Número representa apoio de 97% dos 7,7 milhões de votantes. Em outubro, resultado será entregue aos três poderes durante grande ato em Brasília
Por Nana Medeiros
O Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político, realizado na Semana da Pátria, coletou 7.754.436 votos em todo o país. Com mais de 90% das urnas apuradas, a proposta de reforma política obteve o apoio de 97% dos votantes, totalizando 7,52 milhões de pessoas.
Com mais de cem mil militantes engajados e quarenta mil urnas instaladas pelo país, a campanha, segundo a organização, superou expectativas. As informações foram divulgadas hoje (24) durante coletiva de imprensa em que se apresentou uma avaliação dos resultados da iniciativa.
Para militantes de diferentes movimentos sociais, engajados na luta por uma reforma do sistema político brasileiro, o resultado é extremamente positivo. Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), afirmou que o fato de o Plebiscito alcançar quase oito milhões de votantes é “extraordinário”, principalmente considerando que a ação teve pouca ou nenhuma repercussão na mídia tradicional. Para ele, o processo serviu para demonstrar a necessidade urgente de um novo marco regulatório da mídia, para que eventos como esse não sejam mais ignorados.
Mesmo assim, na opinião de Freitas, a mobilização pelo Plebiscito configurou-se como um movimento ainda mais amplo do que o realizado contra a ALCA em 2002, ainda que este tenha alcançado mais de dez milhões de votos. Isso porque a mobilização anterior, segundo ele, teve apoio de parte da mídia, de empresas e inclusive da Igreja Católica. “Dessa vez, com recursos parcos, nossa capacidade de mobilizar foi muito grande. O plebiscito influenciou nas eleições, demonstrando que tivemos sucesso na empreitada por uma reforma política e uma melhor convivência democrática no Brasil. Significa que o Brasil está preparado para uma Constituinte”.
A avaliação de João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do Movimento Sem Terra (MST), também é positiva. Para ele, o resultado deve ser comemorado, pois demonstra que a sociedade quer uma mudança no sistema político e considera indispensável maior participação popular no Congresso Nacional. Além disso, destacou que o Plebiscito é fruto de um processo de manifestações e de luta que aconteceram nos últimos anos e este resultado é “uma injeção de ânimo para continuar com a mobilização da população, uma nova ascensão de massa em que podemos desenvolver um novo debate na sociedade brasileira”.
Próximos passos
Após a contagem dos votos, a campanha pelo plebiscito pretende dar continuidade à luta. A ideia, segundo os representantes dos movimentos sociais, é realizar entre os dias 14 e 15 de outubro um grande ato público em Brasília para a entrega dos documentos e pressionar o Congresso Nacional para a realização da Constituinte.
Além disso, segundo João Paulo Rodrigues, a expectativa agora é de organizar grandes debates e plenárias entre a sociedade civil para elaborar qual será a natureza de uma reforma política no país, envolvendo ainda mais organizações e movimentos. Para ele, o processo eleitoral é um momento oportuno para se debater qual projeto político quer a sociedade brasileira. “Essa reforma vai beneficiar o conjunto da classe trabalhadora e outros segmentos que não estão representados atualmente no sistema político”, afirma.
Segundo Vagner Freitas, a oficialização de uma constituinte exclusiva e soberana só acontecerá através de um decreto legislativo e depende, portanto, de intensa pressão popular. Para os/as representantes da Campanha, as perspectivas são de que o próximo Congresso Nacional irá reproduzir o que já existe, sendo necessária a disputa dentro do Parlamento e junto à sociedade.
Para Paola Estrada, da Secretaria Operativa Nacional do Plebiscito Popular da Constituinte, essa mobilização pode ser auxiliada pelas redes sociais, elemento importante para a construção da campanha, principalmente para alcançar o público jovem. “O plebiscito trata de uma bandeira que dialoga com as organizações da sociedade civil, mas também com a juventude, que não se sente mais representada pelo sistema político atual”. Segundo ela, durante a Semana da Pátria, o site alcançou mais de cinco milhões de acesso e os votos feitos virtualmente contabilizam quase dois milhões.
O uso das redes sociais, segundo Estrada, é importante para furar o bloqueio da mídia, que não possibilita uma difusão democrática de informação pública. Segundo ela, um bom exemplo é o fato de veículos tradicionais terem ignorado que candidatos e candidatas à presidência participaram da votação e que a presidenta Dilma se pronunciou a favor da Campanha.