Para além da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que, no fim de 2014, publicou densos volumes recontando a ditadura civil e militar que comandou o Brasil de 1964 a 1985, outras iniciativas se somam na busca por conhecer fatos e personagens desse ainda obscuro capítulo da história brasileira. No site “Documentos revelados”, qualquer pessoa pode ter acesso a documentos de arquivos oficiais como mandados de prisão, informes, radiogramas, ofícios, dossiês e relatórios, dentre outros, produzidos pela burocracia policial.
Até o momento, o site abriga um total de 80 mil documentos da ditadura e das organizações de resistência à repressão, acervo que contribuiu, inclusive, para a pesquisa da CNV, sendo considerada a maior página de documentos da repressão no país. No ar desde 2011, a página na Internet também recebe denúncias e contém um mural que pode funcionar como fórum para debater as questões que envolvem os inumeráveis casos de repressão em todo o país.
Editor do site, o jornalista e ex-integrante da militância revolucionária Aluízio Palmar discute o atual contexto do país. “Reconheço que essa busca é tardia, pois, no Brasil, ao contrário do Chile, Argentina e Paraguai, os arquivos da repressão estão sendo abertos fora do tempo apropriado”, afirma. Ele destaca que a Lei de Anistia, além de haver permitido a devolução dos direitos civis e políticos aos perseguidos pela ditadura, beneficiou os torturadores e serviu também ao propósito do esquecimento do passado.
“O resultado dessa dubiedade é o fato de que, enquanto as vítimas precisam remexer nos arquivos para que histórias sejam reconstruídas, os algozes e seus cúmplices fazem de tudo para que o passado permaneça intacto e possam, assim, terminar em paz os seus dias”, diz o editor, hoje aos 72 anos de idade.
No período ditatorial, ele era estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal Fluminense (UFF). Palmar organizou o MR-8, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro, e foi um dos presos trocados pelo embaixador da Suíça, em janeiro de 1971. Com a repressão, não concluiu o curso, foi preso e banido do país, ficando exilado por oito anos entre o Chile, Argentina e Uruguai. Ele também foi um dos fundadores da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), último grupo de guerrilha armada no Brasil contra a ditadura militar.
Apesar da retomada da ditadura e a disponibilização de parte do acervo do período militar, Palmar chama a atenção para o nível de veracidade dos dados contidos nos documentos oficiais. “Os documentos dos arquivos da ditadura devem ser vistos com o olho crítico da dúvida, pois foram escritos por pessoas treinadas para mentir, contrainformar, caluniar, prender, torturar e matar”, alerta. “Espero que o Documentos revelados contribua para a compressão dos acontecimentos das décadas passadas, dos métodos de controle usados pelo Estado policial e estimule os visitantes a terem um compromisso ativo com a democracia”, acrescenta o ex-guerrilheiro.
Acesso site Documentos revelados aqui.
Fonte: Adital, por Marcela Belchior
