País ocupa a primeira posição em ranking da Global Witness pelo quarto ano consecutivo
O Brasil lidera, pelo quarto ano consecutivo, a lista de países que mais tiveram ativistas ambientais e agrários assassinados. É o que revela a ONG internacional Global Witness que divulgou balanço nesta segunda-feira (20).
Segundo a organização, das 29 mortes de líderes e militantes de causas ambientais ou agrárias registradas no país no ano passado, 26 delas estavam ligadas a conflitos de terra. Quatro das vítimas eram indígenas.
O Brasil está à frente de países como Colômbia (25 mortes em 2014), Filipinas (15 mortes) e Honduras (12 mortes). Ao todo, 477 “ativistas ambientais ou agrários” foram assassinados no país desde 2002, diz a ONG.
Conforme informa a BBC, a ONG ainda adverte que esses números podem estar subestimados, já que muitos ativistas vivem em comunidades pobres e remotas, com acesso limitado aos meios de comunicação e à mídia.
Já a Comissão Pastoral da Terra, que monitora a violência no campo há 30 anos, identificou que em 2014 foram 36 mortes, um crescimento de 6% em relação a 2013. De acordo com a CPT, o estado mais violenta foi o Pará, com 50% dos assassinatos.
Falta de justiça
“Muitos dos suspeitos de [serem] mandantes desses crimes de 2014 são poderosos latifundiários”, disse à BBC Brasil Billy Kyte, um dos principais autores do estudo.
A Global Witness cita, como exemplo da violência no campo em 2014, o caso de Raimundo Rodrigues da Silva, líder de uma comunidade rural no Maranhão.
Ele levou um tiro e foi para o hospital e, enquanto estava internado, dois homens tentaram sem sucesso entrar no seu quarto para matá-lo. Pouco tempo depois, ele veio a falecer em decorrência dos ferimentos causados pela bala.
No Brasil, segundo Billy Kyte, a impunidade também “é o maior problema”. “O Brasil precisa monitorar esses assassinatos e levar os responsáveis à Justiça. Existe uma falta de vontade política [no país] para fazer justiça pelos mortos nesses conflitos.”
A Global Witness diz em seu relatório que muitos mandantes de assassinatos de ativistas “escapam” de investigações, “mas as informações disponíveis sugerem que grandes latifundiários, empresários, políticos e agentes do crime organizado frequentemente estão por trás desse tipo de violência”.
Rubens Siqueira, da Comissão Pastoral da Terra, também disse à BBC que a falta de punição “incentiva” a violência no campo. Ele lembra o massacre de Eldorado de Carajás – quando 19 sem-terra foram mortos a tiro por policiais em uma marcha de protesto contra a demora para a desocupação de terras em Eldorado dos Carajás, no Pará.
O massacre completou 19 anos na última sexta-feira e, até hoje, ninguém foi punido.
Fonte: Portal Fórum