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Fim da violência, acesso à saúde e respeito à diversidade preocupam a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros) que vive em comunidades no Rio de Janeiro. Hoje (10), Dia Internacional dos Direitos Humanos, entidades cobraram ações de visibilidade e serviços públicos. O governo estadual discute descentralizar o Programa Rio sem Homofobia, que oferece atendimento psicológico e jurídico, além de atuar em articulação com a Polícia Civil.

De acordo com os coletivos LGBT, várias formas de discriminação se sobrepõem nas periferias e acabam empurrando os gays para “guetos dentro dos guetos”. “Se você vive uma dificuldade por ser negro, por ser pobre, por viver na comunidade, há um acréscimo por ser homossexual”, disse Mauro Lima dos Santos, do Coletivo Conexão G, do Complexo da Maré, na zona norte. Segundo ele, a mudança desse cenário passa por diálogos sobre diversidade sexual nas escolas e em casa.

“Temos muita dificuldade de lidar com a questão das travestis e transexuais, apesar de a comunidade ser cheia delas. As ‘trans’ não são reconhecidas quando adolescentes, então não estão nas escolas e não estão em casa – porque geralmente são expulsas. Estão nas ruas, mas sem pertencer àquele espaço, ou seja, em situação de violência grande”, disse Mauro. “O desafio é mostrar à comunidade que não existe um único modo de ser sexualmente”, completou.

No Complexo do Borel, a educadora e ativista Carla Silva destaca a dificuldade de integração entre os serviços de saúde e o Conselho Tutelar. Ela aponta dois problemas: o fato de  adolescentes LGBT manterem relação sexual com pessoas adultas, o que é ilegal, e a falta de informação sobre formas de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis e aids.

“Mesmo que a gente sente e converse com a família, a família tem medo de denunciar o adulto, medo da polícia, do tráfico [de drogas] e nada faz. Cabe ao sistema de saúde, nessa situação, focar na prevenção, e ao Conselho Tutelar e assistentes sociais falarem com os pais dos jovens”, disse Carla. Na área de saúde, ela também cobra que o sistema ofereça atendimento especializado em tratamentos hormonais, além de mais informação direcionada aos jovens.

Em defesa de travestis e transexuais, Flávio Ruivo, da Cidade de Deus, na zona oeste, ganhou notoriedade ao participar do filme Favela Gay. No documentário, ele fala sobre a situação de vulnerabilidade das transexuais na comunidade. Elas acabam vulneráveis tanto à violência do Estado, por meio da polícia, por exemplo, quanto à do tráfico de drogas, que se sente no direito de eliminá-las ou estigmatizá-las. “Mulheres de traficantes querem um gay bibelô para chamar de seu.”

Em geral, Flávio diz que somado ao contexto de violência das periferias, o preconceito nas comunidades leva a práticas como o linchamento público. “Já fui apedrejado, já tacaram ovos em mim. Temos que reagir todos os dias. Uma reação política, de denúncia”, frisou. As agressões, acrescenta, seriam menos comuns em áreas mais privilegiadas das cidades.

As situações relatadas pelos ativistas são semelhantes às identificadas no relatório Pessoas LGBT Vivendo em Situação de Pobreza no Rio de Janeiro, da organização internacional Micro Rainbow, divulgado em meados de 2014. Para reverter o quadro, o superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos do estado do Rio, Cláudio Nascimento Silva, discute com organizações da sociedade a descentralização das equipes do Programa Rio sem Homofobia.

A pesquisa da Rainbow mostra que os LGBT do Rio, de maneira geral, estão mais propensos a viver na pobreza por causa do estigma, do preconceito ou da discriminação. A falta de reconhecimento os mantém invisíveis e marginalizados, diz o texto.

Fonte: Agência Brasil

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