Entrevista feita por Rafael Zanata e publicada em Economias do Compartilhamento e o direito da Editora Juruá
A contestação do paradigma do homo oeconomicus e dos métodos de análise científica que concebem o indivíduo como um “agente racional” preocupado somente com a maximização de sua utilidade faz parte de uma tradição crítica do pensamento social que remonta aos trabalhos de Auguste Comte, Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber, Karl Polanyi e outros fundadores da hoje chamada “sociologia econômica”. No Brasil, um pensador dessa tradição – que questiona os “limites da racionalidade econômica” e pensa as relações sociais nos mercados – é Ricardo Abramovay, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, hoje Professor Sênior do Instituto de Energia e Ambiente também da USP e um dos principais intelectuais do país.
Graduado em filosofia pela Université de Paris X, mestre em ciência política pela Universidade de São Paulo e doutor em sociologia pela Universidade Estadual de Campinas, Ricardo Abramovay possui uma formação heterodoxa, conectada com as tensões provocadas pelo capitalismo e com a dimensão social da economia. Durante a década de 1980, suas pesquisas se dedicaram às transformações da vida camponesa no interior do Brasil, nas alternativas de reforma agrária e nas dificuldades de compreender a problemática do campesinato no Brasil pela lógica do marxismo e da economia neoclássica.[2] Na década de 1990, Abramovay sofisticou o campo da sociologia rural com investigações sobre a agricultura sustentável, o “capital social dos territórios” e a construção social de mercados alternativos de agricultura a partir de uma análise de redes e relações sociais.[3] Na década de 2000, os estudos de Abramovay transitaram entre formas de organização dos mercados, o papel da sociedade civil no desenvolvimento local, a emergência de um discurso de responsabilidade ambiental no ambiente corporativo e a necessidade de uma ruptura metodológica para entender os mercados em sua dimensão social.[4]
Nessa entrevista,[5] o professor Ricardo Abramovay responde questões relacionadas a suas últimas obras e suas recentes investigações sobre as “economias do compartilhamento”. Abramovay conduz uma rica narrativa sobre movimentos empresariais que estão transformando o mundo, os perigos do surgimento de grandes empresas de tecnologia e a dimensão ética de uma economia baseada em bens comuns e em lógicas de sustentabilidade, responsabilidade intergeracional e compartilhamento.
Sem ter a pretensão de esgotar um único assunto ou explorar uma tese específica, o diálogo travado com o professor Abramovay permite a problematização de questões que permeiam este livro, oferecendo ao leitor novos insights, conceitos e debates intelectuais que moldarão a discussão sobre cooperação e compartilhamento na era digital.
Rafael Zanatta: Seus trabalhos têm se dedicado a grandes questões como: necessidade do consumo, ou necessidade dos homens e da sociedade; as finalidades da economia, da produção; e a crise do capitalismo contemporâneo. Como estes temas se conectam com aquilo que você chama de processo de transição para uma nova economia? Você poderia explicar no que consiste esse processo de transição, que você aponta no livro “Muito além da economia verde”?
Ricardo Abramovay: Nova economia é muito mais uma imagem do que um conceito claro e distinto. Nova economia pode ser tanto a ideia de que a economia contemporânea está se desmaterializando, portanto, se renovando, quanto a ideia de que o julgamento a respeito das ações econômicas se faz por mecanismos impessoais, como o das bolsas de valores, e que é isso que determina e permite julgar o valor daquilo que está sendo produzido. Sob este ângulo, uma empresa vale não por aquilo que fatura, mas por seu valor acionário, isso também foi chamado de nova economia.
Quando eu empreguei esse termo tentei qualificá-lo com a seguinte ideia: nós estamos vivendo um processo de transição para uma vida econômica em que as decisões dos atores privados (e também dos atores públicos e associativos, claro – mas o que é paradoxal nisso é que isso venha de atores privados) a decisão desses atores é guiada não apenas por critérios objetivos como os que figuram no balanço, ou no valor das ações das empresas, mas também por finalidades de natureza ética. Isso não corresponde, à maioria, nem de longe, dos atores econômicos. Mas o fato de emergirem movimentos empresariais que colocam como seus objetivos explícitos a obtenção, a produção que satisfaça reais necessidades sociais e por meios que compatibilizem o sistema econômico com os limites ecossistêmicos, isso é inédito na história do capitalismo. E o importante é que as sociedades contemporâneas têm se apoiado no consumo de materiais, de energia e de recursos bióticos, incompatível com a manutenção dos serviços ecossistêmicos, dos quais dependemos. Não são apenas governos e sociedades civis que têm consciência disso, mas, cada vez mais, as próprias organizações empresariais, por diversas razões, inclusive por razões estritamente econômicas.
Acho que existe um movimento social no movimento empresarial, voltando a esse objetivo de compatibilizar o sistema econômico com a regeneração dos tecidos ambientais e sociais que foram destruídos pelo crescimento dos últimos anos. Pode parecer estranho falar em movimentos sociais para se referir a isso, mas eu acho que movimentos sociais, muito mais do que gente na rua, é a emergência de uma cultura, a partir de um conjunto mais ou menos descentralizado de ideias e de iniciativas. A partir do final do século XX, o que acontece é que grandes empresas e organizações ligadas a essas grandes empresas, passam a se dar conta que no mundo com 7 bilhões e 200 milhões, caminhando em direção a 9 ou 10 bilhões de habitantes, o risco de colapso, seja em função das mudanças climáticas, seja em função do esgotamento de água, poluição etc, passa a constituir uma ameaça aos negócios.
Então com isso se coloca um desafio inédito para as próprias empresas. Por exemplo, o setor automobilístico contemporâneo, não tem mais como escamotear o fato de que o seu produto corresponde ao contrário da finalidade para qual ele foi inicialmente criado. Em vez de ser um vetor de mobilidade, tem sido sistematicamente um vetor de imobilidade. E até muito recentemente a reação da indústria automobilística a essa constatação consistia em dizer “isso não é um problema nosso, nós não somos culpados pelo trânsito, a gente só produz automóveis. Quem é culpado pelo trânsito são as prefeituras, os governos, etc. Nós estamos fazendo dentro da lei uma coisa que se pode fazer”. Esse raciocínio começa a mudar porque as empresas percebem que é imenso, estrategicamente, o risco de persistirem no aprofundamento dessa contradição entre o produto e a sua finalidade inicial, para os próprios negócios. E mesmo que a indústria automobilística não perceba, outros setores percebem, por exemplo, a indústria digital se dá conta disso e vai criando alternativas.
O carro sem motorista, por exemplo, é virtualmente uma fantástica alternativa à propriedade do automóvel individual, e mesmo que não se possa ser muito otimista em relação às suas perspectivas, na Europa, nos próximos 10 ou 20 anos, carros sem motoristas e carros compartilhados a partir do fato de eles serem sem motoristas, vão corresponder a uma parcela grande da mobilidade urbana. Ou seja, em vez de ter um carro você vai pegar um carro como você pega um transporte coletivo.
