Neste 13 de maio, reivindicado como data de denúncia de uma abolição incompleta, movimento negro protesta exigindo auxílio emergencial de R$ 600 e o fim da violência policial: “Nem bala, nem fome, nem covid”
São Paulo – Com o lema, “Nem bala, nem fome, nem covid. O povo negro quer viver!”, o movimento negro realiza protestos nesta quinta-feira (13) em 41 cidades diferentes, sendo 21 capitais do país, contra o racismo. Organizada pela Coalizão Negra por Direitos – que reúne centenas de entidades –, a iniciativa pretende mobilizar mais de 200 mil pessoas em um “13 de maio de luta”. Os protestos cobram o fim da discriminação racial, do genocídio negro, das chacinas e exige a construção de mecanismos de controle social da atividade policial.
As manifestações marcam ainda este 13 de maio, antes lembrado como o Dia da Abolição da Escravatura, mas hoje celebrado como o Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo. A avaliação dos organizadores é que, mesmo após 130 anos da assinatura da Lei Áurea, que decretou a libertação dos escravos no Brasil, os resquícios da escravidão ainda fazem vítimas.
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 79% das vítimas que morrem em ações policiais são pessoas negras. E, de acordo com estudo publicado no Jornal Britânico de Medicina (BMJ, na sigla em inglês), pobres e negros estão em maior risco de serem infectados devido às condições socioeconômicas.
Justiça por Jacarezinho
A mobilização também lembra das vítimas da chacina no Jacarezinho, mortas por uma operação da Polícia Civil que descumpriu decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e vitimou 27 civis, a maioria deles negros, de 16 a 49 anos. A atuação policial ainda deixou um rastro de horror e pânico na comunidade da zona norte do Rio. Integrante da Coalizão Negra por Direitos, Adriana Moreira, adverte que o modo como se deu a ação no Rio não é algo novo. Segundo ela, a atuação reflete o racismo estrutural que modela as instituições brasileiras.
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Como aconteceu em 2006 com as Mães de Maio, com Mães de Manguinhos e as Mães da Candelária. Estes não são eventos isolados, se repetem na história. O Brasil precisa de fato encarar que o racismo é um sistema que organiza as relações sociais e que hierarquiza o valor das vidas humanas. Se o país tem de fato interesse em se tornar uma democracia, precisa primeiro enfrentá-lo. Um Brasil sem racismo é um Brasil melhor para todas as pessoas, não apenas para a população negra”, afirma a ativista em entrevista a Marilu Cabañas, da Jornal Brasil Atual.
Auxílio e impeachment
As manifestações nesta quinta também cobram a implementação do auxílio emergencial de R$ 600 até o fim da pandemia e reivindicam o impeachment do presidente de Jair Bolsonaro. À repórter Larissa Bohrer, da Rádio Brasil Atual, a deputada estadual Renata Souza (Psol-RJ), que estará presente ao ato, avalia que a situação de vulnerabilidade que vem se agravando no Brasil é consequência direta da omissão de Bolsonaro
“O governo completamente inoperante, ineficiente e descompromissado com a vida humana no Brasil”, aponta. “Ele não é só negligente, mas impede que as pessoas sobrevivam. Sem dúvida nenhuma esses atos pelo país inteiro revelam um levante da população contra o governo federal e contra toda a lógica de necropolítica que se opera a partir dele”, destaca a deputada estadual.
Os protestos ocorrem ao longo de todo o dia, em horários alternados nesta quinta. Na cidade de São Paulo, a concentração será às 17h, no vão livre do MASP, na Avenida Paulista. No Rio de Janeiro, o protesto ocorre no mesmo horário, na Candelária, região central da capital fluminense. Também estão confirmados atos em Nova York e Texas, nos Estados Unidos.
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