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A mostra nasceu a partir de uma exposição internacional chamada Rosentrasse (Rua das Rosas), criada pela antropóloga alemã Una Hombrecher, com o apoio da agência Pão para o Mundo (PPM)

Por Susanne Buchweitz, da Cardume(*) / Assessoria de Comunicação da FLD

Os números da violência contra mulheres e meninas são brutais no Brasil e continuam aumentando de forma assustadora. No Atlas da Violência 2019, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) indica que, em 2017, 13 mulheres foram assassinadas a cada dia. Ao todo, 4.936 mulheres foram mortas, o maior número registrado desde 2007. No recorte 2007 a 2017, houve um aumento de 20,7% na taxa nacional de feminicídios. De 2012 a 2017, foi observado um aumento de 1,7% na taxa nacional e um aumento maior ainda no último ano, de 5,4%.

A desigualdade racial é decisiva quando se verifica a proporção de mulheres negras entre as vítimas da violência letal: 66% de todas as mulheres assassinadas no país em 2017. Enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras teve crescimento de 4,5% entre 2007 e 2017, a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9%.

O tema da violência contra mulheres sempre esteve na pauta da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), uma organização da sociedade civil baseada na fé, criada em 2000. Uma das iniciativas da FLD é a Nem Tão Doce Lar, que envolve uma metodologia de intervenção coletiva para a superação da violência familiar. “É uma mostra itinerante que populariza o debate sobre a violência doméstica e familiar na perspectiva da efetivação das políticas públicas, constituição de redes de apoio e empoderamento de grupos de mulheres”, diz o assessor de projetos da FLD, Rogério Oliveira de Aguiar, coordenador do projeto.

A mostra nasceu a partir de uma exposição internacional chamada Rosentrasse (Rua das Rosas), criada pela antropóloga alemã Una Hombrecher, com o apoio da agência Pão para o Mundo (PPM). A proposta inicial, que tinha uma linguagem europeia, foi apresentada em Porto Alegre (RS), em 2006, durante a 9ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI). Esta exposição já estava sob a coordenação da FLD junto com a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e um consórcio de organizações feministas e de atendimento a mulheres em situação de violência. A pedido de PPM, a FLD assumiu a iniciativa, com a criação de uma metodologia que “combina” formação sobre violência doméstica com a exposição. O nome já havia sido trocado – de Rosenstrasse para Nem tão Doce Lar, com enfoque na realidade brasileira. O título faz alusão ao ditado Lar doce Lar, muito comum em casas brasileiras – mas, muitas vezes, irreal.

De acordo com Rogério, em cada cidade, organizações locais assumem a montagem e a articulação com entidades que compõem a rede de cuidados, com o Ministério Público, com comunidades religiosas – cada rede é composta a partir de convites, interesse e atuação no assunto. A FLD promove a formação para as pessoas que vão atuar como acolhedoras ou pessoas interessadas na formação. Desde 2011, foram capacitadas cerca de 2 mil pessoas e realizadas 70 exposições em 13 estados, alcançando milhares de visitantes.

Em novembro e dezembro, a exposição cumpre uma agenda em municípios de quatro estados – Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e Espírito Santo –, vinculada à campanha dos 16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência contra as Mulheres.

Em Teófilo Otoni, Minas Gerais, a programação teve início no dia 18/11, com uma Roda Diálogo com mulheres da economia solidária, ligadas ao Fórum de Economia Solidária Mucuri. No dia 19/11, houve formação com representantes de organizações que integram a rede municipal de apoio, por meio de uma parceria do Internato Rural com a OAB e o Ministério Público Estadual. A exposição esteve aberta nos dias 20 e 21/11.

A partir do dia 23/11, as atividades foram realizadas com a organização Pró Ludus, em Gravatá, Pernambuco. Nesse dia, aconteceu uma roda de diálogo com homens sobre Masculinidade na Bíblia. No dia 24, ocorreu um momento de celebração na Comunidade Luterana de Gravatá (IECLB), com liturgia voltada para a metodologia da Nem Tão Doce Lar. No dia 25/11, uma oficina de formação para acolhedoras e acolhedores. A exposição ficou aberta ao público até o dia 26/11.

Tipos de violências

A violência contra a mulher não se restringe à agressão física, que deixa marcas e hematomas. A violência pode ser:

Religiosa
Restringir a ação, a decisão ou a crença religiosa, usar discursos religiosos para submeter a outra pessoa à condição de inferioridade e passividade diante da violência vivenciada.

Psicológica
Humilhar, desvalorizar, debochar publicamente, destruir a autoestima, distorcer fatos e omitir situações para deixar a vítima em dúvida sobre a sua memória e sanidade.

Moral
Falar sobre a vida íntima do casal para outras pessoas, divulgar fotos íntimas nas redes sociais, difamar, desqualificar e caluniar.

Patrimonial
Controlar dinheiro e bens, roubar ou danificar documentos e objetos pessoais, impedir de trabalhar, impedir de estudar e de ter autonomia financeira.

Sexual
Obrigar a ter relações sexuais contra a sua vontade, impedir o uso de métodos contraceptivos. Não se restringe ao ato sexual em si, mas engloba palavras desrespeitosas, assédio, cantadas e atos libidinosos, que causam constrangimento.

Grupos interessados em levar a mostra Nem Tão Doce Lar para suas cidades devem contatar diretamente a FLD (fld@fld.com.br), que orienta todo o processo, assessora a capacitação de acolhedoras e acolhedores e monitora o desenvolvimento e desdobramento das atividades.

(Foto: Arquivo FLD)

(*)CARDUME – Comunicação em Defesa de Direitos é uma rede que reúne organizações e movimentos da sociedade civil para ações articuladas de comunicação que potencializem a promoção e defesa de direitos e bens comuns.

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