O outro exemplo é o exemplo da alimentação. Não é possível que as empresas produtoras de junk food, e, sobretudo as de refrigerantes, façam como se a epidemia de obesidade fosse um problema dos consumidores e dos governantes, e não um problema do qual elas são vetores. Então esses dois grandes exemplos, mas que não são os únicos, motivaram o aparecimento de algumas organizações empresariais que a partir de óticas diferentes, diversificadas procuram recolocar os termos a partir dos quais a empresa privada funciona.
São vários os exemplos. O primeiro é o sistema “B” (Benefit Corporation), um movimento que surge em 2008 nos EUA e se amplia (chegando há uns dois anos à América Latina), e que procura fazer com que os compromissos socioambientais da empresa tenham para seus acionistas o mesmo peso dos compromissos econômicos. E esses compromissos socioambientais precisam estar claramente expostos. A Patagonia e a Natura, por exemplo, são Benefit Corporations ou, como se diz na América Latina, Empresas B.
O movimento em torno do capitalismo natural, coordenado por Amory Lovins, do qual o Rocky Mountain Institute é talvez a expressão mais importante também vai nesta direção. O esforço de refletir sobre o capitalismo não apenas com base nos critérios abstratos de preço das ações, preço dos produtos, etc, mas a partir de critérios concretos, como energia, matéria, recursos bióticos – coisa que é feita por esse grupo – faz parte desse esforço. De certa forma, o percussor disso de toda maneira é o Clube de Roma, com o relatório “Limites ao crescimento” publicado em 1972 e que nunca foi uma previsão apocalíptica de que as coisas, as matérias primas, iam acabar e sim um esforço vindo de gente, digamos assim, respeitada no meio empresarial, de refletir sobre as relações entre sistema econômico e ecossistemas.
Três outros exemplos chamam a atenção, bem recentes. O primeiro é o exemplo do B Team: um grupo que procura suprimir a mentira em que estão baseados os preços contemporâneos, sugerindo às empresas que façam uma espécie de dupla contabilidade: além da contabilidade convencional, preconiza que seja feito um cálculo que diga às empresas como seriam os resultados econômicos caso elas tivessem que pagar pelo uso de serviços ecossistêmicos dos quais elas dependem e que sistematicamente contribuem para destruir. Então o primeiro esforço nessa direção foi feito pela PUMA. O resultado é o seguinte: o lucro da empresa em 2011 foi de 200 milhões de euros. Se ela tivesse que pagar o custo real da água, do lixo e das emissões associadas a sua cadeia de valor, deste lucro teriam que ser subtraídos nada menos que 147 milhões de euros. São custos pelos quais as empresas não pagam ou pagam muito pouco. E claro que isso contribui para perpetuar a degradação.
Em 2015, uma organização empresarial norte-americana, chamada GreenBizz editou um relatório[6]baseado num estudo de 1600 corporações globais, com a pergunta: “como seriam os balanços dessas empresas se elas tivessem que pagar pelos serviços ecossistêmicos dos quais elas dependem e que sistematicamente destroem”? O resultado é que seus lucros seriam zerados, ou seja, se a gente tivesse que pagar pelos elementos que nós consumimos e que não fazem parte do sistema de preços, todo esse sistema seria completamente colocado de cabeça para baixo. E isso, essas informações são muito importantes para o Brasil, para a América Latina, porque os setores justamente que mais se apoiam sobre o não pagamento de serviços ecossistêmicos são os setores dos quais o Brasil e a América Latina mais dependem. São os setores primários. Esse movimento empresarial então é interessante.
Os dois outros movimentos empresariais que eu vou mencionar agora estão muito relacionados entre si. O primeiro é a Biomimética, cuja principal protagonista é Janine Benyus, pesquisadora, ativista e líder empresarial. A ideia básica é que o processo de inovação pode e deve inspirar-se no conhecimento dos processos naturais. A natureza tem que ser a grande fonte de inspiração para a inovação. Uma revolução inclusive filosófica, num certo sentido. Porque em vez de você respeitar o preceito cartesiano e baconiano de que o homem é mestre e senhor da natureza e a molda segundo suas finalidades, ao contrário, você passa a entender a importância de aprender com os processos evolutivos naturais. Se você conseguir entender isso, a chance de se fazer um uso mais racional da energia, da matéria e dos recursos bióticos, aumenta. Os exemplos são inúmeros, desde o velcro até o desenho do trem bala. E essa foi uma das grandes inspirações de um movimento que ganha prestígio crescente, a “Economia Circular”.
O termo é usado pela Fundação Ellen MacArthur. Ela é uma espécie de Amir Klink britânica, que fez, em 2005, à vela, a circunavegação do globo no menor tempo: 81 dias. Durante este período, ela tinha que contar com os recursos que estavam dentro do veleiro, ela não podia se abastecer. Isso foi uma fonte de inspiração para que ela procurasse líderes empresariais, da sociedade civil, de grandes consultorias e de universidades. A fundação Ellen MacArthur, que tem como proposta básica transitar de uma economia baseada na ideia de extrair, transformar, consumir e descartar em uma economia circular, uma economia em que você não só recicle, mas revalorize as bases bióticas e técnicas a partir das quais a oferta de bens e serviços pode ser feita. É claro que alguma perda (alguma entropia, como dizem os especialistas), sempre tem nesse processo. Mas o ritmo da revolução tecnológica em que nós nos encontramos é tão acelerado e generalizado que as chances colocar este progresso científico e tecnológico a serviço de uma redução no uso de matéria, energia e recursos bióticos, aumentam muito. A Fundação Ellen MacArthur, hoje, conta com mais de 100 empresas globais, entre as quais a Renault, a IBM, e acaba de se instalar no Brasil. E justamente o que é interessante é o componente ético, ou seja, o que a Economia Circular preconiza é que as ações das empresas têm partir da pergunta “e depois, o que vai acontecer com o que eu produzo?”. Quer dizer, é o contrário do princípio que rege uma economia descentralizada, em que, se eu sou um produtor de parafuso, eu preciso ser bom em produzir parafuso. O que as pessoas vão fazer com parafuso, o que vai acontecer com esse parafuso depois que eu produzir, isso não é problema meu. Aqui não, aqui passa a ser um problema dos atores privados o que vai acontecer com o que eles fazem depois que eles o fazem. É claro que, você vai me perguntar, o que garante que os atores privados possam fazer isso? Nada garante. Por isso que é importante a existência de um movimento, e de um movimento que inclusive pressione a legislação nessa direção.
Em suma, existem sim, são minoritários, mas existem sim, movimentos empresarias capazes de colocar a questão ética, da finalidade no eixo da decisão econômica.
