São Paulo – Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, o caso do menino morto em uma perseguição policial após o roubo de um veículo, na semana passada, na zona sul paulistana, aponta mais uma vez para a falta de preparo da parte da policia e para a falência do sistema de proteção social para crianças e adolescentes. “Se eles se tornaram infratores, é porque, antes disso, várias infrações foram cometidas contra eles, desde a negligência por parte das famílias, mas também por estarem sem um apoio adequado das políticas públicas, dos programas sociais, educacionais e de saúde, que poderiam atendê-los”, denuncia.
“O que esperar de uma criança vivendo numa família onde os pais estão presos, e essa criança (vivendo) num contexto de abandono, violência? É necessário todos nós, enquanto sociedade, refletirmos sobre essas situações”, questiona Ariel, que integra o Conselho Estadual de Direitos Humanos. “Nós temos um sistema de proteção social para crianças e adolescentes que não está dando conta de atender todas as necessidades”.
Para Ariel, não há justificativa plausível para a ação dos policiais no caso ocorrido na última quinta-feira (2). “Deveriam ter verificado que se tratavam de crianças”. A Secretaria Estadual de Segurança alega que o menino foi morto em uma troca de tiros com os policiais. O garoto que estava junto com o menino, em novo depoimento que foi acompanhado por Ariel de Castro Alves, afirma que o disparo que resultou na morte do colega foi efetuado com o carro já parado, e sem que tenha havido confronto. A partir dessas informações, o advogado classifica a ação como “execução”.
O advogado comenta mais detalhes sobre o caso em entrevista ao Seu Jornal, da TVT:
Outro caso de violência policial ocorrido um dia depois, na sexta-feira (3) também chocou. Um rapaz foi executado com pelo menos 15 tiros, em um bairro da periferia de São Vicente, na Baixada Santista, litoral de São Paulo. Dois policiais são suspeitos.
Semanas antes, Dangelo Cléber de Almeida Sabino teria entrado em confronto com policiais quando comemorava o título do campeonato paulista vencido pelo Santos. Após ter levado um tiro de borracha, o rapaz teria feito postagem numa rede social atacando os policiais pelo ocorrido.
Para Débora Maria da Silva, coordenadora do Movimento Mães de Maio, que falou à Rádio Brasil Atual, trata-se de uma execução “com requintes de crueldade” e a prática ressalta o mesmo “modus operandi” adotado pela polícia nos Crimes de Maio, quando ocorreram cerca de 500 assassinatos no revide das polícias paulistas contra os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), em 2006. Depoimentos apontam que, naquele momento, algumas das execuções também teriam sido motivadas por vingança da parte dos policiais.
“Esses meninos são perseguidos. A gente vê a coincidência dos fatos, o “mesmo modus operandi dos (chamados) Crimes de Maio. Trata-se de uma cultura do ódio. Policiais preparados para matar, principalmente pobres, negros e periféricos”, afirma Débora.
Fonte: Rede Brasil Atual
Foto: Reprodução – EBC