O Fórum de Entidades e Movimentos Sociais do Sudoeste da Bahia, por ocasião da realização da Conferência Territorial de Segurança Alimentar e Nutricional, promovida pelo Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional da Bahia (Consea-Ba), órgão vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), em Vitória da conquista nos dia 10 e 11 de agosto de 2015, lançou manifesto convocando a sociedade a discutir os reais obstáculos e ameaças à conquista da alimentação adequada e saudável e da soberania alimentar. Confira abaixo!
QUAL SEGURANÇA E SOBERANIA ALIMENTAR NECESSITAMOS?
O FÓRUM DE ENTIDADES E MOVIMENTOS SOCIAIS DO SUDOESTE DA BAHIA formula a questão acima aos delegados da Conferência Territorial de Segurança Alimentar e Nutricional de Vitória da Conquista, lembrando que para esse evento reforçar o seu caráter político, formativo e de mobilização da sociedade precisa discutir os reais obstáculos e ameaças à conquista da alimentação adequada e saudável e da soberania alimentar.
No nosso território essas ameaças estão expressas também no avanço descontrolado da monocultura de eucaliptos e da mineração, com amplo apoio e desregulamentação ambiental por parte do Estado, ao lado de todo tipo de financiamento e subsídios oficiais.
Não é possível assegurar soberania alimentar, quando o agronegócio assegura o direito de não identificar sua produção transgênica nos rótulos dos alimentos oferecidos à população brasileira. Não é possívelconquistar a alimentação adequada e saudável, enquanto as grandes empresas capitalistas e as empresas agrícolas manipularem o Estado para continuarem usando milhões de toneladas agrotóxicos banidos em seus países de origem, fazendo do brasileiro o cidadão campeão mundial de consumo de veneno agrícola, já superando os sete quilos por pessoa – ano.
Como nossa alimentação poderá ser adequada e saudável se, sob o domínio desses interesses e a cumplicidade do Estado, tem sido cada vez mais fonte de doenças graves e letais? O meio ambiente do Planalto da Conquista, que tanto sofreu com a cafeicultura e a pecuária sem quaisquer controles, agora está sob a mira dos plantadores de eucaliptos, que já ocupam mais de 80 mil hectares dessa região. Essa monocultura, conhecida por seus danos aos recursos hídricos, usa intensivamente o Roudup (glifosato). São noves litros desse agrotóxico por hectare – ano durante a fase inicial de crescimento das árvores. Isso significa que, só no planalto da Conquista, nossos solos, lençóis freáticos, reservas e cursos de água devem ter recebido 720.000 litros desse produto, além da sulforamida usada no combate as formigas. Isso é muito sério, afinal, o Roundup pertence a Classe 1 de contaminação, ou seja, apresenta elevado índice de intoxicação e interferência na saúde e no meio ambiente. O potencial ofensivo desse agrotóxico revela-se em má formação fetal, neoplasia, câncer, distúrbios endócrinos, distúrbios e lesões neurológicas, respiratórias e cardíacas, irritação ocular e auditiva etc, sendo que seu potencial cancerígeno é indicado por cientistas dos mais importantes centros de pesquisas do mundo.
Infelizmente, a Bahia, com seus cerca de 700 mil ha plantados de eucaliptos, está convertendo campos produtivos de cereais, frutas, carne e leite, em áreas produtoras de carvão e celulose, verdadeiros “Desertos Verdes”, onde a fauna e a biodiversidade são praticamente eliminadas. Sem refletir ou medir os resultados, Vitória da Conquista e municípios vizinhos estão transformando seus territórios em fornecedores de carvão para o polo siderúrgico de Betim (MG). E se não bastasse, o órgão ambiental baiano, o INEMA, licenciou previamente o plantio de mais 107 mil ha de eucaliptos para a Veracel Celulose, sendo metade desse total em municípios próximos (Encruzilhada, Itapetinga, Macarani, Maiquinique, Itarantim e Potiraguá), impactando fortemente a bacia do Rio Pardo e seus afluentes.
Essa Conferência, caso não queira se calar frente a tais descalabros e repetir os blá-blá-blás oficiais, precisa se posicionar claramente frente a esse estado de coisas, e, além de reforçar as ações positivas em andamento, algumas delas com o apoio tímido de programas e políticas públicas, deve apontar a necessidade de se lutar de forma concreta contra tais ameaças, exigindo a realização de ampla reforma agrária, a reorientação do modelo agrário e agrícola, apontando a produção de alimentos agroecológicos, como o caminho para se construir uma verdadeira soberania alimentar, bem como a necessidade de uma nova Aliança Campo – Cidade, que possibilite a força social necessária para impedir o Capital de continuar a destruir os recursos naturais da humanidade.
Fonte: CEAS