RZ: Eu queria conectar essa primeira resposta sobre movimentos empresariais e nova economia a uma questão que surge no seu livro “Muito além da economia verde” no capítulo sobre Economia Verde, onde você afirma “o descolamento entre bens e serviços e sua base material e energética, ocorre a um ritmo que pode ser acelerado consideravelmente, com resultados sociais e ambientais extraordinariamente positivos”. Essa ideia parece se conectar um pouco com as discussões do Jeremy Rifkin[7] sobre terceira revolução industrial, com que você dialoga no seu livro. Quais são as conexões que existem entre a terceira revolução industrial do Rifkin e a ideia de economia verde que você teoriza nesse capítulo?
RA: Em primeiro lugar, a própria Fundação Ellen MacArthur reconhece que os progressos na redução do uso de energia, na redução de emissões, na redução do uso de materiais, na redução de diferentes formas de poluição, esses progressos são muito mais relativos a cada unidade de valor produzida, ou a cada tonelada produzida, do que absolutos. Ou seja, o descasamento entre a riqueza e a sua base material, energética e biótica tem sido real, mas ele é em grande parte compensado por um fantástico aumento na produção e no consumo. O que nos joga diante de um impasse, ou aquilo que era visto até muito recentemente como um impasse. Tim Jackson, em “Prosperidade sem Crescimento” [8], fala que se nós não formos capazes de falar (é quase uma perspectiva Rousseauista) ao coração dos homens, no sentido de que eles reduzam suas aspirações de consumo, nós estaremos numa espécie de esteira rolante, em que por mais progresso científico e tecnológico que se alcance, os avanços serão sempre contrabalançados por aumento no consumo, na produção e, portanto, no uso de recursos.
Além disso, como mostram os trabalhos de Vaclav Smil[9], a produção contemporânea vai utilizando cada vez mais materiais cujo reaproveitamento vai ficando cada vez mais difícil. Isso acontece em produtos eletrônicos, isso acontece com a alimentação. No caso da alimentação, por exemplo, a maioria das cadeias de fast food impulsiona o consumo do que os especialistas chamam de “monstros híbridos”, ou seja, formas de embalagem que não são passíveis de qualquer chance de reciclagem.
Esse ponto de vista, que é o ponto de vista que eu defendi no “Muito Além da Economia Verde”, parece-me hoje, quatro anos após a publicação do livro insuficiente. Sou menos pessimista do que quando escrevi “Muito Além da Economia Verde”. A razão fundamental é que o ritmo da mudança tecnológica capaz de acelerar a transição para uma economia de baixo carbono acelerou-se de forma impressionante e isso não tem sido, a meu ver, levado suficientemente em consideração pelos que são céticos com relação às chances de desacoplamento entre riqueza e sua base energética, material e biótica.
A revolução dos semicondutores, por exemplo, está transformando o mundo da energia, numa velocidade que quase ninguém suspeitava há apenas cinco ou seis anos. Esta é a principal explicação da diferença entre a frustrante conferência climática de Copenhague, em 2009 e o promissor encontro de Paris, realizado em dezembro de 2015. Em Copenhague, Índia e China insistiam na tese da responsabilidade dos países desenvolvidos pelo estoque de gases de efeito estufa na atmosfera e, mais que isso, pelo direito de as nações mais pobres ocuparem o espaço carbono com suas próprias emissões. A energia a carvão na época era tão mais barata que qualquer outra, que levar eletricidade para todos (condição de desenvolvimento numa sociedade moderna) implicava necessariamente em ampliar as emissões de gases de efeito estufa. O resultado era um impasse, pois a contrapartida desta aspiração dos países em desenvolvimento era que os ricos reduzissem drasticamente suas emissões. Como os países ricos (sobretudo EUA e Austrália) também dependem de carvão, a única maneira de reduzir suas emissões seria que eles reduzissem seu crescimento econômico. Em Paris o impasse foi em grande parte contornado não só pela habilidade dos diplomatas e pela pressão da sociedade civil, mas também por um conjunto de mudanças técnicas que fizeram com que explodisse a oferta de energias renováveis, aí incluindo as perspectivas de armazenamento de energia e o carro elétrico. É claro que a questão dos limites ao crescimento se coloca, mas a ênfase hoje está muito mais nas chances reais de desacoplamento do que nestes limites. O primeiro ministro da Índia comprometeu-se em Paris com a construção do correspondente a seis usinas de Itaipu em energia solar e quatro em energia eólica, nos próximos seis anos. A China investiu em solar, em 2015, tanto quanto EUA e União Europeia juntos. Mas isso não se refere apenas a energia. Os materiais que compõem a riqueza social contemporânea estão sofrendo também uma transformação impressionante. A fibra de carbono que era um material caro, daqui dez ou vinte anos vai competir com vantagem com o ferro. Estamos vivendo uma revolução referente à energia, a novos materiais, e também à informação. O uso de Big Data está fazendo com que também na agricultura haja economia de recursos, e o conhecimento do meio natural permite, virtualmente, melhorar os sistemas produtivos.
É claro que tudo isso traz problemas imensos e novos de concentração de renda e de poder, de ameaça à privacidade e, sobretudo, de decomposição do mercado de trabalho tal como o conhecemos hoje. Mas é inegável que estas transformações têm velocidade tal, que o raciocínio que norteou a ideia de que nós não podemos ter um descolamento entre produção e a sua base material energética e biótica, que este descolamento é sempre e necessariamente relativo e será sempre contrabalançado pelo aumento do consumo e da produção, este raciocínio começa a ser contestado. Uma das melhores expressões disso está no livro de Ralf Fücks[10], dirigente do Partido Verde alemã. Se é verdade que a França e a Inglaterra (e em parte os EUA) reduziram seu consumo de materiais, energia e recursos bióticos transferindo sua indústria para a China, o mesmo não pode ser dito da Alemanha, cuja indústria cresceu. E este crescimento baseou-se em quantidades cada vez menores de emissões, de materiais e de energia. Os alemães entenderam que incorporar inteligência, informação aos processos econômicos supõe não apenas aptidão para criar estes serviços de alta qualidade, mas capacidade de integrá-los a processos industriais.
Isso não quer dizer, é claro, que ciência e tecnologia detêm a chave para solucionar os grandes desafios socioambientais contemporâneos, longe disso. A revolução tecnológica da qual eu acabo de me mostrar tão admirador e entusiasta tem sido um dos mais importantes vetores do processo impressionante de reconcentração da riqueza nos Estados Unidos e, de forma geral, no mundo desenvolvido e mesmo na China. Se, por um lado, esta revolução permite ampliar a riqueza, produzi-la provavelmente em condições muito menos danosas do que foi feito até aqui, ela, por outro lado, não só destrói uma quantidade impressionante de postos de trabalho, mas traz consigo um efeito muito perverso, que é o efeito the winner takes all. O esportista famoso de hoje ganha muito mais do que o Pelé poderia ter pensado em ganhar. Por quê? Antes da era digital eu torcia e ia ao estádio para ver o time do meu estado. Isso gerava uma renda para remunerar os esportistas locais. O mesmo se aplica aos artistas. Agora não: você desembarca no aeroporto de Congonhas e a publicidade mostra o Barcelona e o Bayern de Munique. Por que o público vai ter interesse pelo décimo melhor esportista ou artista do mundo, se ele tem acesso ao primeiro? Isso atinge também o mundo dos executivos. Destruição de trabalhos e concentração de renda, mesmo os mais entusiastas desta revolução tecnológica reconhecem estes seus efeitos perversos.
