Segundo semestre de 2015 conta com duas importantes mobilizações do movimento de Mulheres, a Marcha das Margaridas e a Marcha das Mulheres Negras.
“… Somos de todos os novelos
De todo tipo de cabelo
Grandes, miúdas, bem erguidas
Nós que sempre suando
Este país alimentando
Tamos aqui para relembrar
Este país tem que mudar!…“.
O Canto das Margaridas- Loucas de Pedra Lilás
A 20 dias da Marcha das Margaridas, a ser realizada nos dias 11 e 12 de agosto, em Brasília (DF), Verônica Santana, secretária executiva do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR-NE), afirma: “Já estamos marchando!”. Isso porque o processo de mobilização das Margaridas para a Marcha acontece nos estados, nas comunidades rurais, nas cidades, nas organizações, em diversos espaços, e como um processo de formação das mulheres. “Este ano foi todo de preparação desse momento da Marcha, mas a Marcha já acontece”, pontua Verônica.
A Marcha das Margaridas tem um caráter formativo mais pra dentro dos movimentos de mulheres, mas também de pautar o governo, de proposição de políticas públicas. Porque para o movimento de mulheres, mesmo as mulheres que não vão para Brasília, elas estão marchando em suas comunidades na luta diária e através das diversas discussões e formações da qual estão participando. “Queremos que o processo de formação possa chegar ao máximo de companheiras”, reforça a secretária do MMTR-NE.
A Marcha das Margaridas é uma ação estratégica das mulheres do campo, da floresta e das águas, que integra a agenda permanente do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos feministas e de mulheres do Brasil. E este ano prevê a mobilização de 100 mil mulheres. Para saber mais sobre o histórico da Marcha clique aqui. “A Marcha das Margaridas tem uma importância histórica na formação das mulheres, em especial das trabalhadoras rurais. E para o conjunto dos movimentos sociais é um momento de unidade muito forte, de expressão pública da luta das mulheres, um importante ato político de pautar o governo. As organizações da ASA estão participando efetivamente da preparação e mobilização da Marcha nos estados”, pontua Cristina Nascimento, coordenadora da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) pelo estado do Ceará.
No começo deste mês, a Marcha entregou a pauta ao governo federal em dois momentos, ao legislativo e ao executivo, nos dias 02 e 03 de julho, com o objetivo de que com esse tempo o governo possa se articular e levar propostas, além de assumir compromissos com as Margaridas. Neste momento, a organização está centrando forças no processo de mobilização e participação das mulheres. Os momentos de formação continuam acontecendo, inclusive trabalhando com o Caderno de Textos da Marcha, mas outras estratégias locais foram somadas às diversas ações coletivas, como campanhas locais de mobilização de recursos para que mais mulheres possam ir pra Marcha. Acessando a página da Marcha das Margaridas no Facebook é possível como acompanhar e participar das ações de preparação.
“Elaboramos um Manual de Comunicação que é voltado para as mulheres que vão para a Marcha, com a ideia de otimizar e visibilizar as lutas e as articulações locais das mulheres. O manual traz quais são os mecanismos disponíveis, as formas que elas podem tanto disseminar o conteúdo nacional como se articularem e produzirem seu próprio conteúdo. É uma coisa que temos trabalhado bastante de que elas possam colocar ‘por quê sou Margarida?’ e ‘por quê estou em marcha?’”, explica Mayra Medeiros , assessora de comunicação da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), e integrante da equipe da comunicação da Marcha das Margaridas.
Programação – Os dois dias de atividade da Marcha das Margaridas acontecerão na Arena Mané Garrincha, Brasília (DF), que será todo organizado e decorado para o espaço da Marcha. Nesse mesmo espaço será também o alojamento das mulheres. Para se inscrever e participar das atividades da Marcha das Margaridas clique aqui. No primeiro dia as atividades começam no período da tarde. Toda a manhã desse dia é reservada para a chegada e acomodação das delegações de Margaridas que vêm de diversos lugares do país. Na tarde desse mesmo dia acontecerá uma série de atividades: oficinas sobre cada eixo da Marcha, momentos de discussão sobre agroecologia, enfrentamento à violência e uma análise de conjuntura. “Na discussão de enfrentamento da violência contra a mulher serão apresentadas três experiências pra mostrar como as mulheres têm enfrentado a questão da violência a partir de sua auto-organização, para além dos mecanismos de governo. Em muitos lugares o governo não chega e não podemos ficar totalmente desprovidas do enfrentamento à violência, mas também vão estar presentes Unidades Móveis na discussão de como o Estado age nesse enfrentamento”, explica Verônica.
À noite acontecerá a abertura oficial, a partir das 19h, e depois um momento onde as regiões levarão apresentações culturais. Também será realizado um jogo de futebol de mulheres aproveitando o espaço da Arena Mané Garrincha. No dia seguinte, as Margaridas marcharão pela manhã do Mané Garrincha até a Praça dos Três Poderes. À tarde receberão a presidenta Dilma Rousseff. “Acreditamos que podemos avançar e esperamos que o governo assuma alguns compromissos com a nossa pauta”, pontua Verônica.Acesse aqui a pauta de reivindicações da Marcha das Margaridas.
“A Marcha é um momento efervescente de reafirmação da democracia, que reflete sobre o papel das mulheres na democracia no Brasil. Hoje passamos por uma forte onda de conservadorismo, de negação e políticas que já foram conquistadas e a rua é o espaço do povo. Então a Marcha será um momento importante de reafirmação de lutas”, conclui Cristina, da ASA.
Enegrecendo a pauta – No mês de novembro mulheres voltarão a marchar em Brasília. É que acontecerá a Marcha das Mulheres Negras, com o lema “Contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver”. Alguns estados farão marchas estaduais, mas a mobilização para a marcha nacional acontece em todo o país. “A Marcha das Mulheres Negras está sendo articulada desde o ano passado. Aqui na Paraíba a gente tem uma mobilização de vários segmentos de mulheres negras que participam de outros grupos e articulações e construiu o comitê impulsor paraibano da Marcha. Hoje o comitê é composto por 22 organizações, grupos de mulheres e articulações do movimento feminista de uma forma geral”, explica Terlucia Silva, coordenadora da Bamidelê, organização de mulheres negras na Paraíba e membro do comitê impulsor paraibano da Marcha das Mulheres Negras.
Dentro dessa agenda de mobilização, muitos comitês impulsores de luta e resistência da mulher negra contra a opressão de gênero, raça e de classe. O foco é de dar visibilidade à pauta dessas mulheres, pois as mulheres não são uma massa homogênea, nós mulheres negras temos nossas pautas específicas. E essa mulher negra latino-americana e caribenha não é a mulher negra do continente africano, temos história própria e marcas específicas de nossa realidade”, pontua Flávia Clemente, professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A Marcha das Mulheres Negras é mobilizada nacionalmente por diversos movimentos e organizações como Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), Associação das Pastorais Negras (APNs), Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Fórum Nacional de Mulheres Negras, Movimento Negro Unificado (MNU) e União de Negros pela Igualdade (Unegro).
Fonte: ASA Brasil