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Movimentos cobram mais participação popular nas nomeações de ministros do STF

Via Brasil de Fato

Entidades querem mudanças para que o compromisso com os direitos humanos, e as perspectivas de gênero e raça, sejam levados em conta para escolha de novos representantes

Mais de cinquenta entidades e movimentos sociais enviaram nesta segunda-feira (15) uma Carta Aberta à Presidência da República e ao Ministério da Justiça pedindo mais transparência e democracia para os processos de escolha dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Com a aposentadoria de Joaquim Barbosa, o documento chega num momento em que uma das onze cadeiras do órgão está em aberto. Movimentações nos bastidores já começaram, mas a nomeação só deve acontecer pela Presidenta Dilma Rousseff após as eleições de outubro.

No documento, a fim de aproximar a Corte do cidadão, as organizações pedem a criação de mecanismos como chamadas públicas, divulgação das candidaturas, consulta à sociedade, entre outras medidas, cujo enfoque é aumentar a representatividade da população no Supremo. Uma das prioridades é para que “as perspectivas de gênero e raça” sejam adotados como critérios fundamentais para a escolha dos ministros pelo chefe do Executivo.

“Nos últimos anos o Supremo ganhou uma centralidade muito grande no processo democrático no país com ferramentas como a TV Justiça e julgamentos de temas sensíveis aos direitos humanos. Acontece que essa importância não vem sendo acompanhada por uma transparência maior. Todo o processo de escolha dos ministros é muito fechado e queremos democratizar isso justamente para colocar o cidadão a par dos acontecimentos”, explicou Salomão Ximenes, advogado da ONG Ação Educativa.

Para Ximenes, a participação popular se daria em três momentos durante a escolha do ministro. “Tem de haver uma manifestação de interesses dos que pleiteiam o cargo para a sociedade ter acesso aos currículos dos postulantes. Depois, manifestar os critérios que levaram a indicação daquela pessoa. E, por último, ele deve passar pelo escrutínio da sociedade antes da sabatina do Senado, para que de fato haja uma avaliação justa”, explicou.

A carta ainda aponta que o atual contexto político e social, “de manifestações populares por maior participação social nas decisões tomadas pelo poder público, por reforma do sistema político, por maisdemocracia, amplia a necessidade de construção de mecanismos que garantam transparência também no âmbito do sistema de justiça”.

Leia a íntegra do documento:

Carta Aberta

Por transparência e participação social nos processos de nomeações de Ministros/as do Supremo Tribunal Federal

Excelentíssima Presidenta da República
Sra. Dilma Rousseff
Excelentíssimo Ministro da Secretaria Geral da Presidência da República
Sr. Gilberto Carvalho
Excelentíssimo Ministro da Justiça
Sr. José Eduardo Cardozo

As articulações, redes, organizações e movimentos sociais que subscrevem este documento pleiteiam a regulamentação de um procedimento democrático para os processos de escolha e nomeação de novos/as Ministros do Supremo Tribunal Federal.

Desde 2011 diversas organizações têm acompanhado e reivindicado maior transparência e participação social nos casos de substituição de Ministros da Suprema Corte brasileira. Em Carta Aberta encaminhada à Presidência, naquele ano, as organizações ressaltaram que “na medida em que aumentam a presença e a influência do Poder Judiciário em temas ligados às políticas públicas e Direitos Humanos, amplia-se também a responsabilidade social dos seus membros, o que deve ser ressaltado no momento da indicação presidencial ao cargo da mais alta Corte de Justiça do país”.

Desde então, neste processo centenas de organizações da sociedade civil e personalidades do mundo jurídico, acadêmico e político vêm reivindicando a criação de um procedimento republicano e democrático para escolha dos próximos ministros e ministras do STF, o qual deveria ao menos incluir as seguintes etapas: 1) Chamada pública de candidaturas; 2) Disponibilização no portal eletrônico da Presidência da República dos nomes e antecedentes curriculares das candidaturas que se encontrem em consideração pela Presidência; 3) Abertura de prazo para consulta pública a respeito dos pré-candidatos, e publicização das informações; 4) Elaboração e publicação de relatório final que justifique a escolha do candidato ou candidata que será submetido à sabatina do Senado.

Neste processo, tanto a Articulação Justiça e Direitos Humanos – JusDH como outras entidades e iniciativas pleitearam abertura e diálogo com a sociedade em todos os processos de substituição de Ministros ocorridos no âmbito do STF. Em 2012, com fundamento na Lei nº 12.527/2011, entregamos a V. Exas. pedido de acesso à informação acerca da indicação de ministro/ministra do Supremo Tribunal Federal para a vaga do Ministro Ayres Britto.

Acreditamos que o compromisso com os direitos humanos, a perspectiva de gênero e raça devem ser elevados a critério fundamental para a escolha da Presidenta, aliado à instituição da transparência e participação social como procedimentos democráticos de todas as indicações para os Tribunais Superiores.

Preocupadas em conhecer a compreensão, as posturas e o compromisso das/os juristas indicados/as em relação aos direitos humanos e à democratização do Sistema de Justiça, as organizações também têm apresentado questões para serem consideradas e formuladas pelos Senadores por ocasião das sabatinas dos candidatos pela Exma. Sra. Presidenta da República.

Ainda sobre a necessidade de ampliação democrática no procedimento de indicação de Ministros/as do STF, é oportuno frisar que esta tem sido também uma reivindicação de setores da própria magistratura comprometidos com o aprofundamento democrático no judiciário. A Associação Juízes para a Democracia – AJD, por exemplo, também em 2011 encaminhou à Presidência da República pedido para edição de “decreto que estabelecesse procedimento apto a permitir e a estimular a participação popular no processo de escolha dos integrantes do STF”.

Em sua nota pública, indicou a Associação “que o modelo pretendido seria aquele adotado pelo Decreto 222, expedido pela presidência da República Argentina no ano de 2003. Em tais termos, o ato normativo disporia que a nomeação de ministro para o STF deveria ser precedida de procedimento que: a) em um primeiro momento, permitisse a máxima divulgação do histórico dos(as) juristas a serem considerados(as) para integrar a mais alta corte do país; b) em um segundo momento, estipulasse um lapso de tempo razoável para o debate e a manifestação formal dos cidadãos, associações e entidades de classe acerca dos(as) candidatos(as) indicados(as); c) em um terceiro momento, encerradas tais fases, a presidência da república indicaria o nome do(a) candidato(a), que, por sua vez, seria submetido à sabatina e a eventual aprovação pelo Senado”. Recentemente, a AJD reiterou o pedido de edição de decreto que regulamente o procedimento de indicação.

Certamente, o atual contexto político e social, de manifestações populares por maior participação social nas decisões tomadas pelo poder público, por reforma do sistema político, por mais democracia, amplia a necessidade de construção de mecanismos que garantam transparência e participação social também no âmbito do sistema de justiça.

O Poder Judiciário, como instituição da administração pública brasileira, também deve fazer parte das respostas aos anseios dos milhares de brasileiros e brasileiras que ganharam as ruas. Portanto, construir mecanismos para participação da sociedade nos processos de indicação de pessoas que ocuparão a relevante função de Ministros/as da mais alta Corte do país, certamente significa um passo fundamental para tornar o sistema de justiça mais plural e para responder às demandas sociais por direitos e participação.

Por todos esses motivos, as organizações que abaixo subscrevem vêm requerer que o processo de nomeação de Ministros/as do Supremo Tribunal Federal seja regulamentado, com procedimentos que garantam a chamada pública de candidaturas, aliada a etapas de divulgação das candidaturas, consulta pública quanto aos perfis dos candidatos e participação da sociedade nas sabatinas. Requeremos ainda que o compromisso com os direitos humanos, as perspectivas de gênero e raça sejam critérios estruturantes para escolha de novos/as Ministros/as.

Assinam:
JusDh – Articulação Justiça e Direitos Humanos
Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político
Plataforma Dhesca Brasil
RENAP – Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares
AJD – Associação de Juízes para Democracia
ANADEF – A Associação Nacional de Defensores Públicos Federais
Colégio Nacional das Ouvidorias das Defensorias Públicas
Abong – Organizações em Defesa dos Direitos e Bens Comuns
CNLB – Conselho Nacional do Laicato do Brasil
MNDH – Movimento Nacional de Direitos Humanos
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
CPT/PR – Comissão Pastoral da Terra /PR
MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens
RENADE – Rede Nacional de Defesa do Adolescente em Conflito com a Lei
Ação Educativa
Conectas Direitos Humanos
Terra de Direitos
Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos
Geledés – Instituto da Mulher Negra
INESC – Instituto de estudos socioeconômicos
Dignitatis
Justiça Global
Centro de Assessoria Popular Mariana Criola
AATR- Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais da Bahia
Sociedade Paraense de Direitos Humanos
CIMI – Conselho Indigenista Missionário
ACT – Aliança de Controle do Tabagismo
Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids
AOPA – Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia
Blog Combate ao Racismo Ambiental
Centro de Direitos Humanos e Cidadania Ir. Jandira Bettoni – Lages-SC
CRDH – Centro de Referência em Direitos Humanos Dom Helder Câmara
CEDECA-DF – Centro de Defesa de Direitos da Criança e Adolescente-DF
FASE- Federação de Órgãos p/ Assistência Social e Educacional
Fundação Bento Rubião
Instituto Pólis
Instituto Nhandecy
MNDH-SC – Movimento Nacional de Direitos Humanos em Santa Catarina
Movimento Nacional De Rádios Comunitárias
Frente de Direitos Humanos e Assuntos Jurídicos
Rede Ecovida de Agroecologia
Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo
URUCUM – Assessoria em Direitos Humanos Comunicação e Justiça
OBIJUV – Observatório da População Infanto Juvenil em Contextos de Violência
Centro de Defesa dos Direitos Humanos Dom Oscar Romero – PB
Centro de Direitos Humanos de Sapopemba – SP
CEDECA – Mônica Paião Trevisan – SP
Mães Vítimas de Violência
Fórum da Cidadania de Santos
DDH – Instituto de Defensores de Direitos Humanos

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