Desde pequenas/os somos educadas/os para representarmos papéis criados socialmente e culturalmente e com os quais, por vezes, estamos tão acostumadas/os que até parecem “naturais”. Esses papéis são aprendidos em diversas relações e através das instituições onde nos socializamos, dentre elas a escola. Assim, meninos e meninas vêm sendo educados/as de forma diferente e nesta educação diferenciada encontramos muitos elementos que sustentam as desigualdades entre os gêneros, contra os quais lutamos cotidianamente!
Quando falamos em igualdade entre os gêneros partimos da compreensão que em nossa sociedade, as diferenças entre homens e mulheres são comumente remetidas ao sexo, às características físicas, tidas como naturais e imutáveis, que “justificam” as desigualdades por estas geradas. Com base em definições do que é ser homem e/ou mulher edifica-se um sistema de discriminação e exclusão das mulheres, que comporta vários estereótipos. O feminino e o masculino são apresentados como categorias opostas, excludentes e hierarquizadas, nas quais a mulher, os valores e os significados femininos ocupam posição inferior.
A diferença de gênero ainda é muito presente na educação de uma forma geral. A ideia de que ao homem cabe o “público”, as disciplinas exatas e um comportamento mais transgressor e as mulheres o “privado”, as disciplinas humanas e ser bem comportada, para ficar em alguns exemplos, ainda existe e é amplamente reproduzida. A escola, como instrumento de educação que é, ainda faz circular muito desses significados em suas práticas e no seu cotidiano. A escola como instância social é dotada de instrumentos de produção/reprodução dos valores sexistas e de instrumentos que operam através de categorias simbólicas.
Assim, ao pensar a igualdade e a democratização do ensino escolar, nada pode ficar alheio ao enfoque das relações de gênero, desde as políticas educacionais até as trajetórias de alunas e alunos, o desenvolvimento de currículos, a análise dos livros didáticos e dos recursos pedagógicos, a formação de professores e até os temas que dizem respeito à identidade docente. Estas questões se refletem no cotidiano escolar de diferentes formas, por exemplo: nas expectativas e estímulos diferenciados por sexo, na forma com se lida com a sexualidade e situações de assédio no ambiente escolar, exemplos e “piadas” machistas durante as aulas (“só para descontrair!”).
Lidar com as diferenças sem transformá-las em desigualdades tornou-se um dos grandes desafios das/os educadoras/es na atualidade. Professoras/es têm tido um papel destacado em lutas históricas, das quais temos obtido grandes conquistas. No entanto, ainda é pequeno o trabalho desenvolvido sob a perspectiva de gênero para potencializar a educação como um verdadeiro instrumento de democracia e equidade para o futuro que desejamos. Só assim a escola poderá contribuir para uma sociedade mais justa, à medida que caminhar na direção de uma educação não-sexista, que contribua para superação de preconceitos e para a construção de pessoas comprometidas com a igualdade de direitos.
Amanda Mendonça – Associada da CAMTRA, Graduada em Ciências Sociais, Mestre em Educação (UFRJ) , Doutoranda em Política Social (UFF), Professora da UNESA e Coordenadora do OLE.
Julia Zanetti – Conselheira da CAMTRA, cientista social (UFRJ), mestre em Educação (UFF) e técnica em assuntos educacionais (CPII).
Fonte: Camtra