Delegada responsável diz ter convicção de que ocorreu estupro e que perícia inconclusiva do IML não vai atrapalhar as investigações. “Como ela estava desacordada, não ofereceu resistência”
Diversos coletivos feministas organizam atos nos próximos dias, em pelo menos dez cidades, em apoio às jovens carioca e piauiense vítima de estupros coletivos. Os manifestantes exigem a punição dos agressores e o fim da naturalização do crime. Os protestos, chamados Por Todas Elas, foram articulados pelo Facebook e já somam pelo menos 86 mil pessoas confirmadas.
Em São Paulo, o ato será na quarta-feira (1º), no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, a partir das 16h. Às 18h, os manifestantes seguem em marcha para a Praça Roosevelt. No mesmo dia, ocorrem também atos em Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Rio de Janeiro, Bauru (SP), Maringá (PR), Limeira (SP) e Campinas (SP).
“Todas nós ficamos indignadas, tristes e desencorajadas pelo caso de uma irmã ter sido estuprada por 30 homens”, diz o texto de convite para o ato, em referência ao caso da jovem do Rio de Janeiro. Os agressores postaram vídeos na internet. “Lembramos que neste momento milhares de mulheres estão sendo estupradas. Vamos lutar por justiça, por todas nossas irmãs que sofrem neste momento. Devemos nos juntar e não deixar que esses 30 homens andem impunes, como se nada tivesse acontecido. Queremos eles na prisão.”
Na tarde de hoje (30), a delegada Cristiana Bento, da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), que assumiu as investigações do caso, disse, em entrevista coletiva, que não tem dúvida de que ocorreu um crime de estupro. “A minha convicção é de que houve estupro. Está lá no vídeo, que mostra um rapaz manipulando a menina. O estupro está provado. O que eu quero agora é verificar a extensão desse estupro, quantas pessoas praticaram esse crime”, disse.
Ela pediu a prisão temporária de seis suspeitos. Um deles já foi encontrado e está sendo encaminhado à delegacia. Raí de Souza, 22 anos, se entregou à polícia hoje. Também foi preso outro suspeito, o jogador de futebol Lucas Perdomo, 20 anos. Ele foi detido na porta de um restaurante na Rua Santa Luzia, no centro do Rio, em torno de 15h30. Os outros quatro estão foragidos, sendo que alguns não estavam nos endereços que comunicaram à polícia em seus depoimentos.
Para a delegada, o fato de a perícia do Instituto Médico Legal (IML) não ser conclusiva não vai atrapalhar as investigações. “Nos crimes sexuais, o exame de corpo de delito é importante, mas não é determinante. Às vezes, há lesão, mas foi consentida pela vítima. E pode acontecer de ter havido estupro mesmo não tendo havido lesão” explicou. “Como ela estava desacordada, não vai haver lesão porque ela não ofereceu resistência. Por isso o laudo não é determinante”, concluiu.
Na última quinta-feira (26), a Polícia Civil do Rio de Janeiro tomou depoimento da jovem de 16 anos que foi drogada e estuprada por 33 homens. O crime foi denunciado após um vídeo com imagens da adolescente desacordada e com órgãos genitais feridos e expostos ter sido postado na internet. Nas imagens, um homem diz que “uns 30 caras passaram por ela”. “Acordei com 33 caras em cima de mim. Só quero ir para a casa”, disse a jovem, ainda no hospital, de acordo com o jornal O Globo.
No mesmo dia, o pai dela, muito abalado, afirmou que a agressão ocorreu no Morro São João, na capital fluminense: “Ela foi num baile, prenderam ela lá e fizeram essa covardia. Bagunçaram minha filha. Quase mataram ela. Estava gemendo de dor. Ficou tão traumatizada que só conseguia chorar”.
Piauí
Em Bom Jesus, sul do Piauí, uma jovem de 17 anos foi violentada por cinco jovens, quatro deles menores de idade, na madrugada do último dia 20. Após uma briga com o namorado, a jovem teria ingerido bebida alcoólica e os suspeitos se aproveitaram da embriaguez para cometer o crime. Ela foi encontrada amarrada dentro de uma obra.
As notícias divulgadas na última semana desencadearam uma série de protestos. Representantes de movimentos sociais, artistas, parlamentares e entidades pró-direitos humanos lançaram uma campanha na qual mulheres devem publicar vídeos nas redes sociais dizendo não à violência contra a mulher, usando as hashtags #EstuproNuncaMais e #PeloFimDaCulturaDoEstupro. Em menos de uma hora, a campanha havia alcançado o primeiro lugar entre as mais citadas no Twitter Brasil e terceiro lugar mundial.
Com informações do jornal ‘Folha de S. Paulo’