A principal proposta para enfrentar este problema vem de muito tempo atrás. André Gorz[11] contribuiu, 25 anos atrás, a sua elaboração. Ele preconizava uma renda de cidadania universalizada. Se a riqueza aumenta tanto e torna-se cada vez menos dependente do trabalho, são necessários mecanismos institucionais de distribuição de riqueza e não a ficção de que o mercado de trabalho poderá oferecer base para a reprodução social. É mais fácil de dizer do que de fazer, claro, mas é interessante notar que o livro[12] premiado pela McKinsey e o Financial Times como livro do ano de 2015[13] vai exatamente na mesma direção.
RZ: Minhas próximas perguntas referem-se a ensaios mais recentes que você publicou. No texto “Economia híbrida do século XXI”, que integra a coletânea “De baixo para cima” você reafirma que parte crescente da prosperidade do século XXI virá de uma organização social marcada pela descentralização, pela cooperação, e pela partilha. Essa é uma frase que parece que você endossa no seu texto. No entanto, o papel do Estado e do Direito foram tradicionalmente pensados no século XX como elementos de proteção à hierarquia burocrática, à competição entre agentes econômicos e a garantia da propriedade privada. Poucos elementos institucionais que permitem o compartilhamento. Como você enxerga esse “curto circuito” entre essa ideia poderosa de uma economia do compartilhamento e essas estruturas institucionais tradicionais, que não estão voltadas a isso, aparentemente?
RA: Em primeiro lugar há um contraste entre o caminho que é preconizado pelo pensamento e pelos movimentos sociais do século XIX para superar o tipo de organização social que essa estrutura jurídica protegia e protege e o caminho que hoje se anuncia como superação deste tipo de organização social. Desde Marx até o final dos anos 1970, a emancipação social tinha como pressuposto concentrar os meios de produção e troca nas mãos do Estado, por meio de uma organização democrática da sociedade e do planejamento. A produção social deixaria de atender ao objetivo de lucro e passaria a responder às necessidades sociais e isso geraria processos redistributivos construtivos, baseados em ampla participação social, em uma economia em que a força produtiva da sociedade em vez de estar em mãos privadas, estaria sob controle público. Subjacente a isso haveria uma estrutura jurídica. O que Hobsbawm chamou de o curto século XX demonstrou a tragédia social, cultural e intelectual embutida nesta utopia emancipatória. A meu ver, quem mais profundamente demonstrou esta tragédia foi André Gorz, sobretudo em Metamorfoses do Trabalho, livro do qual já falei. Gorz mostra que com a drástica redução da classe operária, o próprio vínculo entre valor e trabalho se dissolve. Com isso a ideia de que a classe operária organizada pode organizar a oferta de bens e serviços de forma mais racional e democrática que a anarquia da produção envolvida necessariamente na produção capitalista simplesmente se desfaz, perde não só relevância intelectual, mas também e, sobretudo consistência social. Além disso, os incentivos para a almejada participação social são inteiramente falhos e só subsistem em períodos de crise profunda, de guerra, no início das revoluções, mas logo rotinizam-se e são por aí esterilizados. O chamado socialismo real não sucumbiu por ataque de suas forças inimigas, mas, antes de tudo, pela própria impossibilidade de uma sociedade de massas ganhar coesão por mecanismos em que a vida econômica está legalmente toda concentrada no Estado.
Ao final da vida, Gorz[14] enxergava nos hackers, nos produtores de softwares livres, no compartilhamento a que a era digital começava a dar lugar, os vetores das transformações que a classe operária não mais encarnava. Afinal, ali onde o capital exigia estritos direitos de propriedade, começavam a emergir movimentos e realizações capazes de associar a riqueza ao compartilhamento. Daí poderia vir uma nova estrutura jurídica, não mais baseada na proteção dos direitos de propriedade e sim no aprofundamento destas novas e promissoras formas de cooperação social para a qual a cultura digital apontava. O que ele não teve tempo de presenciar é que cada uma destas formas inicialmente contestadoras foi incorporada e absorvida por grandes empresas capitalistas.
RZ:Isso está inclusive no último livro do Yochai Benkler[15], sobre cooperação, em que ele mostra os exemplos claros, de como a IBM passa a adotar a lógica centralizada do trabalho granular de software livre no seu próprio processo produtivo, não?
RA: E justamente aí reside um problema sério com o argumento de Jeremy Rifkin. Os exemplos de como o compartilhamento toma muitas vezes o lugar do uso privado, de como o acesso é mais importante que a propriedade são, de fato, cada vez mais numerosos. Mas os grandes protagonistas contemporâneos destas transformações não são movimentos sociais independentes, mas antes de tudo e cada vez mais, grandes corporações. Tanto no AirBnb como no Uber, há um intermediário que absorve parte significativa do valor transacionado. São empresas que estão entre as mais valiosas da economia global. Por mais que o uso compartilhado e descentralizado de ativos como carros e quartos de uma residência seja positivo, este uso submete-se ao poder centralizado de uma grande corporação. Não é simples compartilhamento entre pessoas. Ao mesmo tempo, não há dúvida de que as corporações tradicionais incorporam estas inovações e passam a se apoiar (é o caso que você cita da IBM) em formas compartilhadas de acesso a recursos, como os softwares livres.
O mesmo pode ser dito das patentes. Por maior que seja sua importância, hoje há um número crescente de líderes e de acadêmicos mostrando que a inovação pelos pares, e, portanto, a inovação cuja patente não é uma propriedade individual, é um componente decisivo do processo de inovação. Mais que isso, a patente tem sido muito mais um elemento para proteger empresas que se apropriam dos processos criativos, do que instrumento de defesa da criação e a criatividade. O livro de Chris Anderson, “Makers”[16], mostra isso muito bem. Publiquei um artigo sobre o tema em minha coluna na Página 22.[17]Não é que patente vá deixar de ser importante. Mas compartilhamento, inovação pelos pares e ruptura com as hierarquias convencionais deixam de exprimir caminhos alternativos ao capitalismo e incorporam-se ao mainstream dos comportamentos dominantes. Não é surpreendente então que o Fórum Econômico Mundial, de Davos, se debruce cada vez mais sobre o tema e que jovens empresários tenham lançado um documento sobre economia do compartilhamento. [18]
Mas insisto: por mais que isso seja positivo, tem também o outro lado da mesma moeda, o fato de que estes avanços no compartilhamento têm sido organizados fundamentalmente por grandes corporações. Mais que isso: este impressionante domínio corporativo ameaça este bem comum da humanidade, que é a internet, o que tem sido denunciado por Tim Berners Lee, seu criador, que teceu elogios ao Marco Civil da Internet aprovado no Brasil.
