Confira a Carta Convocatória do IV ENA Agroecologia e Democracia unindo campo e cidade
O IV Encontro Nacional de Agroecologia (IV ENA) ocorrerá entre os dias 31 de maio e 3 de junho de 2018, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, estado onde há uma rica história de participação e mobilização das organizações da sociedade civil na promoção das experiências agroecológicas, de consumidores e construção de espaços ativos de interlocução com o governo do estado sobre políticas para agricultura familiar, agroecologia e segurança alimentar e nutricional.
Na região metropolitana de Belo Horizonte, há experiências pioneiras de agricultura urbana que dialogam com o direito à cidade. Há, ainda, iniciativas inovadoras de movimentos e coletivos que propõem a ocupação dos espaços públicos e o envolvimento das juventudes em ações culturais e de defesa de direitos.
Essas experiências interagem com o lema do IV ENA:
Agroecologia e Democracia Unindo Campo e Cidade
Duas mil pessoas de todos os estados do Brasil estarão reunidas, sendo 70% de agricultores(as) familiares, camponeses(as), povos indígenas, comunidades quilombolas, pescadores(as), outros povos e comunidades tradicionais, assentados(as) da reforma agrária e coletivos da agricultura urbana; 50% de mulheres e 30% de jovens diretamente envolvidas na construção da agroecologia em contraposição ao projeto dominante imposto por grupos do capital financeiro, industrial e agrário.
A convocação do IV ENA é feita pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), uma rede nacional formada por organizações, redes regionais e movimentos sociais do campo, da floresta, das águas e das cidades de abrangência nacional e regional, juntamente com fóruns e outras articulações, fruto de dinâmicas de construção de diálogo e convergência na perspectiva da agroecologia com o feminismo, a soberania e segurança alimentar e nutricional, saúde coletiva, economia solidária, direito à cidade e justiça ambiental.
Seu formato buscará articular uma constelação de atividades em vários espaços que incluem feira de sabores e saberes, atividades culturais, mostra de cinema e debates públicos com momentos internos de aprofundamento de temas mobilizadores, em diálogo com organizações parceiras, na perspectiva de fortalecimento da luta por um sistema agroalimentar baseado na agroecologia e soberania alimentar.
Os sentidos políticos
Em 2018, celebraremos trinta anos da Constituição Federal de 1988. Esta é uma das razões que inspiram o nosso lema. A história, desde então, foi marcada por várias conquistas e afirmação da perspectiva democrática. Mas estamos assistindo, hoje, à ofensiva neoliberal com uma progressiva desconstrução de direitos e negação de seus fundamentos. Queremos reafirmar os sentidos da democracia e situar a agroecologia no campo de disputa por uma nova sociedade e promover um diálogo entre campo e cidade. Vivemos tempos de desmonte das políticas públicas, mas são tempos também de resistência e de renovação de paradigmas, de afirmação de iniciativas de autogestão e renovação de utopias.
Por isso, afirmamos como sentidos políticos do IV ENA:
→ Visibilizar a disputa de projeto de sociedade e as importantes lutas que acontecem cotidianamente nos territórios, evidenciando a ação dos sujeitos que praticam a agroecologia como construção de proposta de um campo contra hegemônico;
→ Revigorar o movimento agroecológico, acenando para o papel protagonista das mulheres, das juventudes, dos sujeitos coletivos das florestas, das águas, dos campos e das cidades;
→ Aprofundar o que se entende por conexão cidade e campo, ou seja, olhar para a cidade como território, conhecer o que significa agroecologia “da” e “na” cidade, e ressignificar o direito à cidade;
Os objetivos
Nesse contexto, animam-nos os seguintes objetivos:
→ Apresentar para amplos setores da sociedade experiências do campo, das florestas, das águas e das cidades que mostram os múltiplos benefícios da agroecologia: produção de alimentos saudáveis; recuperação e conservação de fontes de água, da biodiversidade, das florestas e dos solos; democratização do uso da terra; geração de trabalho digno e renda; valorização das identidades e das culturas representadas pela diversidade dos sujeitos;
→ Manifestar posicionamento crítico e denunciar o desmonte das políticas públicas e violação dos direitos, conclamando setores urbanos a se engajarem na defesa de políticas e ações públicas para a Reforma Agrária, defesa dos territórios dos povos e comunidades
tradicionais e nas cidades, assim como o fortalecimento da agricultura familiar e camponesa e dos coletivos urbanos que praticam a agroecologia;
→ Estreitar laços e ampliar alianças do movimento agroecológico com redes, fóruns e movimentos sociais que interagem com a perspectiva agroecológica, afirmando valores emancipatórios para a vida das mulheres, contra o machismo e o patriarcado, em favor dos direitos das juventudes, contra o racismo e o etnocídio, e avançar no diálogo sobre a agroecologia e a função social das cidades.
