é a cidade, e sim que cidade queremos. Estamos tentando construir e partilhar essa problematização. Olhar o que essas experiências nos ensinam, e suas relações e conflitos por dentro das cidades. Discutir o modelo que queremos, as redes nos territórios. Para ganhar força e densidade é preciso interagir, chamar outros aliados para trazer outras questões. Construir a ideia de um ator coletivo, no sentido de reivindicar políticas públicas”, disse.
Daniela Almeida, também do Coletivo Nacional de Agricultura Urbana, reforçou a importância de um espaço de debate político para construir propostas para políticas que apoiem as práticas de agricultura urbana. Ela falou sobre eventos na última década e estratégias por meio do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) para que a agroecologia urbana seja reconhecida na produção orgânica no Brasil.
“Pensar qual agricultura urbana estamos falando. As cidades surgiram junto à agricultura, fazer essa organização dos sujeitos, a produção de pesquisas, etc. Precisamos combinar o encantamento, simplicidade e indignação. Em diferentes épocas e sociedades as populações sempre plantaram, então é pensar nesse encontro a importância dessas práticas para o futuro. Enfrentamentos para fazer esse simples acontecer. Debater o modelo de desenvolvimento, a produção de alimentos e suas contradições. Entender como a cidade é feita e produzida, e sua relação com o ambiente”, afirmou.
É emblemática a realização do ENAU na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), local onde em 2002 ocorreu o I Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) e constituiu a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), lembrou Denis Monteiro, secretário executivo da organização. Essas redes e articulações são feitas de muitos encontros, onde são valorizadas as experiências agroecológicas nas comunidades, acrescentou.
“Propomos coisas muito simples, e de uma beleza enorme: plantar para comer e sem agrotóxicos, resgatar remédios que nossas avós faziam, organizar feiras, etc. Tudo é fundamental para o futuro. Tivemos muitas conquistas, mas estamos remando contra a maré. Em 2002, por exemplo, o Brasil não era o campeão no uso de agrotóxicos. Temos um modelo de cidade excludente. Mas a nossa mobilização gera conquistas importantes, então precisamos fortalecer os movimentos e esse encontro tem esse papel. Continuar lutando por coisas simples, que mudam para melhor a vida de milhares de pessoas”, afirmou.
Às vésperas da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que será realizada em novembro em Brasília, Juliana Casemiro, do FBSSAN, falou sobre a oportunidade de levar elementos dessa discussão para o evento que está por vir. Possibilita uma reflexão sobre a comida como patrimônio e a contraposição a esse sistema alimentar que oferece alimentos envenenados e artificializados, complementou. “A pauta da agricultura urbana é mais um desdobramento para o tema comida de verdade”, disse.
A relação da agricultura urbana com a saúde também é essencial, lembrou Marcelo Firpo, do GT Saúde e Ambiente da Abrasco. “Nós da saúde coletiva estamos articulando há muitos anos uma estratégia de aliança com os alimentos saudáveis contra os impérios alimentares, e o anúncio de uma forma diferenciada de relação com a natureza através de outros modos de cultura que vêm se perdendo na sociedade capitalista. Pensar esse retorno da relação com a natureza através da agricultura urbana e a agroecologia, construir um caminho muito sólido de lutas políticas mostrando outro modelo de relação existencial e política com as pessoas”, concluiu.