RZ:Qual sua opinião sobre a tentativa de construir uma abstração teórica e jurídica que dê condições de proteger os “commons”[19] de modo a evitar que ele seja apropriado por estruturas empresariais privadas?
RA: Este é um dos maiores desafios do nosso tempo, a emergência de mecanismos que permitam defender, valorizar e ampliar os bens públicos e coletivos dos quais depende cada vez mais a vida social. Estes bens estão permanentemente ameaçados por privatização, que se trate da atmosfera (com as mudanças climáticas), da internet ou da apropriação privada de tantos espaços públicos urbanos. Um passo decisivo para ampliar a esfera pública da vida social consiste em distingui-la da esfera estatal. É fundamental lutar para que a dimensão pública do que se faz na esfera privada, inclusive por parte das empresas, seja discutido e receba a interferência direta da sociedade e não só por meio do Estado. Aliás, é o que está ocorrendo cada vez mais e o comprometimento crescente de muitas corporações com redução de emissões de gases de efeito estufa é um importante sinal nesta direção. O uso de recursos sociais para oferecer bens e serviços será cada vez menos uma questão privada. Isso não significa que você vai desapropriar as empresas e transformá-las em propriedade estatal, claro. Significa que estão emergindo mecanismos e uma arquitetura para que as ações privadas sejam fortemente influenciadas pelo interesse público. E isso não vem apenas do mecanismo de preços, mas de um conjunto crescente de compromissos empresariais, muito minoritários, mas, hoje, já expressivos. O pensamento de esquerda tem dificuldade para lidar com esta ideia. Robert Reich [20], por exemplo, que foi Ministro do Trabalho do Clinton é um crítico de tudo o que significa responsabilidade socioambiental corporativa, porque segundo ele, de certa forma, os empresários são, por definição, irresponsáveis, já que só visam o lucro. Quem tem que ser responsável é o Estado. E se a gente está procurando e indicando empresários responsáveis, é porque a gente está compactuando com um Estado que é minimalista e irresponsável. Eu entendo o contexto em que Robert Reich fez estas afirmações (ao final do governo Bush). Não há dúvida de que a empresa capitalista visa o lucro: mas acho que ignorar a pressão social exercida sobre as empresas e tratá-las como estruturas imutáveis cujos comportamentos já conhecemos é um erro. Tratar o mundo empresarial como uma caixa preta imune à influência social me parece muito mais uma expressão metafísica do que ciência empírica.
RZ: A gente tocou, na nossa conversa, em alguns pontos de economia colaborativa, do compartilhamento. Voltando na questão, identificamos que, nos últimos dois anos, o termo sharing economy ou economia compartilhada, ou economia colaborativa se espalhou; e se espalhou principalmente para descrever formas de uso eficiente de recursos materiais existentes, tais como a The Economist e outras revistas – principalmente as de tecnologia – costuma cobrir quando comentam que as formas emergentes de compartilhamento de bicicletas, apartamentos e bens já estão produzidos. A mídia tem um viés muito forte de a economia do compartilhamento ser simplesmente um método de uso eficiente de um recurso produzido. Por outro lado, existem autores que já discutiam há mais tempo as formas de produção em pares (peer to peer) em que os insumos são utilizados de forma compartilhada, e até mesmo o produto que é gerado por essa colaboração não é protegido por uma figura tradicional de propriedade privada, ele se torna uma espécie de commons e isso seria uma espécie também de sharing economy, com viés de produção. Pensando nessa dicotomia, que pode existir entre economias do compartilhamento de consumo, ou produção, que tipo de ferramental conceitual você costuma usar, e pensar esse termo “economia do compartilhamento”?
RA: O compartilhamento no consumo é socialmente salutar, construtivo, estimula a convivialidade, que é provavelmente a coisa de que mais precisamos nas sociedades contemporâneas, sobretudo no meio urbano. Mas sua questão não se refere só ao consumo. Refere-se também à produção. Mas o que é a colaboração social na produção? A história do Século XX deu duas respostas a esta pergunta, ambas decepcionantes. A primeira foi o socialismo real: a colaboração social, o compartilhamento viria do controle estatal (exprimindo controle social) sobre os grandes meios de produção e troca. A segunda veio de experiências fascinantes, mas sempre localizadas de controle por parte de operários de fábricas falidas: é a expressão mais emblemática da economia solidária. Hoje ninguém mais preconiza a estatização dos meios de produção e troca como base para cooperação social. E por mais interessantes e promissoras que sejam as iniciativas de recuperação e autogestão de fábricas (em Mondragon, na Espanha, surgiu uma verdadeira corporação de propriedade social) é difícil conceber que transitar para uma cooperação social mais ampla passe fundamentalmente por aí.
A resposta convencional dos economistas a essa pergunta sobre cooperação social é que sua melhor forma é aquela que resulta do pleno e fluido funcionamento do sistema de preços. Por quê? Porque se o sistema de preços funcionar bem, cada indivíduo vai se dedicar a fazer aquilo a que tem vocação, ou cada indivíduo vai se dedicar àquilo que sabe fazer, e oferecer isso à sociedade da maneira a mais eficiente possível e em condições competitivas. Assim, dizem os partidários deste ponto de vista, os benefícios para todos aumentem. É justamente isso que a ideia convencional de socialismo procurava enfrentar, dizendo “não, não faz sentido essa competição”, porque como esses meios a partir dos quais os produtos são oferecidos, são cada vez mais poderosos e concentrados, é melhor que eles estejam em mãos do Estado que deles saberá fazer um uso voltado para o interesse social e não para o lucro.
A novidade com relação a esta abordagem é que parte importante destes meios de produção descentralizou-se e poderão descentralizar-se ainda mais. O mundo das grandes aglomerações operárias, operando com base em dispositivos gigantescos e caríssimos, este mundo está em decomposição. Os custos de transação com base nos quais a economia institucional justifica a própria existência da empresa privada estão caindo de forma acelerada com a revolução digital. A ideia, que dominou o pensamento econômico, de que há forçosamente um trade-off entre equidade e eficiência, esta ideia é fortemente atenuada pela revolução digital. Porque virtualmente pode-se ter eficiência de maneira descentralizada. A concentração deixa de ser uma condição de eficiência.