→ Aprofundar o debate sobre os sentidos estratégico e político da comunicação e da cultura, no contexto de hegemonia das corporações da comunicação e de ofensiva conservadora em relação à cultura, e afirmar a comunicação e a cultura como direitos sem os quais a democracia é ameaçada pela impossibilidade da multiplicidade de vozes e a agroecologia não alcança na plenitude o seu potencial transformador.
Orientações estratégicas
Já está em marcha a construção do IV ENA. Uma dinâmica de processo que se expressa nas várias iniciativas em curso, nos meses de setembro a novembro, como a participação de organizações e movimentos em atividades durante o Congresso da Associação Brasileira de Agroecologia (CBA);
a realização do Encontro Regional Sudeste, o ERÊ em Belo Horizonte, juntamente com o Festival de Arte e Cultura do MST, onde ocorreu o lançamento do IV ENA; o encontro dos(as) jovens em Pernambuco e o encontro de agricultores(as) experimentadores(as) no Nordeste; o Encontro Estadual de Agroecologia do Rio de Janeiro, e outros que virão.
É importante que esse processo se alimente de diretrizes como:
→ Partir de experiências concretas como princípio metodológico e politizar a reflexão sobre seus sentidos no atual contexto histórico, trabalhando múltiplas linguagens da comunicação e da cultura;
→ Estimular a mobilização social com a realização de sistematização coletiva das experiências e análise das trajetórias de lutas, conquistas, desafios e retrocessos vividos, expressos numa linha ou rio do tempo, conjugando denúncia e anúncio;
→ Refletir sobre os territórios como espaço de disputa, reconhecendo as cidades também como parte do processo de construção dos territórios da agroecologia;
→ Trabalhar a comunicação e a cultura como dimensões estruturadoras da reflexão e divulgação das experiências agroecológicas;
→ Ampliar e aprofundar o diálogo com outros setores da sociedade, engajando segmentos organizados do meio urbano.
Mobilização nos territórios, estados e regiões
Sob a inspiração dos objetivos e orientações estratégicas do IV ENA, apresentamos algumas sugestões para o processo de mobilização:
→ Analisar as experiências agroecológicas no contexto das disputas pelo território realizadas por meio de redes localmente/regionalmente situadas;
→ Valorizar as sistematizações e visibilizar as ações de comunicação dos grupos e organizações;
→ Mapear os sistemas agrícolas tradicionais e práticas de transição agroecológica das organizações e articulações existentes nos territórios e suas lutas contra os projetos de mineração, barragens e agronegócio;
→ Pautar o ENA em atividades de articulação e apresentação de experiências já previstas pelas organizações, redes e fóruns, favorecendo o seu enraizamento;
→ Realizar aproximação com movimentos e organizações sociais que interagem com a proposta do IV ENA de luta pela democracia e direitos como por exemplo: movimento feminista; movimento negro; organizações de jovens; sindicatos urbanos; movimentos pela saúde e moradia; núcleos de saúde coletiva e agroecologia nas universidades; fóruns e articulações em defesa da alimentação adequada e saudável; organizações de consumidores e movimentos culturais e pela democratização da comunicação;
→ Favorecer as conexões entre as experiências agroecológicas do campo com a cidade e na cidade articulando com as lutas de organizações urbanas pelo direito à cidade;
→ Aprofundar os temas mobilizadores do IV ENA a partir das experiências e da análise da situação dos marcos institucionais em vigência ou ameaçados de desconstrução.
