Enquanto países como Japão e China caminham para deixar para trás o uso de combustíveis fósseis, o o Brasil já demonstrou para quem deseja não ser cego por vontade própria quanto ainda é dependente de uma única fonte de energia: o petróleo. Ouça o programa de rádio do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social
Por Ivo Poletto*, do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social
Muita gente costuma elogiar o Japão, destacando qualidades de vida e a rapidez com que são enfrentadas práticas de corrupção, e elogiando sua capacidade de inovações tecnológicas. Mas pouco se tem falado por aqui de um desses avanços: a melhoria constante no uso da energia elétrica para movimentar carros, ônibus, trens. Nada exclusivo desse país, mas nessa semana ficamos sabendo que, por lá, já há mais postos para recarregar baterias do que para vender combustíveis. Seria uma afirmação exagerada? Provavelmente não, porque já faz tempo que se tem noticiado que, com o crescente número de carros elétricos, as pessoas já não percebem quando os carros se aproximam, e isso aumenta o perigo de acidentes.
A China, por outro lado, está mostrando que se pode mudar rapidamente a matriz energética. Ela já é a maior produtora de carros, ônibus e trens elétricos, deixando para trás os Estados Unidos e a Europa, e uma quantidade cada dia maior dessa energia está sendo produzida com os raios solares e com os ventos, criando condições para o fechamento de termelétricas a carvão. A meta é dispensar o carvão e as termelétricas.
Enquanto isso vai avançando por lá, no Oriente, o Brasil, parte do Ocidente e novamente freguês apaixonado pelos Estados Unidos a partir do golpe e de seu ilegítimo Temer, demonstrou para quem deseja não ser cego por vontade própria quanto ainda é dependente de uma única fonte de energia: o petróleo. E um petróleo que o governo teima em vender sem refiná-lo aqui, gerando oportunidades magníficas de lucros para as grandes empresas petroleiras. Nada de ferrovias e de motores elétricos! Nada de energia elétrica produzida com a transformação dos raios do sol! Pelo contrário, repetimos o que interessa às grandes empresas produtoras de carros, ônibus e caminhões: nós temos motores flex, que funcionam com gasolina ou etanol, quando se sabe que são motores ineficientes com os dois tipos de combustível.
Vejam, amigas e amigos: nós teríamos – e teremos, quando houver juízo e vontade política – a possibilidade de produzir quanto precisarmos de energia solar em todas as regiões do país, evitando a falta de tudo sentida com a greve dos caminhoneiros. Mesmo no Sul, em que a insolação é um pouco mais fraca, ela é muito mais positiva do que a melhor da Alemanha, do Japão, da China.
Quando os governantes criarão juízo? Só quando nós exigirmos. E se não respeitarem o voto, nosso lugar de poder é a rua, a praça, o espaço público.
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*Ivo Poletto é sociólogo e membro do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social