Para mim essa era uma ideia interessante porque no início da minha vida intelectual eu a defendi com relação à agricultura. De certa forma, a noção de agricultura familiar, que tanto prosperou no Brasil, contesta a noção muito recorrente de que a eficiência estava nas grandes fazendas.
RZ: Essa é uma ideia que estava no seu trabalho de doutorado? Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão?[21]
RA: Exatamente. Qual era o paradigma? O paradigma dominante era de que a agricultura seria dominada por empresas movidas a trabalho assalariado, como na indústria. Agricultura familiar aparecia como um resquício do passado que seria fatalmente suprimido. Mas a verdade é que nos países do capitalismo central, o grosso da oferta é garantido por unidades produtivas onde a propriedade, a gestão e o trabalho vêm da família. Trabalho assalariado em larga escala na agricultura é sinal de atraso, isso só ocorre ali onde o trabalho é muito mal pago. Num país como o Brasil, mostrar a importância da agricultura familiar significava (publiquei o livro em 1992) mostrar que uma agricultura moderna e eficiente não precisava ter por base grandes extensões territoriais e trabalho mal pago.
O raciocínio hoje, com relação às formas atuais de progresso técnico, claro que não é o mesmo. Mas, ao menos em parte, a era digital abre a possibilidade de que indivíduos e comunidades locais tenham acesso a dispositivos que lhes permitam eficiência sobre a base de instrumentos produtivos descentralizados. A energia distribuída (em contraposição, por exemplo às grandes hidrelétricas) é um exemplo neste sentido. Autores como Chris Anderson, Michel Bauwens e Jeremy Rifkin acham que esta descentralização não vai limitar-se ao mundo virtual, mas, por meio de impressoras em três dimensões e máquinas de corte a laser, chegará à própria matéria.
Até agora esta mudança dos bits para os átomos, não aconteceu. E resta saber, se ela vier, se vai realmente descentralizar oportunidades ou se haverá mecanismos pelos quais a concentração que se observa no mundo virtual também se reproduza na produção material.
Será que nós vamos ter força, como sociedade civil, para constituir movimentos que inibam esse poder? Porque, durante o Século XX, ninguém seria capaz de produzir, um automóvel, ou o que fosse, enfim, uma bola de futebol, de maneira privada, com baixo custo, antes desses dispositivos digitais. Portanto, isso dava a essa propriedade centralizada uma legitimidade que hoje os grandes detentores do domínio sobre a economia digital talvez não possuam tão claramente. Eles se apoiam muito menos na eficiência daquilo que eles detêm, do que em um controle, que no fundo poderia ser hackeado. Mas acho que não respondi a sua pergunta.
RZ: Respondeu parcialmente, mas podemos retomar. Era uma pergunta sobre qual é o ferramental conceitual que você utiliza quando você pensa “economias do compartilhamento” ou “economia do compartilhamento”? Esse termo tem sido muito utilizado por matérias jornalísticas, mas as pessoas não conseguem pensar claramente em que consiste isso, o que está sendo compartilhado, para quais fins e quais são os modos de compartilhamento.
RA: O mais importante é evitar a ingenuidade deslumbrada segundo a qual a descentralização chegou. Não, a descentralização não chegou e o mundo digital é um mundo de imensa e crescente concentração de poder e de força. Isso fica claro na denúncia permanente de Edward Snowden sobre o uso que o poder repressivo do Estado tem feito da internet,[22] mas também na imensa concentração de riqueza em mãos das empresas digitais. Eu não leio, nos mais importantes e férteis pensadores da economia da informação em rede, em Yochai Benkler e em Manuel Castells, essa contradição entre a ampliação das chances de cooperação direta entre as pessoas a que a economia digital dá lugar e o poder dos que dominam esse mundo digital. Castells[23] insiste que nós podemos (para falar como os espanhóis), porque nós temos os meios técnicos para o poder. Isso é inédito, nós não precisamos da mediação do Estado, do controle estatal sobre os grandes meios de produção e troca para que isso nos abra caminho à nossa cooperação como espécie humana. Nós não precisamos mais disso, porque esses grandes meios de produção e troca (e essa é uma observação de natureza teórica, conceitual) eles vão deixando de existir, serão cada vez mais descentralizados, estarão em mãos de indivíduos, e permitirão que a cooperação direta e indireta entre indivíduos se faça nos mais diversos planos. Do ponto de vista teórico-conceitual, a cooperação social trazia embutida em si um risco e um dilema fortíssimo, que era: sempre que você punha os indivíduos para cooperar, essa cooperação só funcionava se esses indivíduos tivessem presentes fisicamente, se eles pudessem interagir fisicamente. A economia solidária de certa forma se apoia nessa premissa, os operários tomam conta de uma fábrica falida e decidem conjuntamente, olho no olho, todo mundo participando, o que vai acontecer. O próprio poder socialista supunha os sovietes, os conselhos, que seriam instâncias organizadas e representativas (que nunca funcionaram enquanto tal, é importante lembrar).
RZ: Elinor Ostrom[24] também sempre considera exemplos reais de comunidades lidando com recursos naturais, onde há presença física dos membros da comunidade para o estabelecimento de um modelo de gestão de um recurso de acesso comum.
RA: O trabalho de Elinor Ostrom é fundamental porque rompe com a dicotomia convencional na ciência política entre gestão por meio do mercado (que supõe direitos de propriedade claramente definidos e indivíduos operando de forma racional e descentralizada) e gestão por meio do Estado, que supõe a força hierárquica da autoridade. Ostrom examina centenas de exemplos em que a gestão de recursos comuns se faz por meio de organizações comunitárias, não por mercados, nem pelo Estado. Mas não se pode ignorar ao menos dois problemas que esta participação suscita.
Em primeiro lugar, a participação direta dos indivíduos na tomada de decisão a respeito dos seus recursos, até aqui, ela foi pensada fundamentalmente em situações locais. Segundo, são inúmeros os casos, sobretudo quando se trata de participação política, ou de participação em processos de planejamento, em que essa participação direta acaba sendo mediada por uma preocupação a respeito da sua real representatividade. O risco é que, tão logo esta participação se institucionalize, seu ímpeto inovador pode ser esterilizado pelo tema da representação. No caso de muitos Conselhos de Desenvolvimento Rural, que eu acompanhei durante o início dos anos 2000 no interior do Brasil[25], a discussão deixava de ser “como é que a gente faz para inovar” e passava a ser “quem é que é representado aqui e quem é que está representando quem”. E aí a hierarquia e a burocratização que havia sido expulsa pela porta da frente voltam e entram pela porta dos fundos. Abordei este tema num artigo publicado em 2010, na revista Sociologias[26].
RZ: E como isso muda com a era digital?
