Em entrevista, militante histórica do movimento negro fala sobre feminismo e mercado de trabalho
Por Marcela Reis, do Observatório
O Dia Internacional da Mulher, no oito de março, foi marcado por manifestações em diversas capitais de todo território nacional como um dia de luta e resistência das mulheres.
Em entrevista ao Observatório, Cida Bento, coordenadora executiva do Centro de Estudos de Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), falou sobre a importância da data para as mulheres negras, além de feminismo e mercado de trabalho.
Confira os pontos mais importantes da entrevista:
Dia Internacional da Mulher
O oito de março é importante para resignificar essa data de luta e pensar que, quando falamos de mulheres, são todas. Há ausência de mulheres negras nos espaços onde as mulheres brancas estão avançando. Temos que repensar esse problema de gênero que envolve as mulheres negras.
Falta representatividade
As mulheres negras não estão contempladas pelo feminismo genérico, principalmente as mulheres negras da periferia. Elas não avançam no movimento, permanecem sem representatividade nos espaços. Ainda tem muita coisa a ser alcançada.
Nos últimos tempos houve o aumento de 54% da violência contra as negras [O Mapa da Violência mostra que, entre 2003 e 2013, o número de homicídios de mulheres negras aumentou 54,2%, enquanto o número de homicídios de mulheres brancas caiu 9,8%]. É necessário que o movimento seja repensado. Tem que haver uma conversa entre as mulheres brancas e as negras para tentar entender se as mulheres negras estão por conta própria ou não.
Feminismo negro no Brasil
Desde a época da escravidão as mulheres negras já percebiam que havia algo errado, porque a violência que elas eram submetidas era enorme. Eu acho que para nós, a Sueli Carneiro foi um marco, um divisor de águas, ela nos fez repensar o feminismo, perceber a necessidade do movimento para as mulheres negras.
Mercado de Trabalho
O mercado de trabalho é muito diferente para as mulheres brancas e as negras. As oportunidades não são as mesmas [Em 2010 o IBGE mostrou que 17,7% das mulheres brancas tinham ensino superior completo. Já entre as negras e pardas, só 6,7% tinham], nem o salário.
Nas grandes corporações, por exemplo, já não têm muitas mulheres, mas negras não têm. Nos comitês de diversidade dessas corporações não tem mulher negra, não tem representação. Isso coloca muitos conceitos em xeque, porque as mulheres negras não avançam em sua agenda de forma alguma.
Mas existem políticas públicas que ajudam. O Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça [Programa da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República] é um deles. É um ótimo programa, mas tem que haver mais debate com as mulheres negras e sobre o que elas precisam.
Foto: Reprodução do site do CEERT
2 comments
Telmo Kiguel
Prevenir a Conduta Discriminatória Machista é um bom caminho:
http://saudepublicada.sul21.com.br/2016/02/11/prevenindo-a-conduta-discriminatoria-machista/