Durante evento de lançamento da segunda fase do projeto, em Belo Horizonte, ex-presidente afirmou que, se voltar a disputar uma eleição, será para fazer “mais e melhor”
“Parece fácil, mas não é todo mundo que entende o que é democracia.” Assim o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou nesta segunda-feira (10) à noite suas ponderações sobre o significado do lançamento da segunda fase do Memorial da Democracia, um museu virtual com o objetivo da contar a história da luta pela conquista da democracia no Brasil.
“Houve época em que democracia era a gente poder gritar que tinha fome. Depois a gente aprendeu que democracia era comer. E depois fomos aprendendo que queríamos ser sujeitos da história e para isso tinha que estar em cima do palanque”, afirmou, durante a cerimônia no Palácio das Artes, em Belo Horizonte.
Ao citar os mais de 300 episódios e 24 capítulos especiais lançados pela nova etapa do Memorial, que abrange os períodos de 1930-1945, da Revolução de 30 até o final do governo de Getúlio Vargas; e de 1945-1964, ano do golpe civil-militar, Lula recordou algumas transformações importantes que vivenciou, inclusive nas lutas sindicais, numa época em que sindicato era “coisa de homem” e mulher de saia podia ser “mal vista”. “Fomos avançando, mas ainda falta muito para chegarmos numa sociedade ideal e efetivamente democrática”, ponderou.
Sobre o Memorial da Democracia, o ex-presidente disse que a ideia inicial era construir um prédio físico, e até um projeto de lei nesse sentido chegou a ser aprovado pela Câmara de Vereadores de São Paulo, porém o Ministério Público embargou a cessão do terreno. Com os empecilhos, decidiu-se então por um memorial multimídia na internet.
“Um memorial que conta a história desconhecida desse país, uma parte da história que não foi publicada nos livros ou contada de modo mentiroso pelos vencedores”, afirmou Lula. “Nesse memorial queremos provocar a sociedade a discutir democracia até as últimas consequências.”
De acordo com o ex-presidente, embora o Memorial seja destinado a todos, o projeto tem especial interesse no público formado por estudantes e educadores. “Nós queremos que este material chegue nos professores, que vão formar os futuros democratas deste país. Queremos que os estudantes, conheçam, visitem, se questionem.”
Crise e eleições
Segundo o ex-presidente, a sociedade brasileira precisará ter a coragem de discutir qual o Estado democrático que quer para o país. Para ele, o Brasil precisa ter controle sobre o seu próprio destino, caso contrário, nunca será uma grande nação, ficando sempre na dependência de outros países e do mercado financeiro.
Lula disse ter descoberto que era possível chegar à Presidência da República pelo voto em 1989, quando ficou em segundo lugar no pleito vencido por Fernando Collor. Até então, confessou, tinha dúvida se seria mesmo viável um simples trabalhador, pelas vias democráticas, ser eleito presidente.
Ao se referir ao atual momento do governo de Michel Temer, Lula vaticinou: “Vão dar um golpe nas barbas dele (Temer), a própria turma dele”. E foi além, reforçando o discurso da importância de o povo ser convocado para decidir seu destino pelo voto.
“A democracia tem muitos defeitos. É difícil defender a democracia, é difícil ter jornal te xingando todos os dias, sindicalista fazendo greve, Ministério Público em cima, é um inferno, mas não tem nada melhor”, afirmou o ex-presidente.
Memória e verdade
Iniciativa do Instituto Lula, o Memorial da Democracia, inaugurado em setembro de 2015, foi concebido por uma equipe de jornalistas, historiadores, educadores, artistas e pesquisadores, com o objetivo de colocar à disposição da população brasileira “conteúdos dinâmicos sobre a longa caminhada desde a Colônia até o século 21 em busca de democracia com justiça social”.
Os primeiro períodos históricos já lançados pelo Memorial da Democracia foram de 1964-1985 e de 1985-2002, ano da eleição do ex-presidente Lula. O memorial é apresentado no formato de uma linha do tempo, acrescida de fatos e movimentos à parte, como a reforma agrária nos anos de 1960, a resistência da imprensa alternativa na ditadura, a luta estudantil e a construção das leis trabalhistas, por exemplo.
Durante a cerimônia, o jornalista Franklin Martins, coordenador do Memorial da Democracia, explicou que o memorial tem a proposta de dialogar o tempo todo com o presente, com a vantagem de que as pessoas interessadas não precisam ir até o museu, mas é o museu que vai até o cidadão pela internet.
Para ele, a segunda fase apresentada agora, abrangendo de 1930-1945 e de 1945-1964, foi uma época importante para a consolidação da democracia no país. “É um período riquíssimo na construção da democracia no Brasil, porque pela primeira vez o povo começa realmente a participar da disputa política do país”, afirma Franklin Martins. “A Constituição de 1946 disse que o poder é do povo e o povo acreditou nisso, principalmente a classe trabalhadora”, destacou.
Fonte: Rede Brasil Atual