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Documentário mostra luta por moradia em SP

Filme LEVA retrata a organização dos movimentos por moradia no centro de São Paulo e o dia-a-dia de uma das maiores ocupações que a cidade já teve, a Mauá

Há quase 2 semanas, o centro de São Paulo viveu um dia de caos e sofrimento. A Polícia Militar executou uma reintegração de posse, à pedido da Justiça, em um hotel abandonado havia 10 anos. Foi o que deflagrou uma onda de violência que extrapolou a expulsão do edifício, localizado na esquina das avenidas São João e Ipiranga. Desde fevereiro, no Carnaval, cerca de 800 pessoas – 200 eram crianças – ocupavam o espaço, dividido em pequenas suítes, ao longo de 23 andares. Os moradores resistiram. A Tropa de Choque avançou com gás lacrimogéneo, bala de borracha e carro blindado, que arrancou a porta da frente.

A situação do direito à moradia em São Paulo – um direito humano previsto na Constituição e na carta da ONU – é grave. O documentário LEVA, de 2012, revela como vivem as pessoas que moram em ocupações no centro da capital paulista e de que forma os movimentos por moradia se organizam. “No coração de São Paulo pulsa o maior movimento de luta por moradia da América Latina”, diz a sinópse. O filme apresenta entrevistas com representantes da Frente de Luta por Moradia (FLM), do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC), do Movimento por Moradia Região Centro (MMRC), entre outros, e mostra a luta pelo direito de morar no centro, além da transformação dos espaços abandonados pelas mãos dos moradores, em um esforço coletivo e orquestrado.

Com produção da Preta Portê Filmes e do Canal Futura. o documentário venceu do 1º Pitching DOC Futura e mostra, de forma transparente e fiel, a trajetória de alguns lóderes e moradores da ocupação Mauá. São brasileiros que almejam viver com dignidade e sem o estigma de “coitadinho” ou o rótulo de “vagabundo”.

Reintegração de posse da Ocupação São João, no dia 16/09 | Foto: Ponte Jornalismo

LEVA foi filmado em 2010 e lançado em 2011. Segundo Juliana Vicente, que divide a direção com Luiza Marques, a equipe passou um grande período dentro da ocupação e participaram de ocupações com os movimentos sociais. “Ficamos um tempo entendendo quem eram eles e eles entendendo quem éramos também. Naquele momento, a Mauá tinha 3 para 4 anos, eles tinham acabado reocupar a Prestes Maia. Tinham feito um movimento imenso em outubro e não se falava em despejo na Mauá naquele momento”, explica.

Como explica Juliana, a Ocupação Mauá trazia na sua formação algo de diferente: reunia as 3 siglas que representam os movimentos de luta por moradia. São lideranças fortes e bem articuladas. “Depois de entender a seriedade da luta, filmamos o LEVA e nos tornamos próximos do pessoal da ocupação”, conta Juliana. “Não foi um processo de convencimento, eles entenderam que a gente compreendia a importância de fazer esse filme lá e se dispuseram a participar, deixar a gente acompanhar os detalhes, andar nas veias da ocupação”, analisa.

Pós Filme

Dois anos mais tarde, Juliana Vicente voltou a conversar com a Neti, uma das coordenadora da Ocupação Mauá, para filmar um clipe dos Racionais naquele espaço. Juliana relembra que os moradores tinham acabado de receber a ordem de despejo e ainda não tinham avisado e nem publicado nada sobre o assunto. A ocupação tinha completado 5 anos. O ofício havia chegado 5 dias antes. Filmar o clipe de “Mil faces de um homem leal – Marighella” por lá, com o principal grupo de rap do país, reforçava a importância da causa e dava a dimensão da questão da moradia no coração da cidade.

“A gente passou a reunir na produtora Preta Portê Filmes, advogados, defensoria pública, coordenadores do movimento, jornalistas, ativistas, uma série de pessoas para somar forças junto com o pessoal, para tentar que não houvesse outro Pinheirinho ou o que ocorreu na Ocupação São João recentemente”, relata a diretora.”Foi importante demais a presença dos Racionais e a entrevista com o Mano Brown naquele momento”, lembra Juliana.

O documentário LEVA não é apenas um filme. Representa uma situação social quase invisível, mas que alcança muita gente e estampa um dos nervos expostos das políticas públicas da cidade, do estado e do país. Sem rotular, LEVA descreve a estrutura e a força dos movimentos por moradia.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=xn2um8xhc4o]

Fonte: Ponte Jornalismo

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