A Cardume surge para potencializar as vozes das organizações e dar maior visibilidade às pautas dos direitos humanos
Por Observatório
Somente seis grupos de comunicação detêm 667 veículos dentre rádios, jornais e emissoras de TV, de acordo com relatório do Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação de 2014. O monopólio midiático está nas mãos de poucas famílias. A programação da Globo, SBT e Record continuam sendo o meio de informação da maior parte dos/as brasileiros/as que consomem a televisão como meio de entretenimento e informação. Segundo estudo da Kantar Ibope Media de 2017, 53% dos/as brasileiros/as dizem confiar na televisão para se informar. Consequentemente, as organizações da sociedade civil (OSCs) não conseguem ter um grande alcance de público para suas pautas e atividades, ainda mais em um momento de avanço do conservadorismo, da criação de leis anti-direitos e retrocessos nas políticas públicas.
Em resposta a esse ambiente e com o intuito de fortalecer e dar maior visibilidade para as pautas das OSCs nasceu a Cardume – Comunicação em Defesa de Direitos, uma rede constituída por organizações da sociedade civil representadas por seus comunicadores/as. O nome da articulação foi inspirado no aglomerado de peixes que nada numa mesma direção e ganha mais força. A ideia é que as organizações juntas têm mais força do que isoladas.
A Cardume nasceu no Encontro Nacional de Comunicadores e Comunicadoras da Sociedade Civil pela Defesa de Direitos, que aconteceu de 25 a 29 de setembro em São Paulo. Vinte comunicadores/as de organizações de todas as regiões do país se reuniram para fomentar a articulação do núcleo facilitador da rede, cujo objetivo essencial é pautar, organizar e disseminar para o público as produções sobre diversas temáticas, além de promover a troca de experiências e ferramentas práticas para o maior engajamento virtual. A assessora de comunicação da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), Susanne Buchweitz, que participou da criação da iniciativa, pontua que “uma das coisas mais positivas que aconteceu no Encontro foi a criação de um espaço seguro, onde todas e todos pudemos compartilhar angústias, especialmente no que se refere a esse bombardeio de perda de direitos. Como dar conta? Compartilhar esse sentimento e ver a possibilidade de juntar forças é reanimador”, afirma.
Os/as participantes saíram do evento com a missão de replicar o debate sobre o direito à comunicação em suas respectivas regiões com o objetivo de ampliar a Cardume integrando comunicadores/as de outras organizações do campo. As atividades já aconteceram em Brasília, Recife, São Paulo, Palmas e Bahia. Além disso, os/as comunicadores/as são fundamentais na mobilização de participantes para cursos à distância sobre Comunicação Estratégica e Incidência Política, que visam à formação política e partilhamento de técnicas de engajamento político nas redes sociais. Tanto a Cardume, como as atividades de formação fazem parte do projeto Sociedade Civil Construindo a Resistência Democrática, uma realização da Abong junto às suas associadas Camp, Cese e Cfemea apoiada pela União Europeia.
Para o membro da direção executiva da Abong Mauri Cruz a rede tem importância em nível nacional e internacional e o principal desafio nesta formação é criar estratégias comuns com diversas organizações de temáticas, incidência e comunicação diferentes. “Eu acho que a possibilidade de romper essa barreira da grande mídia corporativa é a nossa capacidade de nos unificar em lutas e causas e criar ferramentas e até instrumentos coletivos para isso”, observa.
A agenda da Cardume para o próximo período contempla campanhas temática nas redes sociais. O lançamento da primeira está previsto para o início de 2018 e tratará do direito a comunicação e da criminalização de movimentos e organizações pela mídia. “Teremos momentos importantes em 2018 como o Fórum Mundial Social, o 8 de março e todo um processo eleitoral que demandará da Cardume estratégia e posicionamento como porta voz das OSCs, de forma que as campanhas serão momentos tanto de pactuação, quanto de potencialização dos movimentos sociais pela defesa de direitos”, acredita Masra de Abreu, assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea).