O surgimento de novos protagonistas na mobilização social e sua articulação através das redes sociais evidenciam mudanças importantes para a América Latina
Redação Abong
O segundo painel do Seminário Internacional – A Sociedade Civil Organizada e o Processo Democrático na América Latina trouxe fala do jornalista e ativista uruguaio Raúl Zibechi por vídeo-conferência sobre o tema “Movimentos Sociais e Organizações da Sociedade Civil nas Lutas pela Transformação Social”.
O ativista afirmou não acreditar na distinção entre movimentos sociais e movimentos políticos. Para ele, os primeiros assim são chamados por uma determinação acadêmica apenas, sendo todos eles movimentos políticos.
Zibechi abordou a conjuntura político-social latino americana da última década, com governos mais progressistas que promovem políticas sociais em maior medida, o que, em sua opinião, fomenta o fenômeno da fragilização dos movimentos sociais à medida que o Estado assume seu papel no cumprimento de algumas medidas sociais. “Os movimentos têm dificuldade para tomar a iniciativa, serem os atores das políticas sociais colocando-se sempre como sujeitos passivos dessas políticas”, analisa.
À luz dos últimos dois ou três anos, o jornalista aponta para o que ele chama de “novos movimentos”, como o Passe Livre – protagonista nas manifestações de junho. “Esses novos movimentos estão se destacando. Esses sujeitos trabalham nas cidades e são de uma geração diferente daqueles que puxaram os movimentos sociais até aqui, como o Movimento Sem Terra, por exemplo. A luta social vai se modificando, logo, vai renovando naturalmente a cultura política”, explica Zibechi.
Para Jorge Balbis, presidente da Asociación Latinoamericana de Organizaciones de Promoción al Desarrollo – (ALOP), é importante, no entanto, atentar-se para o fato de que já não se mobilizam apenas os movimentos sociais de esquerda. Com as redes sociais, junto à maior movimentação política, fica mais evidente também a existência de setores que, por exemplo, apoiam a criminalização dos movimentos.
“Assistimos hoje a muitas mobilizações progressistas, mas esse terreno não é patrimônio exclusivo da esquerda”. Para ele, a tecnologia permite que também o conservadorismo vá às ruas e se manifeste “e isso é um elemento que não víamos desde as ditaduras”. Na maioria da vez, segundo Balbis, essa ação parte de uma classe média desinteressada de demandas populares e preocupada com sua própria segurança e “prosperidade”.
Essa nova mobilização dos setores reacionários cria um intenso campo de disputa, uma vez que as redes tem o poder de convocar milhares de pessoas, contestando decisões políticas atuais, sendo elas favoráveis ou não para as classes oprimidas. Nesse sentido, os meios de comunicação tradicionais mostram-se, para Balbis, pouco ativos, “nem sequer mostrando a legitimidade das mobilizações e suas reivindicações”. Com uma cobertura superficial e limitada da grande mídia, as redes sociais revelam-se importantes espaços de contestação e disputa, sendo essenciais para a formação dessa ”nova cultura política”.