Temas mobilizadores
Como estratégia central de sua trajetória de construção, a ANA organiza suas dinâmicas de interação em âmbito nacional a partir de temas mobilizadores com uma dupla função:
→ Interpretação crítica das práticas sociais concretas da construção da agroecologia nas regiões;
→ Vinculação da análise das experiências locais/regionais com reflexões políticas relacionadas ao padrão dominante imposto pelos agentes do agronegócio e dos grandes projetos de mineração e hidronegócio.
Para o IV ENA, sob a inspiração da pergunta que se mantém atual “Por que interessa à sociedade apoiar a agroecologia?”, movem-nos antigas e novas perspectivas em busca da construção de sínteses:
→ Que os temas sejam abordados no duplo sentido da denúncia e do anúncio, a partir das experiências concretas, inserindo a estratégia de comunicação;
→ Que o debate dos temas represente um passo a mais na conexão de organizações parceiras, de alianças e de diálogo intertemas, considerando os resultados do Encontro de Diálogos e Convergências, realizado em Salvador, em 2011;
→ Que se intensifique a interação campo e cidade e também a expressão do olhar dos sujeitos dos vários biomas sobre o mesmo tema;
→ Que o debate leve em conta articulações e debates em curso na sociedade na relação com as parcerias, a exemplo dos debates do Fórum Mundial das Águas.
→ Que seja um momento de aprofundamento dos temas à luz de conceitos como Comuns e
Bem Viver em oposição à mercantilização e à financeirização;
Por ora, listamos as propostas preliminares de temas a serem debatidos, que resultaram das reuniões da Comissão Organizadora do IV ENA:
→ Terra e território: povos indígenas, povos e comunidades tradicionais, reforma agrária – conflitos e resistências;
→ Construção social de mercados; vigilância sanitária e certificação;
→ Construção do conhecimento, comunicação e cultura;
→ Água: conservação e democratização do acesso e gestão;
→ Mulheres, feminismo e economia feminista e combate à violência;
→ Soberania alimentar e segurança alimentar e nutricional, culturas alimentares e nutrição;
→ Agriculturas urbanas e direito à cidade;
→ Mudanças climáticas e agroecologia;
→ Sementes, sociobiodiversidade e plantas medicinais;
→ Construção do conhecimento agroecológico e educação do campo;
→ Agrotóxicos e transgênicos x alimentação saudável e questão da saúde;
→ Juventudes.
Está ainda a definir se serão incluídos os temas de financiamento, criação animal e pesca. Grupos de trabalho definirão mais precisamente os conteúdos e abordagens dos temas, em
interação com organizações parceiras do campo agroecológico, que serão objeto de novo informe no processo de preparação do IV ENA.
Um apelo importante
Realizar o IV ENA no contexto de profunda crise que vivemos é RESISTÊNCIA. É um ENA de LUTA e precisamos adotar uma perspectiva COLABORATIVA.
Por isso, é importante que em cada estado tenha uma pessoa de referência para conectar-se com as articulações regionais e comissão organizadora nacional. O estímulo à produção e doação de comida de verdade, assim como de remédios caseiros para a partilha com os(as) participantes do ENA será tão importante quanto a venda dos produtos e interação com a sociedade na feira dos Sabores e Saberes. É muito importante também que as redes e articulações estaduais mobilizem recursos e apoios para garantir o deslocamento das suas delegações até Belo Horizonte.
Rumo ao IV ENA!
AGROECOLOGIA E DEMOCRACIA UNINDO CAMPO E CIDADE!