RA: Acho que Manuel Castells faz a aposta de que esse impasse é suprimido pela cultura digital, porque aí não se trata mais de representação, mas da presença direta das pessoas, por meios que eram inexistentes antes do início da cultura digital. Mas eu não vejo nem o Castells, nem o Benkler, não vejo neles uma reflexão sobre a ameaça representada pelo poder das grandes corporações e seus modelos de negócios, que consiste em apoiar seus ganhos nos dados que os usuários lhes oferecem involuntariamente e gratuitamente. Quem levanta isso de forma interessante é Alex Pentland, autor de Social Physics[27].
Em suma, teoricamente, o jeito de pensar a mudança social na era digital, muda. Mais que isso: muda o significado do que é e como pode emergir a cooperação social. Antes da era digital, não haveria como você imaginar cooperação social em uma macro escala senão sob a forma de poder estatal e representativo. Não é que, na era digital, o Estado perca relevância, é claro. Mas não é o Estado (ainda que fosse representativo e democrático) que vai exprimir fundamentalmente esse processo de cooperação social. Não tem porque ser o Estado.
RZ: E você acha que as plataformas teriam um propósito, uma finalidade, um conjunto de valores, e que a participação voluntária ou não dos seus membros acabam substituindo, ou criando uma série de micro formas de organização que vão replicar um pouco a lógica do Estado?
RA: Eu não sei. E eu acho que ninguém sabe. Mas a aspiração, quando se valoriza a participação descentralizada e não hierárquica, é suprimir não só a burocracia e o autoritarismo que emergem das formas representativas convencionais, mas fortalecer as possibilidades de inovação. Ao mesmo tempo, o que se vê é que as iniciativas recentes que promoveram amplas mobilizações e sem estruturas organizadas que lhes dessem sustentação parecem ter-se esvanecido. Sua capacidade de acumular forças e traduzir isso no plano da política é muito limitada.
Há um aspecto teórico e metodológico muito importante em nossa conversa e ele é analisado pelo livro, que já mencionei, de Alex Pentland, Social Physics. As ciências sociais, até aqui analisam a sociedade, ou, de forma viva, a partir do convívio dos antropólogos, etnólogos, com pequenos grupos, ou de maneira massiva, mas por meio de retratos, fazendo comparações de dados censitários ao longo do tempo, e testando hipóteses causais a respeito da evolução destes retratos. Mas agora isso mudou: pela primeira vez, o acesso a “Big Data” traz a possibilidade de se conhecer e acompanhar comportamentos sociais ao vivo. Isso muda muito, a forma e o conteúdo do conhecimento da sociedade. Pode-se observar massas humanas em seus comportamentos cotidianos de forma completamente inédita. Isso vai acabar interferindo no conhecimento que diferentes instâncias do poder público e o próprio ativismo têm da vida social. Por enquanto estes dados têm sido usados como base para o modelo de negócios dos gigantes da internet e sua consequência é ameaça à privacidade, que mereceu até um número especial da Nature, no início de 2015.[28]
RZ: Uma última pergunta. Em dezembro de 2014, no texto “Tendências da economia compartilhada” [29] você apontou três tendências que mereceriam mais estudos por acadêmicos da área, ou pessoas interessadas no debate sobre economia compartilhada, que seriam: conectividade compartilhada dos objetos (internet das coisas); capacidade de produção e disseminação cultural das comunidades, que é um fenômeno relevante; e, terceiro, a apropriação privada dos conteúdos, da riqueza imaterial produzida pelos sujeitos nas redes. A pergunta é: um ano depois de ter apontado esses três objetos a que nós deveríamos prestar mais atenção, tem algum elemento que surgiu, que ganhou destaque na sua análise, que não foi identificado ano passado? Você mantém a posição de que esses três fenômenos são dignos de mais atenção e estudo para pensar o presente e o futuro das economias do compartilhamento?
RA: Eu acho que um elemento que eu não levei suficientemente em conta ao dizer isso, talvez embutido na ideia de internet das coisas, mas que não é exatamente a mesma coisa, é o que eu já mencionei, que é o ritmo do progresso tecnológico. E com o qual eu acho que a gente tem que lidar a partir daquilo que o grande pensador alemão Hans Jonas, autor do “Princípio da Responsabilidade” [30] preconiza, que é a heurística do medo. A heurística do medo não é um convite à paralisia. Ela consiste em dizer que os meios técnicos dos quais a gente dispõe hoje para interferir na natureza, na vida social, no nosso corpo, e na nossa capacidade reprodutiva como espécie, esses meios técnicos são muito mais poderosos do que as bases éticas a partir das quais nós somos capazes de pensá-los. A possibilidade de prever as suas consequências é muito menor do que os danos que esses meios técnicos podem causar. Esse progresso técnico tem se acentuado muito durante a segunda década do século XXI e, sobretudo, ele tem se generalizado a muitos domínios da vida social.
Claro que os benefícios daí decorrentes podem ser imensos. Basta ver o que China[31] e Índia[32] estão fazendo em matéria de energia solar e eólica. Mas na relação com a ciência e a técnica é fundamental a consciência autorreflexiva sobre nossos limites éticos para lidar com elas. Estes limites só podem ser colocados pela sociedade civil, mas eles têm que ser elaborados e estudados na academia; têm que fazer parte dos critérios de decisão empresarial; enfim, devem estar presentes em todas as organizações. A gente tem que intensificar a capacidade autorreflexiva em torno dessa aceleração da ciência e da técnica. Sem isso, podemos perder oportunidades incríveis, e ingressar numa lógica autodestrutiva, como temia com razão Hans Jonas. Hans Jonas não é um “ambientalista”. Sua reflexão é sobre ciência e tecnologia. E ele escreveu o princípio da responsabilidade em 1979. Ele morreu em 1993 e não podia sequer imaginar os avanços e os benefícios potenciais destes avanços que estamos vivendo hoje, por exemplo, com as consequências da revolução dos semicondutores na oferta de energia. Mas estes avanços não eliminam, ao contrário, aumentam a necessidade de nos relacionarmos com a ciência e a técnica tendo por base a heurística do medo.
Referências
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[1] Introdução escrita por Rafael A. F. Zanatta.
[2] Ver ABRAMOVAY, R. Transformações na Vida Camponesa: o sudoeste paranaense. Dissertação de mestrado. FFLCH, Universidade de São Paulo, 1981. ABRAMOVAY, R. O Que é Fome. São Paulo: Abril Cultural, 1985. ABRAMOVAY, R. Duas Visões do Comportamento Camponês. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v. 6, n. 2/3, p. 259-275, 1989.
[3] Ver ABRAMOVAY, R. A dualização como caminho para a agricultura sustentável. Estudos Econômicos, v. 24, p. 157-182, 1994. ABRAMOVAY, R. Agricultura familiar e desenvolvimento territorial. Reforma agrária, v. 28, n. 1, p. 2, 1998. ABRAMOVAY, R. A rede, os nós, as teias: tecnologias alternativas na agricultura. Revista de Administração Pública, v. 34, n. 6, p. 159-177, 2000.
