A Articulação AGRO é FOGO, da qual a CESE faz parte, reúne cerca de 30 movimentos, organizações e pastorais sociais que atuam há décadas na defesa da Amazônia, Cerrado e Pantanal e seus povos e comunidades. Surgiu enquanto articulação como reação aos incêndios florestais que assolaram o Brasil nos últimos dois anos. O que move a Articulação é não somente a necessidade de qualificar o debate público, mas, sobretudo, ir além das imagens de satélite e números de desmatamento, trazendo a dimensão do que é vivido no chão da floresta e dos sertões.
No dia 14 de abril a articulação lançou o Dossiê Agro é Fogo: grilagem, desmatamento e incêndios na Amazônia, Cerrado e Pantanal. O material está disponível no portal: https://agroefogo.org.br/
A plataforma agrega análises e denúncias sobre as múltiplas dimensões da devastação ambiental e dos conflitos por terra que se dão no rastro do uso criminoso do fogo pela cadeia do agronegócio, evidenciando a relação intrínseca entre a questão ambiental, agrária e fundiária no Brasil.
As análises apresentadas neste Dossiê abordam as seguintes temáticas:
A boiada está passando: desmatar para grilar; O agronegócio e o Estado brasileiro: quem lucra quando a boiada passa?; Presidência e parlamento a serviço dos grileiros: legislar para grilar; Ligações perigosas: fundos de pensão internacionais, incêndios e grilagens no Matopiba; Trabalho escravo, expropriação e degradação ambiental: uma conexão visceral; Saberes que vêm de longe: Usos tradicionais do fogo no Cerrado e Amazônia.
Além desses artigos, a plataforma apresenta também seis casos de conflitos territoriais:
A luta da comunidade quilombola Barra da Aroeira na defesa de seu território; Fogo ameaça povo indígena isolado na Ilha do Bananal; Gleba Tauá: luta pela terra no Cerrado tocantinense; Território Guató em chamas: “As árvores não têm pra onde correr!”; Território Kadiwéu e as queimadas; Tragédia anunciada na BR-319.
Segundo Valeria Santos, da Comissão Pastoral da Terra, o que há de novo no dossiê são todas as conexões e análises que desmarcaram esse conceito do Agro Pop, Agro Tech que é ressaltado pelos veículos de comunicação: ‘‘ O que o coletivo propõe a partir dessa plataforma é abrir um diálogo com a sociedade, a partir de um espaço virtual e permanente, onde os povos tradicionais atingidos por tantas violações possam fazer suas denúncias. A sociedade civil precisa compreender melhor esse contexto e o que está posto. Quem está lucrando com essa ”boiada” passando? O que o estado brasileiro tem feito para financiar e apoiar o avanço do agronegócio no campo, nos territórios indígenas e quilombolas?”.
A CESE, com o apoio de HEKS-EPER, contribuiu com a produção do dossiê através do projeto ” Em defesa dos Territórios dos Povos do Pantanal, Cerrado e Amazônia – Agro é Fogo ” , com objetivo de fortalecer o campo popular na disputa de narrativas em torno da questão das queimadas e desmatamento, dando centralidade aos povos indígenas e comunidades tradicionais, seus direitos territoriais e modos de vida.
Na data do lançamento, aconteceu uma roda de diálogo sobre a produção do dossiê. A live contou com a participação de Valéria Santos, integrante da CPT, Antônio Apinajé, liderança indígena do Povo Apinajé, e Maurício Torres, professor do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (Ineaf). Todas essas pessoas contribuíram com a produção do Dossiê. A mediação do bate papo foi realizada por Ana Paula Sabino. Confira aqui: