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Com objetivo de combater a dupla discriminação sofrida pelas mulheres negras, foi idealizada em encontro em Salvador, no ano de 2011, a Marcha das Mulheres Negras, com data marcada para o dia 18 de novembro deste ano, em Brasília. “Isso porque as mulheres negras estão na base da pirâmide social.

Ela cita o trabalho doméstico, por exemplo, no qual elas são maioria. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 21% das negras são empregadas domésticas, sendo que somente 23% delas tinham carteira assinada em 2013. “Por isso a aprovação da Lei das Domésticas, mesmo que com algumas ressalvas, representam um enorme avanço nas relações trabalhistas brasileiras e beneficiam a melhoria de vida das negras substancialmente”, explica Lucileide Mafra, dirigente da CTB.

Mulheres negras farão marcha contra a violência e racismo

Dados divulgados recentemente pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, mostram que as negras vítimas de homicídios no país são mais que o dobro das brancas. O levantamento Diagnóstico dos Homicídios no Brasil: Subsídios para o Pacto Nacional pela Redução de Homicídios mostra que para cada 100 mil habitantes 7,2 negras foram assassinadas no ano passado, enquanto o número de brancas foi de 3,2. “Isso mostra claramente que a violência no Brasil tem cor e gênero”, acentua Mônica.

Já o levantamento “Retrato das desigualdades de gênero e raça”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou que a taxa de desocupação entre mulheres negras chegava a 12,4%, contra 9,4% entre mulheres brancas, 6,7% entre os homens negros e 5,5% entre os homens brancos, em 2007. O IBGE apresenta dados ainda mais reveladores. O salário médio das mulheres em 2013 foi de R$ 1.855,37, enquanto dos homens era de R$ 2.334,46. Já o Relatório Estatísticas de Gênero, também do IBGE, mostrou que as mulheres negras ganhavam R$ 726,85 em média em 2010 e as brancas recebiam R$ 1.396.32.

“Nós falamos muito em acelerar os processos para garantir que essas diferenças diminuam em um tempo rápido, porque são brechas históricas que têm que se fechar. Mas as políticas públicas, o Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, o Pronatec, o Brasil sem Miséria têm sido políticas muito importantes que têm mudado a cara e a inserção das mulheres negras no Brasil de uma maneira muito importante”, diz Nadine Gasman, representante da Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres no Brasil.

Para ela, porém, as mulheres negras estão atrás nos indicadores sociais e econômicos do país. “Por exemplo, em termos de pobreza, a população negra é mais vulnerável, sete em cada dez casas que recebem o Bolsa Família são chefiadas por negros, sendo que 37% das casas são chefiadas por mulheres. Temos entre mulheres brancas um desemprego de cerca de 9%, entre as mulheres negras ultrapassa 12%. Outra área que vale a pena ressaltar é o tema da renda. As mulheres negras recebem 42% do salário dos homens brancos. É muito chocante elas receberem menos da metade do salário dos homens brancos”, reforça.

“A marcha nasceu com o intuito de chamar a atenção para as questões que afligem 25% da população brasileira, que vive em situação de vulnerabilidade 24 horas por dia. Porque não tem creche para os nossos filhos, moramos na periferia, onde não chegam as políticas de Estado e enfrentamos todo tipo de discriminação e assédio na sociedade e na mídia”, afirma Mônica.

Segundo o site www.marchadasmulheresnegras.com “o Brasil tem a maior população negra fora da África (aproximadamente 100 milhões de pessoas) e nós, mulheres negras (pretas+ pardas), somos cerca de 49 Milhões, Então, a ideia é viabilizar o deslocamento à Brasília de uma representação do máximo dos 5.565 municípios, com meninas-adolescentes-jovens-adultas-idosas negras”, defende.

“As mulheres negras recebem salários menores, têm as funções mais duras e são discriminadas por serem mulheres e negras”, diz Mônica Custódio, secretária de Promoção da Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

De acordo com Mônica, tanto a questão racial quanto a de gênero estão no contexto da luta de classes, pela qual “a classe trabalhadora luta pela superação do sistema capitalista e a construção de uma sociedade justa e igualitária”. Mas, lembra ela, “a situação da população negra, especialmente as mulheres devem ter um olhar mais específico e aprofundarmos as campanhas por políticas públicas que realcem a necessidade de termos as mesmas oportunidades”, diz.

Para ela, “racismo, machismo e pobreza são sinônimos de desumanidade”. Por isso, ela defende políticas que reforcem a identidade negra já que “somos mais da metade da população e nossa cultura tem traço marcadamente africano”. Por isso, Mônica defende que seja obrigatório em todo o território nacional a aplicação da Lei 10.639, de 2003, que determina o ensino de história e cultura afro-brasileira. A sindicalista defende também a necessidade da presença de mais negros na mídia. Como diz a professora Ildete Batista, “o que fica como belo é o que se aparece na TV, nos livros – inclusive nos materiais didáticos. A gente vê muitas propagandas, livros de histórias infantis em que os personagens são brancos”. Aí, segundo Mônica, “o racismo e a violência são estimulados pelos meios de comunicação”.

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Já o site www.marchadasmulheresnegras.com acentua que “a construção do papel social das mulheres negras é sempre pensada na perspectiva da dependência, da inferioridade e da subalternização, dificultando que nós possamos assumir espaços de poder, de gerência e de decisão, quer seja no mercado de trabalho, quer seja no campo da representação política e social”. Mônica diz que a realização da Marcha das Mulheres Negras transformou-se em nível nacional neste ano justamente para “iniciarmos a construção da mudança desse tipo de mentalidade. O governo federal desde 2003 vem promovendo políticas públicas que ajudam nesse caminho, mas as mentalidades mudam devagar e nós precisamos de todos os meios possíveis para agilizar esse processo”.

Fonte: CEERT

 

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