[4] Ver ABRAMOVAY, R. Conselhos Além dos Limites. Estudos avançados, v. 15, n. 43, p. 121-140, 2001. ABRAMOVAY, R. Entre Deus e o Diabo. Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, v. 16, n. 2, p. 36, 2004. ABRAMOVAY, R. Anticapitalismo e inserção social dos mercados. Tempo Social, v. 21, n. 1, p. 65-87, 2009. ABRAMOVAY, R. Desenvolvimento sustentável: qual a estratégia para o Brasil?. Novos estudos-CEBRAP, n. 87, p. 97-113, 2010.
[5] Entrevista realizada em novembro de 2015 por Rafael Zanatta. Transcrição de Beatriz Kira e revisão de Ricardo Abramovay e Rafael Zanatta. Notas de rodapé inseridas pelos coordenadores da obra, com validação do entrevistado.
[6] State of Green Business Report 2015. Disponível em: <https://www.greenbiz.com/report/state-green-business-report-2015>, último acesso em 19 jan. 2017.
[7] RIFKIN, J. The Zero Marginal Cost Society: the internet of things, the collaborative commons, and the eclipse of capitalism. New York: Macmillan, 2014.
[8] JACKSON, T. Prosperity without growth: economics for a finite planet. Londres: MPG Books, 2009. Disponível em: <http://www.ipu.org/splz-e/unga13/prosperity.pdf>, último acesso em 19 jan. 2017.
[9] ABRAMOVAY, R. PIB pró-consumo é bom, menos nas consequências. 2014. Disponível em: <http://ricardoabramovay.com/pib-pro-consumo-e-bom-menos-nas-consequencias/>, último acesso em 19 jan. 2017.
[10] ABRAMOVAY, R. Por uma revolução verde, de viés biônico. Valor Econômico, 2015. Disponível em: <http://ricardoabramovay.com/por-uma-revolucao-verde-de-vies-bionico/>, último acesso em 19 jan. 2017.
[11] GORZ, A. Metamorfoses do Trabalho: crítica da razão econômica. Annablume, 2003. Disponível em: <https://books.google.com.br/books/about/Metamorfoses_Do_Trabalho.html?id=MnfwUY5lw14C&redir_esc=y>, último acesso em 19 jan. 2017.
[12] FORD, M. Rise of the Robots: Technology and the threat of a jobless future. New York: Basic Books Group, 2015.
[13] Disponível em: <http://www.ft.com/intl/cms/s/0/45ea0f60-8d55-11e5-8be4-3506bf20cc2b.html#axzz45iWu1hd0>, último acesso em 13 abr. 2016.
[14] GORZ, A. Imaterial (o) – Conhecimento, Valor. Annablume, 2005. Disponível em: <https://books.google.com.br/books/about/Imaterial_o_Conhecimento_Valor.html?hl=pt-BR&id=Tn2GRU3uTtIC>, último acesso em 19 jan. 2017.
[15] BENKLER, Y. The Penguin and the Leviathan: How cooperation triumphs over self-interest. New York: Crown Business, 2011.
[16] ANDERSON, C. Makers: The New Industrial Revolution. New York: Random House, 2012.
[17] ABRAMOVAY, R. A Inovação Pelos Pares Veio Para Ficar, Página 22, FGV-EAESP, 02/04/2015. Disponível em: <http://www.pagina22.com.br/2015/04/02/a-inovacao-pelos-pares-veio-para-ficar/>, último acesso em 19 jan. 2017.
[18] YOUNG GLOBAL LEADERS. Circular Economy Innovation & New Business Models Dialogue, The Forum Young Global Leaders. Davos, World Economic Forum, 2013. Disponível em: <http://www3.weforum.org/docs/WEF_YGL_CircularEconomyInnovation_PositionPaper_2013.pdf>, último acesso em 19 jan. 2017.
[19] “Commons” é um termo utilizado na literatura para designar “bens comuns” e relações institucionais que derivam da governança desses bens. Os “commons” não são bens públicos nem bens privados e não se encaixam nas categorias jurídicas tradicionais do direito.
[20] REICH, R.B. The Case Against Corporate Social Responsibility. Goldman School of Public Policy Working Paper No. GSPP08-003, 2008. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/Papers.cfm?abstract_id=1213129>, último acesso em 19 jan. 2017.
[21] ABRAMOVAY, R. Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão. 3ª edição. São Paulo: EdUSP, 2007.
[22] GREENWALD, G. No Place to Hide: Edward Snowden, the NSA, and the US surveillance state. New York: Macmillan, 2014.
[23] CASTELLS, M. A Sociedade em Rede: A era da informação: economia, sociedade e cultura. Vol. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
[24] Elinor Ostrom foi uma cientista política que reestruturou o campo de estudos econômicos sobre “bens comuns” e instituições de governança de bens compartilhados. Suas pesquisas durante as décadas de 1980 em Indiana foram consolidadas no livro Governing the Commons, que ganhou projeção mundial na década de 1990. Em 2009, Elinor Ostrom recebeu o Prêmio de Ciências Econômicas da Academia de Estocolmo (“Prêmio Nobel”). Ver <http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/economic-sciences/laureates/2009/ostrom-lecture.html>, último acesso em 19 jan. 2017.
[25] Ver ABRAMOVAY, R. Conselhos Além dos Limites. Estudos avançados, v. 15, n. 43, p. 121-140, 2001.
[26] ABRAMOVAY,R.; MAGALHÃES,R.; SCHRODER,M. Representatividade e inovação na governança dos processos participativos: o caso das organizações Brasileiras de agricultores familiares. Sociologias,vol.12 no.24. Porto Alegre, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222010000200010>, último acesso em 19 jan. 2017.
[27] PENTLAND, A. Social Physics: how good ideas spread-the lessons from a new science. London: Penguin, 2014.
[28] WILSON, S. Big data held to privacy laws, too. Nature, v. 519, 414, 2015. Disponível em: <http://www.nature.com/nature/journal/v519/n7544/full/519414a.html#/author-information>, último acesso em 13 abr. 2016.
[29] ABRAMOVAY, R. Tendências da Economia Compartilhada, Estadão Link, 29/12/2014. Disponível em: <http://ricardoabramovay.com/tendencias-da-economia-compartilhada/>, último acesso em 13 abr. 2016.
[30] JONAS, H. The Imperative of Responsibility: in search of an ethics for the technological age. Chicago: University of Chicago Press, 1985.
[31]Ver <http://www.nytimes.com/interactive/projects/cp/climate/2015-paris-climate-talks/china-raises-its-targets-for-renewable-energy>, último acesso em 19 jan. 2017.
[32]Ver <http://www.theguardian.com/environment/2015/nov/30/india-set-to-unveil-global-solar-alliance-of-120-countries-at-paris-climate-summit>, último acesso em 19 jan. 2017.